Exclusivo L!Biz: o que pensam os dirigentes do futebol brasileiro sobre clubes virarem empresas (SAFs)
Profissionais e atores do mercado destacam importância do movimento, mas modelo ainda oferece riscos e necessidade de mudanças<br>
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O LANCE!Biz dá sequência, nesta segunda-feira, à publicação da pesquisa exclusiva sobre o que pensam os dirigentes do futebol brasileiro. Desenvolvida pela Pluri Consultoria, a Pesquisa de Expectativas dos Dirigentes Brasileiros (PEDB) entrevistou, por amostragem e com garantia de anonimato, representantes das três principais divisões do país entre 9 e 21 de janeiro. A primeira parte, sobre a criação liga de clubes, você pode ler neste link.
A pesquisa mostra o pensamento médio dos homens e mulheres que comandam o futebol do país. São pessoas que administram clubes que representam mais de 90% da torcida brasileira. O LANCE! publicará o estudo em cinco capítulos para facilitar a compreensão dos torcedores.
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Nesta segunda parte, foi abordada a onda de mudança do modelo de gestão para as Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs), assunto em alta no futebol brasileiro desde 2021. Enquanto uma série de clubes já adotou o modelo, outros estão próximos de seguir o mesmo caminho. E ainda há aqueles que, ao menos, estudam a questão internamente.
+ O que pensam os dirigentes do futebol brasileiro sobre as ligas e o futuro do Brasileirão
Maioria vê mudança para SAF como viável em 2023
Pouco mais da metade (52%) dos dirigentes entrevistados acredita ser viável ou totalmente viável que seus clubes se tornem Sociedades Anônimas do Futebol ainda em 2023. Soma-se a este número outros 29% que disseram que seus clubes já são SAFs. Desta forma, apenas 19% dos dirigentes acreditam ser inviável terminar a temporada 2023 com o novo modelo de gestão.
Este cenário coincide com a opinião de Cláudio Pracownik, CEO da Win the Game, empresa de negócios do esporte e entretenimento. Em entrevista ao L!, o empresário considera a capacidade de captação de recursos um fator decisivo para o futuro da gestão do futebol brasileiro.
- Acho que o modelo preponderante no futebol brasileiro será o da SAF, porque é um modelo que reduz a taxa de juros e aumenta a possibilidade de injeção de capital. A inserção do esporte como entretenimento transformou o esporte em negócio. E não há negócio que sobreviva sem dinheiro. Está mais do que provado que o balanço financeiro de uma associação ou de um clube-empresa está completamente em sintonia com a capacidade que esse clube tem de ganhar jogos e títulos. Quanto mais dinheiro, mais competitivo você vai ser. Então, vai ser necessário dinheiro. Por isso, não tenho muitas dúvidas de que a Sociedade Anônima do Futebol vai ser o modelo preponderante no médio e longo prazo - projetou o empresário.
+ Próximos investimentos, mudanças na legislação e Fair Play Financeiro: o futuro da SAF no Brasil
POR DENTRO! 👀⚽️
— LANCE! (@lancenet) December 27, 2021
SAF: tudo o que você precisa saber sobre o novo modelo de gestão para o futebol brasileiro #lance https://t.co/gS3PdpSG0t pic.twitter.com/jSTPJECK7F
Por que se tornar uma SAF?
O principal fator que pesa na decisão do clube em se tornar uma SAF é o acesso a recursos para investir, apontam 71% dos dirigentes entrevistados. Esse número é fácil de entender: a injeção de capital externo aumenta os investimentos com o futebol (estrutura, contratações e salários) e, consequentemente, a competitividade do clube.
Outro fator citado pelos dirigentes para explicar a decisão em se tornar SAF é a busca por melhoria na gestão (10%). Por outro lado, os 19% restantes dos entrevistados se dizem satisfeitos com a maneira como o clube tem sido gerido, e por isso, não pensam em adotar o modelo de Sociedade Anônima do Futebol.
