Casos de racismo na Espanha: especialistas avaliam impactos nos negócios da LaLiga
LANCE! entrevista atores do mercado para entender como episódios podem afetar lado financeiro
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Os múltiplos casos de racismo e a impunidade podem impactar negativamente os negócios da LaLiga nos próximos anos. É o que garante especialistas do mercado ouvidos pelo LANCE!.
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O último episódio racista aconteceu no domingo, quando parte da torcida do Valencia, no estádio Mestalla, proferiu gritos de “macaco” para Vinícius Júnior. Esta é a décima denúncia de injúrias raciais feita pelo brasileiro desde 2021.
+ Apenas dois patrocinadores da LaLiga se manifestam após caso de racismo contra Vini Jr
Dos nove processos anteriores abertos pela LaLiga, três foram arquivados e os demais seguem em andamento na justiça. Apesar da liga criar campanhas contra o racismo, nenhum clube teve qualquer punição esportiva e os episódios parecem não ter fim.
Sócio-diretor da Wolff Sports, empresa especializada na captação de marcas junto aos clubes, atletas, entidades, Fábio Wolff acredita que a reincidência dos casos afeta diretamente no valor da LaLiga no mercado.
- Quando uma empresa decide investir no esporte, ela busca se associar com os atributos inerentes ao esporte: paixão, emoção, alegria, competição. Na minha opinião, a imagem da LaLiga está perdendo valor perante o mercado, uma vez que não está sabendo combater, de forma eficaz, os inúmeros atos racistas presentes no Campeonato Espanhol, a grande maioria contra o Vini Jr - disse Wolff.
Para Felipe Gomiero, especialista em marketing esportivo, os episódios de racismo trazem uma série de riscos para os negócios do Campeonato Espanhol.
- A associação de imagem da LaLiga ao racismo pode gerar quebras de contrato, afastar marcas de futuras negociações, bem como jogadores e grandes astros que possam estar negociando com clubes como Real Madrid e Barcelona. O efeito cascata pode ser imediato com a diminuição do interesse do público em ir aos jogos e dos canais de mídia em transmitir um torneio que não terá a mesma audiência.
Todos os possíveis impactos citados acima resultariam em uma queda de faturamento da LaLiga. Na temporada 2021/22, a liga teve um volume de negócios superior a € 1,8 bilhão (R$ 9,6 bilhões), divididos em receitas de direitos de transmissão e patrocínios. É a segunda maior liga da Europa em termos financeiros, apenas atrás da Premier League. O cenário pode mudar nos próximos anos caso não haja solução dos problemas.
- Esse comportamento da torcida não começou ontem. Há uma normalização doentia da situação, confirmada pelas palavras do principal executivo da La Liga e da imprensa local, que trataram o assunto da pior forma possível: culpando a vítima. Repercussão negativa, intensa e global, pode ter vários efeitos no que diz respeito ao produto. Um dos mais relevantes é que grandes jogadores podem preferir outros mercados para atuar, até porque também se preocupam com o dia-a-dia de suas famílias. No médio prazo isso interfere na qualidade do produto, sua audiência e valor de mercado - disse Armênio Neto, especialista em novos negócios da indústria do esporte, ao L!.
Patrocinadores também podem ter imagem afetada
Assim como a LaLiga, os patrocinadores do torneio também podem ter prejuízos com a reincidência de episódios de racismo. Desde domingo, as marcas sofrem pressão nas redes sociais e chegaram a ser comparadas à organização supremacista branca Ku Klux Klan. Um exemplo de desgaste da imagem com torcedores de futebol.
Dos 11 parceiros comerciais da LaLiga, apenas dois se manifestaram desde o episódio de domingo: Santander e Puma. O banco espanhol, patrocinador máster até o fim da temporada, reforçou o repúdio ao racismo, mas optou por não citar especificamente o caso de Vinícius Júnior.
As outras nove empresas - EA Sports, Microsoft, Mahou, Sorare, BKT, Socios.com, Gol-Ball, Golazos e Panini - não se posicionaram até o momento desta publicação. Renê Salviano, CEO da Heatmap, empresa especializada em marketing e patrocínio esportivo, afirma que a omissão pode trazer danos à imagem das marcas.
- Racismo é um tema muito sensível e precisa ser debatido a fundo. A maioria das grandes marcas hoje em dia tem um discurso forte sobre o tema, mas são nestes momentos em que se faz necessário que elas reforcem seus discursos com ações práticas. Como patrocinadoras da competição, as marcas têm o direito de se envolverem e o dever de cobrarem da organização do campeonato medidas efetivas para que estes episódios não se repitam. Caso isso não aconteça, os nomes dos patrocinadores serão lembrados pelos torcedores pela omissão junto à La Liga e a credibilidade de todo o ecossistema será abalada.
Como evitar prejuízos aos negócios?
A fim de evitar grandes impactos nos negócios, a LaLiga e os patrcinadores devem buscar desassociar sua imagem do racismo. Pelo lado da organização da liga, as medidas incluem punições severas e uma série de ações de inclusão.
- Ações de represália de forma instantânea como banir os torcedores que insultaram, incluir no regulamento punições com pontos ou até a exclusão dos clubes, interrupção das partidas com manifestações racistas… Abrir um novo cargo de diversidade e inclusão para convocar os clubes para que colaborem na identificação dos criminosos, na educação de sua torcida e que promovam ações para que negros possam estar em posição de liderança dentro dos clubes - disse Felipe Gomiero ao L!.
Pelo lado dos patrocinadores, posicionamentos nas redes sociais podem não ser suficientes. As empresas que quiserem afastar a associação do racismo devem atuar ativamente junto à LaLiga para impedir novos episódios e, caso não haja mudanças, podem optar por romper o contrato de patrocínio ao Campeonato Espanhol.
- Primeiramente, cobrar da organização do torneio por medidas efetivas para que este tipo de comportamento dos torcedores se encerre de uma vez por todas, mesmo que seja necessária uma punição direta e pesada aos clubes. Em segundo lugar, as marcas podem desenvolver projetos de conscientização e campanhas que reforcem o fato de que racismo é crime e que quem praticá-lo deve ser punido. Por último, se as marcas detectarem que a liga espanhola não está tomando as medidas necessárias, elas podem partir para os rompimentos contratuais, que seria o caminho mais claro, duro e drástico de se posicionarem de forma contrária aos acontecimentos e também à uma eventual conivência de LaLiga - disse Renê Salviano.
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