Especialista analisa modelo de SAF do Fortaleza: ‘Mais fundamental que o valor financeiro é o parceiro’
Pedro Daniel, da EY, comenta sobre proposta que será votada neste sábado (23)
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O Fortaleza vota na manhã deste sábado (23) proposta de mudança no estatuto do clube que permitiria a mudança para Sociedade Anônima do Futebol (SAF). No entanto, o modelo visado pelo Leão do Pici é diferente dos casos mais famosos no Brasil, como Vasco, Botafogo e Cruzeiro. Em entrevista ao Lance!, Pedro Daniel, Diretor Executivo e líder da Área de Esportes, Mídia e Entretenimento da EY na América Latina, analisou o tema.
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Sobre o modelo de SAF proposto pelo Fortaleza, que busca um sócio minoritário, Pedro comenta pontos positivos, como a manutenção da cultura do time, e desafiadores, como a mudança de gestão do clube a cada três anos.
- A busca por um (sócio) minoritário, que é a grande diferença para outras SAFs que a gente tem no Brasil, traz alguns pontos positivos no âmbito cultura da empresa. A associação sendo a majoritária mantém a tradição, pode trazer alguns benefícios de ser um grande guardião da governança da SAF - afirmou Pedro.
- Como pontos desafiadores, temos que lembrar que a associação é composta por períodos de mandato. No caso do Fortaleza, a cada três anos você tem uma nova eleição, ou seja, você tem o risco associado a uma nova gestão que pode pensar diferente da anterior e mudar a estratégia - completou o especialista.
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Questionado sobre as vantagens que a SAF traria para o Fortaleza, que, diferente de outros times, tem a dívida controlada e uma boa gestão financeira, Pedro Daniel explica que a ferramenta pode ser utilizada de forma estratégica, olhando para o futuro, e não necessariamente uma forma de salvar um time.
- A gente tem que lembrar que a SAF não é um instrumento para salvar os clubes. Ela pode ser uma ferramenta estratégica pensando no futuro. Foram ciclos de SAF no Brasil, e no primeiro nós vimos os mais necessitados. No segundo, estamos vendo mais estratégias voltadas aos novos sócios e o Fortaleza entra nesse, talvez em um terceiro, que é o seguinte: o que a SAF pode me beneficiar dentro da minha gestão. Um novo sócio acaba te exigindo um nível de governança maior. Além disso, a parte financeira, pois um novo sócio pode acelerar o processo de mudança de nível financeiro do Fortaleza - explicou o diretor da EY.
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Apesar da votação para mudança do estatuto e separação do futebol do clube para SAF, o presidente do Fortaleza Marcelo Paz já afirmou que não há pressa de vender ações do clube. Perguntado sobre esse processo, Pedro Daniel comparou o modelo ao do América-MG, que também fez a reformulação interna, mas ainda não tem nenhum investidor externo.
- É uma situação mais estratégica, o fato de você ter a SAF e já transferir os ativos do futebol para uma essa nova empresa. A iniciativa do Fortaleza não é pioneira no Brasil. O América-MG, por exemplo é assim, que já atua como SAF, na qual 100% das suas ações são da associação. Você já estabelecido como SAF, você tem um benefício: você diminui o risco do potencial investidor. Quando você quer vender as suas ações e ainda precisa passar pelo processo interno, isso de alguma maneira diminui o seu valor, porque aumenta o risco do investidor - comentou Pedro.
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Questionado sobre o que impediria a mudança de formato da SAF do Fortaleza para um investimento externo majoritário no futuro, caso seja de vontade de uma nova gestão do clube, o diretor da EY explicou sobre condições de impedimento ou facilitação do processo.
- Existe algo que a gente chama dentro da governança de 'linhas de defesa'. Dentro de um clube você tem não só seu estatuto, mas como você institucionaliza os processos, ou seja, você tira das pessoas e coloca na instituição. Nada impede de que esse regimento se transforme, pois é um organismo vivo, não tem como colocar em pedra. Mas é importante que o acordo de acionistas seja feito de maneira robusta, pois é o instrumento que vai proteger ou 'deixar solto' o futuro do Fortaleza - explicou o expecialista.
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Por fim, Pedro Daniel deu sua opinião sobre o potencial que a SAF do Fortaleza pode ter em elevar o clube financeiramente ao patamar mais alto do futebol brasileiro. Ele afirma que, mais importante que o valor financeiro, a expertise do parceiro será fundamental para o futuro do clube e esse salto para o próximo nível.
- Eu acho que pode (elevar o Fortaleza a brigar financeiramente com os clubes de maior investimento no Brasil). Mas mais fundamental que o valor financeiro é qual a expertise do parceiro. Esse sim pode contribuir e perpetuar os processos. Se ele conhecer o negócio, se tiver expertise na indústria, se tiver um posicionamento dentro dos objetivos do clube de alta performance. A busca pelo parceiro ideal é mais importante do que o 'valuation' (valor da venda) do clube como um todo - analisou Pedro Daniel.
MAURÍCIO LUZ* colaborou sob supervisão de Tadeu Rocha.
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