Líder e mecenas: o papel de Fumagalli na reconstrução do Guarani
Bugre abre as quartas de final da Série C contra o ASA neste sábado, às 19h. Se passar, volta à segunda divisão após quatro anos. LANCE! mostra o papel de Fumagol na ascensão
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Dono de uma camisa repleta de tradição e história, o Guarani passou por maus bocados nos últimos anos. De vice-campeão paulista em 2012, quando perdeu para o Santos de Neymar e Ganso, a um time assombrado pelas chances de rebaixamento à Série D em 2014, o Bugre sofreu com desmanches e erros de gestão e ficou perto de perder seu maior bem, o estádio Brinco de Ouro. Salários atrasados e debandada de atletas agravaram a crise. Em meio ao caos, coube a Fugamalli, capitão e o maior ídolo da história recente do campeão brasileiro de 1978, ajudar a manter as coisas nos eixos para reerguer a equipe.
– Atravessamos meses de muito sofrimento na Série C de 2014. O clube devia ao elenco, e tinha gente que não tinha nem como pagar as próprias contas. O time estava mal no campeonato e os atletas queriam fazer greve. Cheguei a pensar em abandonar tudo, porque a cobrança era muito forte, ainda mais para mim, que era o capitão. Mas achei melhor tentar acalmar o grupo. Falei para a gente focar no próximo jogo para tirar o Guarani do sufoco. Se não pagassem depois disso, eu estaria junto com eles – contou o atleta ao LANCE!.
Os companheiros ouviram Fumagalli, o Bugre venceu o Juventude por 1 a 0 e saiu da zona de rebaixamento. Porém o então presidente Álvaro Negrão não conseguiu cumprir sua parte do acordo.
– Foi combinado de pagar o salário depois do jogo. Ficamos cinco horas no vestiário, até ele me ligar e dizer que estava renunciando. Muitos abandonaram o clube ali mesmo, foi uma confusão. Eu pensei: "E agora? O que faremos?". Nossa condição de trabalho era mínima. Foi o momento mais difícil da minha carreira. Até então, eu acreditava que ele ia conseguir honrar com os compromissos - relembrou o jogador.
Chateado pela falta de perspectiva, Fumagalli diz que considerou seriamente abandonar o Bugre. Foi para casa refletir sobre o futuro. Na manhã seguinte, o telefone tocou com uma boa notícia: o novo presidente, Horley Senna, fechara uma parceria com a investidora Magnum. Era o início da volta por cima.
Aos poucos, a nova diretoria acertou as contas e reestruturou o clube. O time campineiro conseguiu evitar o rebaixamento para a Série D e chegou à última rodada com chances de avançar às quartas de final. Contudo, os resultados paralelos atrasaram o sonho bugrino.
- Por tudo o que aconteceu na sequência do campeonato, não ter caído naquele ano, naquele momento, já foi uma vitória. Eu vi uma situação desesperadora mesmo aqui dentro, e ainda bem que não aconteceu o pior.
O time voltou a bater na trave do acesso em 2015, tanto no âmbito estadual quanto nacional. No início deste ano, brigou para voltar à elite do Paulistão. A três rodadas do fim da primeira fase, contudo, o técnico Pintado deixou o Guarani para assumir um cargo de auxiliar no São Paulo. Nova decepção, mas que deu margem para a chegada do técnico Marcelo Chamusca.
Chamusca foi contratado em abril. Para aceitar o cargo, exigiu mudanças na estrutura do clube, principalmente nos setores de fisiologia, fisioterapia e análise de desempenho. Junto ao executivo de futebol Rodrigo Pastana e o coordenador Marcus Vinícius Beck Lima, montou um time consistente, que teve a melhor campanha da primeira fase e avançou às quartas com tranquilidade.
- Chamusca lutou por melhorias desde o começo e conseguiu o mínimo de condição para a gente fazer nosso trabalho e render. O gramado chegou a ficar muito ruim aqui. Nosso time é um muito técnico, coloca a bola no chão, e o gramado ruim atrapalhava. Ele reclamou e começaram a investir nisso. É mérito dele, e são detalhes como esses que fazem toda a diferença - avaliou o jogador, satisfeito por estar sendo cobrado apenas por resultados futebolísticos, e não mais por problemas relacionados à gestão do clube.
