Ídolo do Grêmio, Danrlei sonha com fim da fila e quer ‘volta dos anos 90’
Goleiro da campanha da Copa do Brasil-2001 vibrou com iminente fim do jejum, que já dura 15 anos, e não escondeu satisfação pela má fase do rival: 'Final de ano pode ser perfeito'
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A expectativa paira acima da torcida do Grêmio. Afinal, a equipe está a um passo de sair de erguer uma taça que não ergue há 15 anos. Nesta quarta-feira, às 21h45 (de Brasília), o Tricolor Gaúcho recebe o Atlético-MG na Arena para o segundo jogo da decisão da Copa do Brasil, com a vantagem de ter vencido a ida por 3 a 1 no Mineirão. Ídolo gremista e goleiro da campanha do último título nacional do clube, em 2001, Danrlei mal pode esperar para ver seu time do coração ser campeão novamente.
- Eu sou gremista, nasci gremista, sou identificado com o clube e sofri tanto quanto qualquer outro torcedor com o jejum. Mesmo estando longe, torci para que o Grêmio voltasse a ganhar. É um momento de euforia para mim. Quero que as coisas voltem ao normal, como sempre foi nos anos 90, com o Grêmio à frente, sendo campeão e ganhando títulos - disse o ex-goleiro e atual deputado federal (PSD-RS), ao LANCE!.
O ídolo tem uma considerável coleção de taças com a camisa do Grêmio. Prata da casa, foi revelado em 1993 - ano em que o time voltou para a elite após passar um ano na Série B - e ficou dez anos no time profissional, antes de rumar para o Fluminense, em 2004 - ano em que o time gaúcho acabou rebaixado. No período, foi pentacampeão gaúcho (1993, 1995, 1996, 1999 e 2001), tricampeão da Copa do Brasil (1994, 1997 e 2001), campeão brasileiro (1996), da Recopa (1996) e da Libertadores (1995). A Copa do Brasil de 2001, no entanto, ocupa lugar especial na memória do goleiro.
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- Olha, foi importante. Já era meu terceiro na Copa do Brasil, mas o Grêmio era diferente. Ganhou tudo o que podia naquela década e, de repente, teve um hiato, entre 1998 e 2001. Aquele jejum de três anos já era suficiente para começarem a nos pressionar - lembra Danrlei.
- O time tinha mudado, foi remodelado, saíram atletas que haviam sido vencedores durante toda a década de 90. Aquele título de 2001 mostrou que aquele grupo, comigo, Roger Machado, Luís Mário, Zinho, Marcelinho Paraíba... tinha vindo para ganhar. Mostrou que o Grêmio continuaria a ganhar títulos, mesmo com a mudança e a saía dos multicampeões - acrescentou.
Não foi o que aconteceu. 2001 foi o último dos "anos de glória" do Grêmio, que passou a última década e meia na fila e viu o arquirrival Internacional faturar duas edições da Copa Libertadores e uma do Mundial. De acordo com Danrlei, houve erros de estratégia do clube.
- Acabou sendo só aquele título. Houve uma mudança drástica no clube, até mesmo na forma de pensar. Saíram todos os atletas que tinham sido vencedores, como Roger e eu, todos que tinham ganhado títulos. A diretoria mudou totalmente a visão e o pensamento do clube sobre como fazer futebol. Deu no que deu, e o time acabou rebaixado em 2004 - avaliou Danrlei, que vê semelhanças entre a equipe comandada por Renato Portaluppi e aquela comandada por Tite em 2001.
- As duas equipes eram muito bem montadas, taticamente muito boas. Isso fez com que jogos se tornassem não mais fáceis, mas menos difíceis. Tite já tinha conhecimento muito grande, já se mostrava acima da média. Inteligentemente, Renato deu continuidade ao trabalho de Roger como técnico. Manteve uma equipe bem montada, que defensivamente sofria poucos gols. Foi a junção dos dois trabalhos que ajudou o Grêmio chegar aonde chegou. Cada um, dentro do que mais lhe é peculiar, fez o time do Grêmio voltar a ser vencedor - elogiou.
Por fim, Danrlei não esconde a alegria pelo que chama de "retorno aos anos 90". Além do iminente fim da fila do lado azul de Porto Alegre, há o risco de terminar o ano campeão com o maior rival sendo rebaixado para a segunda divisão pela primeira vez na história. A uma rodada do fim, o time vermelho está em 17º lugar, com 42 pontos conquistados.
- Na verdade, o que doeu mesmo nos últimos 15 anos foi não ver o Grêmio ganhando. Nunca me preocupei muito com as conquistas do "outro lado". Doía não ver o Grêmio ter força para chegar às finais, disputar títulos, é o que realmente me deixava mais agoniado, digamos. Não me importava com o Inter, porque cada clube faz sua história. Agora, se for rebaixado, este pode se tornar um ano perfeito para a nação azul - completou o ex-jogador.
