Clubes, patrocínios, investidores… Veja as parcerias do futebol brasileiro
Relembre as parcerias endinheiradas entre clubes brasileiros, patrocinadores, fundos de investimentos e afins na última década. Saiba quais deram certo e quais deram errado
Na última terça-feira o Red Bull Brasil e o Bragantino firmaram um acordo que aportará R$ 45 milhões no clube de Bragança Paulista, isso porque a empresa austríaca de energéticos quer figurar sua forte marca na elite do futebol brasileiro e investirá pesado para levar o RB Bragantino para a Série A já em 2020. Mas esse não foi o primeiro caso de parcerias desse tipo no país.
Principalmente na década de 90 e nos anos 2000, na onda do sucesso da Parmalat com o Palmeiras, os clubes passaram a se interessar por acordos de parceira e, por outro lado, empresas e fundos de investimentos começaram a ver no futebol do Brasil uma possível mina de ouro e exposição, outras entraram no jogo por paixão, no entanto nem todas tiveram sucesso e muitas delas deixaram as agremiações com mais problemas financeiros do que quando entraram. Confira algumas dessas histórias na galeria a seguir:
PALMEIRAS/PARMALAT (1992-2000)
Empresa do ramo alimentício dona do Parma da Itália, a Parmalat foi pioneira no sistema de parceria para compra de jogadores. No Brasil, assinou com o Palmeiras em 1992 e em seguida com o Juventude, mas sem o mesmo sucesso do time paulista, que via no acordo um modo de sair de um longo jejum de títulos e foi o que aconteceu.
Para isso foram contratados jogadores como Edmundo, Edílson, Mazinho, Zinho, Roberto Carlos, Rivaldo, Antonio Carlos, Djalminha, entre outros. Uma seleção dos melhores atletas possíveis. O casamento entre as partes rendeu três títulos paulistas (1993, 1994 e 1996), dois campeonatos brasileiros (1993 e 1994), dois torneios Rio-São Paulo (1993 e 2000), , uma Copa dos Campeões, uma Copa Mercosul (1998) e a tão sonhada Copa Libertadores (1999).
O pós-parceria, muito pela incompetência dos dirigentes do clube, foi terrível para o anos anos seguintes, com direito a rebaixamento para a Série B do Brasileirão (2002) e a comemoração amarga de um título da segunda divisão nacional em 2003. Após esse período, com crise financeira e de credibilidade, o Verdão só voltou a conquista um título em 2008, com outra parceria.
PALMEIRAS/TRAFFIC (2008-2010)
Depois de amargar anos e anos de má administração, com a política contestável do "bom e barato", o Palmeiras viu novamente um caminho para voltar aos títulos quando a Traffic, empresa de marketing esportivo, chegou ao clube para selar um acordo de investimento no futebol. Além de ajudar na contratação de jogadores, tinha participação no pagamento dos salários. Um deles foi Diego Souza, e logo no primeiro ano, em 2008, um título paulista foi conquistado, com direito a eliminar o rival São Paulo, nas semifinais.
Era a volta do respeito em relação aos adversários e da auto-estima da torcida. Apesar de ter ficado com uma conquista na primeira temporada, a segunda prometia mais sucesso. O time que teve bom início em todas as competições começou a desandar. As contratações de reforços contestáveis, sem fortalecer o elenco, provocaram a perda de um Brasileirão bem encaminhado, em 2009. No ano seguinte, já com aportes mais modestos, o acordo terminou. Pouco tempo depois, em 2012, o Verdão voltou a sofrer com o rebaixamento.
PALMEIRAS/CREFISA (Desde 2015)
Após mais alguns anos de jejum, com exceção de uma Copa do Brasil em 2012, e problemas financeiros, o Palmeiras ainda se recuperava de um rebaixamento, quando em 2014 por pouco não sofreu mais um. Naquela época, o presidente Paulo Nobre já havia feito empréstimos ao clube para cobrir dívidas e permitir que, nas palavras dele, pudesse "beber água limpa", ou seja, receber outras receitas e tocar o futebol com mais tranquilidade e saúde financeira.