Dentro de campo, é Fumagalli quem leva o crédito. Aos 38 anos, o atacante é o artilheiro do time na primeira fase, com seis gols, e o sexto maior artilheiro da história do Guarani, com 78 gols em 247 partidas. Ele teve duas passagens no clube: a primeira nos anos 2000 e 2001, quando estourou para o futebol, e a segunda que começou no início de 2012.
Neste sábado, às 19h (de Brasília), o Guarani abre as quartas de final contra o ASA, em Arapiraca. O jogo de volta será no próximo sábado, no Brinco de Ouro. Se passar, o Bugre voltará à segunda divisão após quatro anos. Desta vez, a despeito das turbulências passadas, ele confia que o time aproveitará a oportunidade de dar um importante passo rumo ao retorno à elite nacional.
- Estou mais aliviado porque a gente classificou com antecedência, manteve consistência forte desde o início, com uma campanha incontestável até aqui. Chamusca conseguiu dar entrosamento e padrão tático à equipe. Temos um time forte, entrosado, e uma comissão técnica competente. A gente sabe que não será fácil, mas está tudo conspirando a nosso favor - projetou.
Além de brindar os companheiros, a comissão e a diretoria com o feito, Fumagol tem uma preocupação maior: dar alegrias ao torcedor bugrino, já que o arquirrival, Ponte Preta, disputa a Série A do Brasileirão.
- A torcida está muito sofrida nos últimos tempos. O maior rival está na elite, isso machuca o torcedor e me machuca também. Não nasci bugrino, mas vou morrer bugrino. Criei muita afinidade com o clube. Está chegando a hora de voltar a dar alegria para o torcedor. O Guarani vai voltar a ser grande, a torcida está jogando junto com o time. Nunca estivemos tão preparados - cravou Fumagol, cujo nome está gravado não apenas na história do Guarani, mas no coração dos bugrinos que esperam por dias melhores.
Bate-Bola com Fumagalli, artilheiro do Guarani
'Não abandonei o clube no momento mais difícil'
Por que você decidiu ficar, apesar dos momentos turbulentos?
O Guarani tem tradição. É o único time do interior a ser campeão brasileiro (1978), a camisa pesa muito. Joguei muitos anos aqui, é o time por onde mais fiz gols, me identifiquei muito com o clube e a torcida. É minha segunda casa. E o legal é que a torcida me abraçou, porque a maioria sai nos momentos difíceis e eu fiquei. Eu não abandonei o clube no momento mais difícil. Tive propostas para sair, mas optei por continuar e o torcedor tem essa gratidão comigo.
Você tem 38 anos e é artilheiro. Qual o segredo da longevidade?
Sempre fui muito profissional. Treino bem, cuido da alimentação, enfim, sempre me dediquei muito porque amo o que faço. Agora colho os frutos. Ainda tenho o plano de jogar por pelo menos um ano. Quero levar o Guarani à Série A do Paulista e do Brasileiro para encerrar a carreira com chave de ouro.
Quais as razões para acreditar no acesso desta vez?
Vejo muitas semelhanças com o time de 2012, finalista do Paulista, como o comprometimento com a camisa, com a causa, e a vibração. Trabalhamos duro e o vestiário está em harmonia, sem conversa fiada. Todo mundo se dedica, busca seu espaço com lealdade. Espero ter um final feliz.
O Guarani evitou a queda à Série D, diferentemente da Portuguesa. Acredita que a Lusa conseguirá se reerguer?
A gente fica chateado porque é uma equipe também de tradição, que há três ou quatro anos estava disputando a Série A do Campeonato Brasileiro. Não sei qual é a situação da Portuguesa hoje, qual é a dívida, a condição, mas a gente espera que eles possam se reerguer. Equipes como Guarani e Portuguesa, merecem estar na elite. Estão pagando preço fruto de más administrações, como foi aqui também. Espero que a Portuguesa possa se reerguer também, como a gente está começando a fazer.
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