Arbitragem na final da Libertadores reabre discussões sobre uso de ‘VAR’
Ex-árbitros apontam falta de comunicação entre árbitro e equipe de arbitragem de vídeo no pênalti ignorado sobre gremista Jael. Alerta é sobre desajustes no 'VAR'
O debate em torno da arbitragem voltou a ficar além das quatro linhas na Copa Libertadores. Na reta final da vitória por 1 a 0 do Grêmio sobre o Lanús (ARG), o árbitro Júlio Bascuñan (CHI) ignorou um pênalti de Alejandro Silva sobre Jael, mesmo contando com o auxílio do árbitro de vídeo. Ex-árbitros apontaram que o papel do "VAR" (Video Assistant Referee) tem de ser bem mais incisivo nos lances claros.
Comentarista da ESPN, Sálvio Spinola detalhou, ao L!, quem deve tomar a iniciativa para solicitar a análise de um lance com a ajuda de vídeo:
- A via é de duas mãos. O árbitro poderia solicitar, ou o árbitro de vídeo, e poderia até pedir a revisão do lance.
O ex-árbitro contou que esta postura acontece mesmo se o árbitro de campo não tiver acompanhado a jogada vista como crucial:
- Mesmo se, no gramado, o árbitro estiver com seu campo de visão voltado para outro lado, é este o caminho. Foi, por exemplo, o que ocorreu no pênalti marcado a favor do Lanús na semifinal.
FALTA DE COMUNICAÇÃO, OMISSÃO: EX-ÁRBITROS OPINAM SOBRE JOGO
Comentarista de arbitragem da Rede Globo, Leonardo Gaciba apontou como o árbitro de vídeo poderia contribuir na falta sobre Jael:
- Em casos como este, de uma carga ilegal fora do campo de visão do árbitro, cabe ao árbitro de vídeo dizer que houve uma penalidade clara em outro local. Ao ficar a par da informação em campo, o árbitro pode até assinalar logo o pênalti, confiando no julgamento da sua equipe de arbitragem que está no "VAR" - afirmou, ao LANCE!.
O ex-árbitro detalhou em quais lances o uso do "VAR" pode ajudar:
- Não só em lances indiscutíveis, como pênalti, mas também em cartões. Ontem (quarta-feira), houve uma disputa de bola na qual o Geromel deu uma entrada muito dura. O árbitro de vídeo tinha de alertar que o lance era passível de vermelho. A prioridade não é nem a rapidez, mas que a marcação esteja correta.
Comentarista da RBS TV, Márcio Chagas da Silva questionou a falta de comunicação:
- O erro maior foi do árbitro, que estava mal posicionado na jogada na área. Mas o árbitro de vídeo não podia se omitir, e alertar que houve o pênalti a favor do Grêmio. Ficou visível a falta de comunicação entre o árbitro em campo e a equipe de arbitragem que estava no vídeo - disse, ao L!.
O ex-árbitro apontou como deve ser o procedimento em lances como este:
- O árbitro de vídeo busca sanar erros claros, tanto de pênaltis, quanto de "gol ou não gol", erro de cartão, mas a decisão final tem de ser do árbitro. Após fazer o gesto de uma televisão,o árbitro pode rever em campo a jogada. Mesmo que o lance estivesse fora do campo visual, o árbitro que está em campo pode confiar no árbitro de vídeo. Trata-se de uma equipe qualificada para partidas de grande porte.
USO DO "VAR" NA RETA FINAL DA LIBERTADORES É QUESTIONADO
A opção da Conmebol por iniciar o recurso do "VAR" logo nas fases decisivas das competições sul-americanas ainda rende críticas entre comentaristas de arbitragens.
Gaciba afirmou que o pênalti em Jael deixa clara a necessidade de dar mais tempo para ajustar a inserção do árbitro de vídeo no futebol:
- A gente vê que ainda há muito a trabalhar para aprimorar o uso de árbitro de vídeo. Já aconteceram oito mudanças desde a criação do VAR, e nesta reta final de Libertadores, ele de novo não foi bem usado.
O ex-árbitro recordou que não é o primeiro erro em uma competição sul-americana:
- Um erro de arbitragem na semifinal da Copa Libertadores causou a mudança do finalista da competição (um toque de mão não marcado para o River Plate na partida em que o Lanús, ao vencer por 4 a 2, se classificou), e no primeiro jogo da decisão tem um pênalti não marcado. Dois erros em três partidas! Preocupa como será o uso do árbitro de vídeo na Copa do Mundo.
Márcio Chagas da Silva também questionou o início precoce do recurso tecnológico em uma competição sul-americana:
- Foi um equívoco lançar o árbitro de vídeo em uma fase decisiva de Libertadores. Logo na semifinal, um pênalti não foi marcado a favor do River Plate diante do Lanús. Está evidente que ainda faltam ajustes.
Embora veja a tecnologia com bons olhos, Sálvio Spinola também trouxe questionamentos:
- Continuo vendo como solução o uso do VAR, mas acho que não está bem trabalhado. Falta uma mudança de mentalidade na arbitragem.