A WTorre se tornou referência no mercado brasileiro quando o assunto é a gestão de arenas esportivas. Parceira do Palmeiras na operação do Allianz Parque desde 2014, a empresa quer ampliar a atuação no futebol nacional e tem projetos em andamento com Santos, Vasco e Cruzeiro, por exemplo.

Em entrevista ao LANCE!, o CEO da WTorre Entretenimento, Cláudio Macedo, detalhou os interesses da construtora para os próximos anos, falou sobre a experiência no estádio do Palmeiras e explicou a importância da realização de eventos não-esportivos para a lucratividade das arenas modernas.

O Allianz Parque, de fato, é um case de sucesso do ponto de vista da WTorre. Com direito de explorar a utilização do estádio entre 2014 e 2044, a empresa conviveu com períodos de altos e baixos nos primeiros anos de operação, mas enfim encontrou um modelo de negócios lucrativo e que se baseia na realização de jogos, shows e outros eventos privados.

- O modelo de negócios de gerenciamento do Allianz Parque era inédito no país, então houve uma curva de aprendizagem. Ao longo dos anos, a empresa foi moldando as ações e as escolhas de acordo com a experiência obtida com a realização de eventos, entre jogos, shows e ações privadas, sempre pensando na saúde financeira da arena, que em momento nenhum esteve em risco. Há ainda a questão de termos enfrentado uma pandemia, que pausou atividades por mais de um ano e obrigou o setor como um todo a repensar o negócio para continuar gerando receita - disse Cláudio Macedo, ao L!, antes de completar:

- Agora, oito anos e meio após a inauguração do Allianz Parque, conseguimos ver que o que passamos nos fez entender as melhores práticas e caminhos que devemos seguir para entregar uma operação que nos coloca como a arena mais moderna da América Latina, posto confirmado pelas repetidas quebras de recorde em jogos de futebol e demanda constante para realização de shows das maiores turnês nacionais e internacionais, por exemplo. 

WTorre tem direito de explorar o Allianz Parque por 30 anos (Foto: Fabio Menotti/Palmeiras)

Nova Vila Belmiro deve seguir modelo do Allianz Parque

A WTorre, nos últimos anos, passou a estudar outros projetos de arenas para ampliar a atuação no mundo dos negócios esportivos e fechou uma parceria com o Santos para a construção da nova Vila Belmiro. A iniciativa já foi aprovada pelo conselho e pelos sócios do clube, e as obras estão previstas para começar no primeiro semestre de 2024. A ideia da empresa é aproveitar a experiência no Allianz Parque para encontrar o melhor modelo o mais rápido possível.

- A WTorre Entretenimento está muito animada com a oportunidade de executar o projeto de renovação da Vila Belmiro. Sabemos o quanto o estádio é um ícone do futebol mundial e acreditamos no potencial não apenas para um capítulo inédito na história do Santos Futebol Clube, mas também na influência que a arena terá na cidade, com geração de empregos, movimentação da economia, novos modelos de negócio e impulsionamento do turismo. A experiência do Allianz Parque com certeza vai contribuir muito na gestão da Vila Belmiro, já que o modelo será bastante parecido. Vamos entender as características que são similares e aproveitar a experiência de gestão para a execução do melhor trabalho possível - comentou Cláudio Macedo.

O projeto tem um custo estimado de R$ 300 milhões. A WTorre, no entanto, prevê uma margem de erro de até 30% no valor total, a depender de fatores econômicos, taxa de juros praticadas pelo mercado e variação do custo dos materiais. Do montante, R$ 200 milhões viriam da comercialização de produtos do estádio, como a venda de cadeiras, camarotes e um plano de sócios desenhado exclusivamente para capitalizar a construção da nova casa do Peixe. O restante seria trazido pela WTorre via investidores. 

O formato é similar à parceria com o Palmeiras: o terreno do estádio permanece sob posse do Santos e a construtora ficará responsável pela administração por 30 anos. Ao fim do período, este direito seria devolvido ao clube. 

Reunião entre dirigentes de Santos e WTorre sobre projeto da Vila Belmiro (Foto: Divulgação / Santos FC)

Confira outras respostas de Cláudio Macedo, CEO da WTorre Entretenimento:

Importância da realização de shows

- A realização de shows é fundamental para a operação de uma arena, e não apenas pelo valor da locação, mas pela valorização do espaço como um todo e pela arrecadação que vem de serviços como venda de alimentos e bebidas, comercialização dos espaços premium (camarotes e restaurantes), estacionamento, patrocinadores, entre outros. Por exemplo, o valor de um camarote e de um patrocínio passa a ser muito mais atrativo se existe a expectativa de que haverá uma agenda forte de jogos e shows durante o ano. A prática esportiva é a prioridade da arena, mas os shows e eventos fazem com que as receitas e reconhecimento sejam ainda maiores - o que não é novidade, considerando que os shows estavam na agenda dos estádios mesmo antes das primeiras arenas serem construídas no Brasil. 

Parceria com Vasco em São Januário e no Maracanã?

- A WTorre Entretenimento tem uma relação muito boa com o Vasco, e prestamos consultoria tanto no projeto da modernização de São Januário quanto nos colocamos como parceiros e operadores na proposta para a licitação do Maracanã. A WTorre Entretenimento trabalha com operação e gestão de arenas e apenas isso. O tema do TPU (Termo de Permissão de Uso que foi renovado para a dupla Fla-Flu) é uma questão entre governo e clubes que não nos compete. 

- A WTorre Entretenimento tem uma parceria longeva com o Vasco, iniciada no estudo da modernização e revitalização de São Januário. É um projeto icônico, de um dos estádios mais tradicionais e reconhecidos do Brasil e que nos sentiríamos honrados em trabalhar. Continuamos à disposição do clube para projetos, pois, como operadora de arenas, é do nosso interesse buscar as melhores opções para auxiliar as equipes na gestão de seus jogos.

Projetos em andamento com Botafogo e Cruzeiro?

- A WTorre Entretenimento tem estudado muitos projetos de arenas nos anos recentes, prestando consultoria a empresas e clubes que entendem que o trabalho feito no Allianz Parque é referência no setor. No Nilton Santos, estudamos uma parceria junto ao Botafogo que acabou não se concretizando. A WTorre Entretenimento inclusive chegou a intermediar a viabilização de alguns shows internacionais no estádio após a reabertura. Com o Cruzeiro, também temos trabalhado junto para ajudar o clube a entender as possibilidades que eles têm para realização de seus jogos, em qualquer que seja o estádio. Não existe nenhum movimento da WTorre Entretenimento para adquirir o Mineirão, uma vez que o mesmo já se encontra sob a gestão da Minas Arena.