O multi-club ownership (multipropriedade de clubes, em inglês) já é uma realidade no futebol mundial. De acordo com a Uefa, até o fim de 2022, mais de 180 times faziam parte de um conglomerado de clubes - como o City Group ou a 777 Partners, por exemplo. Por fatores financeiros, o fenômeno é dominado por empresas com sede nos Estados Unidos ou na Europa, mas já tem o primeiro exemplo originário na América Latina: o Grupo Independiente, do Equador.
Como o nome pode indicar, trata-se de uma nova etapa do projeto de sucesso do Independiente del Valle (EQU). Dono do clube desde 2007, o empresário equatoriano Michel Deller resolveu ampliar os negócios no futebol e criou seu próprio conglomerado de clubes. Além do time profissional, o grupo controla duas filiais do Del Valle no Equador: o Independiente Juniors (sub-20) e o Independiente Dragonas (feminino). Fora do país, tem participação acionária no Numancia, da Espanha, e agora é sócio majoritário do Atlético Huila, da Colômbia.
A aquisição do clube colombiano foi anunciada na última semana. De acordo com a imprensa local, a Sociedad Farley S.A., empresa comandada por Michel Deller, pagou um valor entre 6 e 7 milhões de dólares (entre R$ 30 mi e R$ 35 mi) por 95% das ações do Atlético Huila. A ideia é aplicar na Colômbia o mesmo modelo de operação que deu certo no Equador.
- O Grupo Independiente adquiriu a equipe do Atlético Huila, um clube importante do futebol colombiano, com o objetivo de implementar o Método Independiente, que se enfoca na formação de talento de alto rendimento e na construção de processos esportivos de médio e longo alcance, para alcançar a excelência desportiva e institucional. Como parte da aquisição, o grupo concentrará seus esforços com a visão em recursos humanos, infraestrutura desportiva e tecnologia de última geração, para garantir que a equipe tenha as ferramentas necessárias para alcançar seus objetivos com o tempo - disse o Grupo Independiente, em nota oficial.
Fundado em 1990, o Atlético Huila tem sua sede em Neiva, cidade de cerca de 350 mil habitantes e disputa atualmente a primeira divisão do futebol colombiano. O modesto clube nunca foi campeão nacional, mas tem alguns títulos da segunda divisão e soma uma participação na Copa Conmebol (1999) e outra na Copa Sul-Americana (2010).
Como citado acima, o Atlético Huila é o segundo clube estrangeiro a entrar no conglomerado de clubes. Em 2021, os proprietários do Independiente del Valle já haviam adquirido 49,9% das ações do CD Numancia, que atualmente está na terceira divisão espanhola.
Michel Deller é o dono do Grupo Independiente, primeiro conglomerado de clubes da América Latina (Foto: Divulgação)
O sucesso do Independiente del Valle
Assim como o Manchester City no City Group, o Independiente del Valle será o principal clube do Grupo Independiente. O time é controlado por Michel Deller desde 2007 e, desde então, passou por uma reestruturação gigante, deixando as divisões inferiores do Equador e passando a figurar entre os principais times da América do Sul.
Neste período, o Del Valle se tornou bicampeão da Copa Sul-Americana (2019 e 2022) e campeão da Recopa Sul-Americana (2023). Os títulos em 2022 e 2023, inclusive, vieram com vitórias sobre clubes brasileiros na final: São Paulo e Flamengo, respectivamente. O clube ainda teve um vice-campeonato de Libertadores em 2016, quando perdeu para o Atlético Nacional (COL) na final.
Com um orçamento modesto comparado aos clubes brasileiros, o Del Valle aposta no investimento nas categorias de base para ter resultados esportivos e financeiros. Estima-se que o clube arrecadou mais de 70 milhões de euros (cerca de R$ 380 milhões) com a transferência de jogadores para o futebol internacional, a grande maioria para a Europa. O último exemplo é Kendry Páez, atacante de apenas 16 anos que foi vendido ao Chelsea por um valor próximo dos 20 milhões de euros.
Independiente del Valle agora faz parte de um conglomerado de clubes (Foto: Divulgação/Conmebol)
Conglomerados de clubes no futebol brasileiro
Pioneiro na América do Sul, o Grupo Independiente amplia de conglomerados de clubes que atuam ao redor do mundo. De acordo com levantamento da UEFA, o número já superava 80 no fim de 2022, sendo um terço (27) originado nos Estados Unidos. Dois exemplos de grupos americanos são bem conhecidos do público brasileiro: a Eagle Football Holdings, dona da SAF do Botafogo, e a 777 Partners, proprietária da SAF do Vasco.
Outros conglomerados presentes no futebol brasileiro, mas com sede na Europa, são o City Football Group, novo dono da SAF do Bahia, e a Red Bull, que controla o futebol do Bragantino, por exemplo. Confira abaixa os times que compõe os conglomerados citados acima:
Eagle Football Holdings: Botafogo, Lyon (FRA), Molenbeek (BEL) e Crystal Palace (ING).
777 Partners: Vasco, Genoa (ITA), Standard Liège (BEL), Red Star FC (FRA), Hertha Berlim (ALE) e Sevilla (ESP).
City Football Group: Bahia, Manchester City (ING), New York City (EUA), Melbourne City (AUS) Mumbai City FC (IND), Lommel SK (BEL), ESTAC Troyes, (FRA), Montevideo City Torque (URU), Yokohama Marinos (JAP), Girona (ESP), Sichuan Jiniu (CHI), Palermo (ITA) e Bolívar (BOL).
Red Bull: Red Bull Bragantino, RB Leipzig (ALE), Red Bull Salzburg (AUS) e Red Bull New York (EUA).