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Delegações ‘de um atleta só’ superam dramas para competirem no Rio

Jogos Paralímpicos têm 38 países com competidores únicos. Corredor perdeu a mãe durante o evento, mas não abriu mão de disputar a Paralimpíada

Ivan Espinosa é o único representante das Ilhas Virgens
 (Foto: Igor Siqueira)

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Imagine como seria ter que, sozinho, carregar nos ombros a atenção e as esperanças de um país inteiro nos Jogos Paralímpicos. Não há companheiros de equipe, ninguém para dividir a responsabilidade. Para 38 atletas, essa é a realidade na Paralimpíada do Rio. Eles formam o bloco de países com apenas um competidor.

Como pensar em medalhas é praticamente inalcançável para a maioria, a maior vitória desses paralímpicos solitários é simplesmente estar aqui. Pisar em solo carioca, entrar na atmosfera das arenas e colocar, ainda que seja em só uma prova, o nome do país nos registros.

Os obstáculos podem surgir de última hora, mas eles viram a oportunidade de colocar o termo superação em prática. Guatemala tem um exemplo no atletismo. É Oscar Raxon Siqueij, de 35 anos, deficiente visual que correu neste domingo a prova dos 1500m T11. A euforia por ter representado o país foi um alento diante de um drama pessoal.

– Na última semana enterraram a minha mãe. Ela morreu na quinta-feira e foi enterrada na sexta. Não pude estar lá. Corri por ela. É triste demais. Ela me deu muitas coisas. Sinto orgulho pelo meu país, por minha Guatemala. Estou aqui no Brasil porque há coisas amargas na vida, mas tem um pouco de alegria – afirmou Oscar.

O atletismo é um terreno fértil para casos similares de presença solitária na Paralimpíada. Nesses casos, uma consequência é lógica. Não há a menor dúvida sobre quem será o porta-bandeira nas cerimônias de abertura e encerramento. O palestino Hussan Azzam, do arremesso de peso, foi deles. Há ainda a chance de fazer história sendo o primeiro representante do país na história dos Jogos, como é o caso do nadador Jesus Marchena Acevedo, de Aruba.

As Ilhas Virgens (EUA) também têm seu representante solitário no atletismo. Ivan Espinosa competiu neste domingo nos 1500m T37.

– Gostaria que houvesse mais atletas. Mas foi uma experiência maravilhosa competir com esses caras de tanto calibre. Somos uma pequena ilha, comporta por cerca de 100 mil pessoas. Colocar as pessoas em condições de competir é muito complicado – comentou Ivan, de 34 anos.

Passados 120 anos desde a primeira Olimpíada da era moderna, esses paratletas solitários deixariam o Barão Pierre de Coubertin orgulhoso. Afinal, eles sintetizam o lema “o importante é competir”. Ainda que seja sozinho.

Carinho da arquibancada mesmo com o último lugar

O cansaço foi nítido. Dar entrevista? Só sentado no chão. Foi assim que Ivan Espinosa conversou com o LANCE!. Ele estava exausto. E mesmo dando o máximo de si, chegou em último nos 1500m T37, 55 segundos atrás do campeão olímpico, o irlandês Michael Mckillop.

– Eu tive grande apoio da torcida, uma grande amostra de espírito esportivo. Mesmo se você chega em último, as pessoas torcem por você. Eles correram rápido demais, estava fora da minha zona de conforto, eu aguentei o quanto pude – disse Espinosa, entre um gole de água e uma respirada ofegante.

Oscar Raxon também foi o último nos 1500m T11. Ao menos não foi desqualificado, como outros cinco adversários. O guatemalteco ficou 53 segundos atrás do dono do melhor tempo, o queniano Samwel Kimani.

– Vivemos uma vida pobre, não temos muita oportunidades, ginásios. Temos que compensar com a força do corpo para, quem sabe, conseguir lugares melhores. Não temos empresas para isso – comentou o corredor.

ALGUNS EXEMPLOS DE 'SOLITÁRIOS'

- Camaronês Christian Gobe, de 39 anos, do arremesso de peso, poderia ter competido pela Suíça em Londres-2012, já que morava no país europeu desde 2000, mas optou por defender o país natal.

- Haitiano solitário, Jean Indris Santerre, do arremesso de peso, perdeu a perna após ficar ferido no terremoto que abalou o país, em 2010. Hoje, ele tem 45 anos.

- Vladyslava Kravchenko, de 25 anos, compete por Malta, mas é ucraniana de nascimento. Ela teve uma lesão na medula espinhal após ser atingida na queda de uma estrutura de iluminação montada em uma festa, em 2008.

- Taonere Banda, do Malawi e deficiente visual, compete na prova dos 1500m T13. Hoje com 20 anos, ela teria disputado os Jogos de Londres-2012 se a delegação do país não tivesse desistido de última hora por causa da falta de recursos financeiros.

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