Bate-bola com Danrlei, ex-goleiro do Grêmio:
'O Grêmio merece chegar onde chegou e vai ser campeão'
O que acha do trabalho dos técnicos Roger Machado e Renato Portaluppi ao longo da temporada?
Roger montou uma equipe bem feita, bem montada taticamente, que defensivamente sofre poucos gols. Aí teve o episódio da baixa grande que acabou culminando na troca do treinador. Inteligentemente, Renato manteve a fórmula e a base, e por já ter trabalhado com atletas do clube que conhece tão bem, fez apenas uma ou duas mudanças de nomes, mudou atletas de posição um pouco. Deixou os atletas mais à vontade. Enfim, Renato pegou uma equipe bem montada e deu ainda mais equilíbrio a ela. E todos sabem que ele é um cara importante para o grupo. Roger tem um jeito diferente de trabalhar, tático mesmo, mais frio, enquanto Renato tem aquele jeitão dele, um cara um pouco mais aberto com essa questão. A junção dos dois trabalhos trouxe ao Grêmio a possibilidade de ir à final. Só com Renato ou só com Roger, não chegaria. Foi a junção dos dois que fez o Grêmio chegar onde chegou. Cada um fez uma parte dentro do que mais lhe é peculiar e fez o time do Grêmio ser vencedor.
Que mudanças são essas que Renato fez?
Reposicionou Wallace, deixou ele mais centralizado. Douglas está com mais disposição, mas pode ser também por causa das fases decisivas da Copa do Brasil. Atletas experientes crescem nessas horas. A entrada do Ramiro no lugar do Giuliano, encaixou certinho, segurou o Marcelo Oliveira mais atrás, marcando, sem ir tanto à frente. Enfim, mexeu no time. E o Grêmio, sabendo da importância que tem ganhar um título após 15 anos de jejum, trabalhou muito. O próprio Luan cresceu, foi o jogador mais importante do time em todos os jogos do torneio. O Grêmio merece chegar onde chegou e vai ser campeão.
Como você avalia o trabalho de Marcelo Grohe na meta gremista?
Ele é merecedor desse título. Lutou muito, teve paciência de esperar o momento dele. Ele já estava pronto quando o Grêmio contratou o Dida (2013). Aquele juá era o momento dele e ele teve tranquilidade e experiência de esperar. Há uma pressão muito grande no Grêmio por essa falta de títulos. Por tudo isso que ele passou, junto com outros atletas da casa, merece esse título. E, como atleta, nem preciso falar. Está demonstrando a cada jogo, é goleiro de Seleção e isso juá o coloca acima da média.
Você irá para o jogo em Porto Alegre?
Não, vou ficar em Brasília. Meu filho estará lá para me representar. O nome dele é João Victor, tem 13 anos e será sua primeira chance de ver um título do clube. Ele está ansioso demais com isso, é tão gremista quanto eu. Como conselheiro, eu ganhei só um ingresso e resolvi deixar para ele, dar esse presente para que ele visse um título do Grêmio pela primeira vez, já que eu já tive a oportunidade de ver muitos. Vai ser inesquecível.
Algum palpite para o jogo desta quarta?
Qualquer resultado que faça o Grêmio ser campeão. Não gosto de dar palpite, é superstição, então só analiso. Penso que o Grêmio tem 95% de chance de ser campeão. Só não falo 100% porque, no futebol, tudo pode acontecer.
Você falou em "fim de ano perfeito" para a nação azul. Infelizmente, o que poderia ser um fim de ano perfeito será marcado pelo acidente da Chapecoense na Colômbia, não?
Essa questão da Chapecoense vai doer muito para todos que participam e vivem o futebol. Espero que as pessoas e a imprensa continuem lembrando, fazendo orações e homenagens às vítimas e familiares. Não dá para colocar essa questão no meio da rivalidade ou questões do futebol, está muito acima disso, muito viva para quem é do meio. A tragédia transcende qualquer questão de rivalidade ou clubística que possa existir no mundo. É uma dor que todo atleta, ex-atleta, jornalista, enfim, pessoa que vive no meio do futebol vai sentir para sempre. É algo em separado do futebol, do jogo em si.
O que você pensa das declarações e atitudes da diretoria do Inter sobre a luta contra o rebaixamento em meio ao luto pela tragédia?
Foram infelizes. Uma infelicidade tão grande que é difícil de perdoar. Quem somos nós para perdoar ou não? Mas, achei inaceitável. Não tem como colocar no mesmo patamar luta contra o rebaixamento e uma tragédia deste tamanho no futebol. É inaceitável. Se fosse uma só vida, já seria inaceitável. Futebol é um esporte, um jogo, e ponto. Não podemos achar que isso (luta contra o rebaixamento) possa ser tão importante quanto uma vida. Jamais será.
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