Foi aí que a Crefisa, em 2015, motivada pela paixão de seus donos pelo Verdão, fechou contrato de patrocínio com o clube, que incluiu ajuda na contratação de jogadores e no pagamento de salários. Entre divergências com ex-presidentes, multas da Receita Federal e motivações políticas, o casamento, até aqui, é considerado um sucesso e tem como marco a contratação de Dudu, vencendo a concorrência de Corinthians e São Paulo.
A parceria com a Crefisa ajudou, e muito, o Palmeiras a se transformar, talvez, no maior predador do mercado brasileiro, colocando o clube no topo do cenário brasileiro, resgatando a auto-estima do torcedor e impondo respeito aos rivais. Mas não é só. Até aqui são dois títulos brasileiros (2016 e 2018) e uma Copa do Brasil (2015). Ambos os lados da história não parecem dispostos a romper essa relação que, novamente, busca ganhar tudo em 2019.
CORINTHIANS/EXCEL-ECONÔMICO (1997-1998)
Embarcando na onda do sucesso da Parmalat com o Palmeiras, o banco Excel-Econômico decidiu investir no futebol e escolheu o Corinthians como principal parceiro para ingressar no mercado. Além do patrocínio na camisa, a instituição ajudou na compra de jogadores para fortalecer o elenco e bater de frente com o rival que não parava de investir e montar times fortes. Outros clubes como o América-MG, o Botafogo e o Vitória receberam aportes dos banqueiros.
No Paulistão de 1997, ano do início da parceria, o banco muito um time estrelado com nomes como Túlio, Donizete, Antonio Carlos, Gamarra e André Luiz. Com esses nomes, o Timão levantou o título estadual, o único com a estampa da empresa na camisa, já que em 1998, com enormes dívidas, o Excel foi vendido a uma instituição espanhola, o Banco Bilbao Viscaya, o que colocou um ponto final no casamento. Naquele mesmo ano, os corintianos ainda comemoraram o Campeonato Brasileiro.
CORINTHIANS/HICKS MUSE (1999-2002)
Após o término da parceria com o Excel-Econômico, o Corinthians partiu para outra aventura do tipo ao apostar nos investimentos do fundo norte-americano Hicks, Muse, Tate & Furst, com início no ano de 1999, de olho na disputa do Mundial de Clubes de 2000. A exemplo do acordo anterior, milhões de dólares foram aportados na montagem do time, porém sem estampa na camisa, já que a empresa passou a cuidar da gestão do futebol do clube.
Naquele ano estavam previstos mais de R$ 50 milhões (valor da época) de investimentos que englobaram a compras dos direitos de jogadores como Vampeta, Edílson, Luizão, João Carlos, Nenê, Marcos Senna, Augusto e César Prates, além do empréstimo de Dida junto ao Milan. Uma seleção de atletas que conquistou o Brasileirão de 1999 e o sonhado Mundial de Clubes de 2000.
Apesar de dois importantes títulos e a relevância que o esquadrão teve naquele período, a relação da parceria passou a ficar estremecida pouco tempo depois, quando ambos os lados descumpriram cláusulas contratuais. Para completar, além de ficar sem os investimentos, o Corinthians foi cobrado judicialmente pela Hicks Muse por conta de uma dívida. No mesmo período, a empreso firmou contrato nos mesmos moldes com o Cruzeiro, e teve fim parecido.
CORINTHIANS/MSI (2005/2006)
No fim de 2004, o Corinthians anunciou a assinatura de contrato de parceria com a MSI, liderada pelo russo Boris Berezovsky e representado no Brasil pelo iraniano Kia Joorabchian. Um acordo que, desde o início, causou estranheza, que logo de cara mostrou a que veio, fazendo contratações de impacto mundial para o clube, que passava por má fase administrativa, financeira e esportiva.