Apesar de não serem citados pelos dirigentes, a redução de dívidas e o acesso ao mercado internacional são outros possíveis fatores que podem motivar um clube a se tornar SAF. Cabe destacar que todas as razões citadas na pesquisa se tornam ainda mais determinantes no contexto de clubes médios com limitações de receitas ou clubes grandes endividados.
- Se você quer ter acesso ao capital privado e reduzir suas taxas de juros em operações de empréstimo, a única opção para clubes médios ou clubes endividados é se tornar uma SAF. Ela obriga o clube a ter uma transparência, uma gestão profissional, um compliance que reduz a taxa de juros e torna possível a entrada de capital privado. Enquanto associação, o clube recebe capital privado basicamente com ações comerciais como patrocínios, sócio-torcedor e outras ações de marketing - disse Cláudio Pracownik, ao L!.
CBF e emissora apoiam movimento dos clubes
O LANCE! procurou outros atores importantes do mercado para debater o tema da SAF. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF), por exemplo, compartilha da visão positiva acerca do movimento recente de clubes para o novo modelo. Quem garante é o presidente da entidade, Ednaldo Rodrigues (veja no vídeo acima).
- É uma lei que dá liberdade para que possam ser criadas as SAFs. A gente espera que tudo que for em prol das instituições, dos clubes, e que possam sair dali não só um trabalho voltado à melhor técnica, mas também às gestões, a CBF não só está de acordo como entende que é importante. Para que as instituições possam ser fortes não só disputando um jogo ou uma competição, mas que sejam sólidas na administração e demonstrações contábeis. Torcemos para que o futebol seja forte de forma linear - disse Ednaldo Rodrigues, ao L!.
Um dos principais detentores de direitos de transmissão do Brasil, o SBT também enxerga a migração para a SAF como importante. O aporte financeiro e a melhoria na gestão foram apontados como fatores principais para a opinião positiva.
- A SAF foi uma forma importante ao permitir que os clubes pudessem acessar recursos de investidores, sob regras claras de disciplina financeira e governança, totalmente diferentes da forma como os clubes vinham sendo geridos e com muito mais segurança jurídica para os investidores. Os clubes que já fizeram esse movimento, ainda que não tenham conseguido capturar o melhor valor, certamente irão experimentar um ciclo mais virtuoso. É plantação de árvore - afirmou a direção de jornalismo do SBT.
O outro lado: riscos e mudanças necessárias
Há, no entanto, ponderações ao modelo da Sociedade Anônima do Futebol. Cláudio Pracownik lembra que, diferentemente de um clube associativo, as SAFs correm o risco de ir à falência em caso de má gestão.
- SAF é meio e não fim. Ser uma SAF não significa que o clube está imune à crise. É uma sociedade anônima. As empresas quebram. O risco de você ter uma SAF é porque pode quebrar se for mal gerida. Um clube associativo não quebra. Então, é muito importante que o clube escolha bem o investidor que vai estabelecer essa parceria para não aceitar o primeiro dinheiro que entre na sua conta.
Outro ponto que merece atenção é a questão legislativa. A Lei da SAF (Lei 14.193), em vigor desde agosto de 2021, representou um novo marco regulatório do futebol nacional, mas já se tornou alvo de críticas de John Textor, sócio majoritário da SAF do Botafogo. O motivo é a falta de clareza sobre o Regime de Execução Centralizado - dispositivo que permite renegociar dívidas trabalhistas e cíveis em um único juízo, ou seja, seguindo uma lista dos credores.
- Eu não critico a lei. Como eu falei, é o primeiro marco regulatório que a gente tem bem feito. Então, para mim, foi um passo muito bem dado. Mas legislação não é muito clara ainda em relação às dívidas fiscais e às dívidas esportivas. A lei precisa buscar soluções melhores para o Regime de Execução Centralizado, para que efetivamente exista a proteção ao investidor. O regime da recuperação judicial e da extradição é um regime muito mais seguro hoje em dia para o investidor, até porque ela não é regulamentada pela lei - finalizou Pracownik.
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