Para mostrar força no mercado, a MSI trouxe os badalados argentinos Mascherano e Tevez, sendo que o atacante foi, na época, o jogador mais caro da história do futebol brasileiro. Além deles nomes como Roger, Carlos Alberto, Sebá Domínguez, Gustavo Nery e Nilmar foram trazidos para o elenco que acabou sendo campeão brasileiro de 2005.
No entanto, nos bastidores, a parceria não era saudável, já que o presidente do clube, Alberto Dualib, e Kia não se entendiam. Assim, com muitas desavenças, o acordo foi encerrado em 2006, causando a maior crise da história do clube, que culminou no rebaixamento para a Série B, em 2007, e uma enorme dívida financeira para o clube, calculada em mais de R$ 100 milhões.
FLUMINENSE/UNIMED (1999-2014)
Em meio ao caos do Fluminense, em 1999, quando o clube chegou a cair para a Série C do Brasileirão, o acordo com a Unimed começou a ser traçado, porém com pequenas quantias de patrocínio, basicamente em função do presidente da empresa, Celso Barros, torcedor fanático do tricolor carioca. Era o início de uma longa, vitoriosa e apaixonada parceria.
Responsável pela contratação de grandes nomes como Romário, Fred e Deco, a empresa ajudava o clube tanto adquirindo os direitos econômicos dos atletas, quanto no pagamento dos salários, além, é claro, do patrocínio no uniforme. Todo esse investimento trouxe resultados esportivos relevantes como uma Copa do Brasil, em 2017, dois Campeonatos Brasileiros (2010 e 2012) e finais da Sul-Americana (2009) e da Libertadores (2008).
No entanto, atritos entre dirigentes e a empresa, sempre por conta de motivações políticas e interferências no campo de jogo, acabaram minando a parceira pouco a pouco. Os investimentos passaram a ficar menores, as renovações contratuais ficaram mais complicadas, até que em 2014 a relação terminou de vez. Algo que até hoje trás problemas financeiros ao Tricolor.
FLAMENGO E GRÊMIO/ISL (1999-2001)
Na esteira da Hicks Muse com o Corinthians, a ISL, empresa suíça de marketing esportivo, buscou o Grêmio e o Flamengo para firmar parceira na compra de jogadores e investimentos nos departamentos de futebol dos clubes. Ambos montaram times com nomes estrelados, porém apenas os cariocas levantaram taça de campeonato estadual no curto período de pouco mais de um ano.
O Fla trouxe nomes como Vampeta, Alex, Denílson, Edílson e Petkovic, já o Tricolor gaúcho contratou Zinho e Paulo Nunes, do Palmeiras, e os argentinos Amato e Astrada. Os investimentos, que pareciam vir de uma mina de dinheiro inesgotável, cessaram e a empresa declarou falência. Para completar, os suíços repassaram as dívidas aos clubes brasileiros, que se afundaram em um caos financeiro causando, inclusive, o rebaixamento gremista em 2004.
VASCO/NATIONSBANK (1998-2001)
Após o título do Brasileirão de 1997, o Vasco, de olho na conquista da Libertadores do ano seguinte, firmou contrato com o banco americano NationsBank, que exploraria a imagem do clube pelo período dez anos, algo que chegou a ser alterado antes de o acordo ser rompido. Assim como os outros modelos citados acima, houve um grande aporte financeiro no futebol, que bancava contratações e salários de jogadores.
No período, os vascaínos levantaram importantes troféus como o Campeonato Carioca (1998), a Libertadores (1998), o Rio-São Paulo (1999) o Campeonato Brasileiro (2000) e a Copa Mercosul (2000), além do vice-campeonato no Mundial de Clubes de 2000. As peças contratadas trouxeram resultado e colocaram o Vasco no patamar de outros grandes do país.
Apesar do sucesso esportivo, nos bastidores os dirigentes do banco mostravam insatisfação quanto aos salários pagos aos atletas olímpicos, uma vez que os investimentos também eram direcionados a outros esportes. Em 2001, a parceria chegou ao fim, deixando no clube uma grande dívida, inclusive com jogadores, que refletiu no orçamento vascaíno por muitos anos.