A Premier League divulgou na última quarta-feira os valores que os clubes ingleses receberam na temporada 2021/22 dos contratos relacionados à TV. O total, entre as 20 equipes participantes da competição, girou em torno dos 2,5 bilhões de libras (R$ 14,6 bilhões).
O valor entre os primeiros colocados sofreu uma divisão igualitária. Porém, a diferença entre o campeão Manchester City (£ 153 milhões) e o Norwich (£ 100 milhões), último na tabela, contou com a diferença de 53 milhões de libras.
Conforme dados do site especializado em negócios Swiss Ramble, cada time participante da Premier League recebeu £ 87,5 milhões em partes iguais - provenientes de direitos domésticos (£ 31,8 milhões), direitos no exterior (£ 48,9 milhões) e receita comercial (£ 6,8 milhões).
O valor de £ 87,5 milhões (R$ 513 milhões) é fixo. O restante é dividido conforme o número de jogos transmitidos e segundo a classificação final.
Estes dados surgiram em um momento específico ao se tratar do futebol aqui no Brasil. As informações foram divulgadas enquanto os clubes brasileiros debatem sobre a criação de uma nova liga no país. Neste contexto, a divisão das cotas de TV, em especial do pay-per-view (PPV), pago pela Globo, é considerado o principal entrave.
Na quinta-feira (22), presidentes que fazem parte da Liga Forte Futebol do Brasil (LFF) postaram mensagens com os gráficos divulgados pela Premier League. Entre eles, os de clubes como o Fortaleza e Goiás.
A questão surge quando clubes como o Flamengo (R$ 160 milhões por contrato) e o Corinthians (R$ 110 milhões por contrato) faturam alto e equipes como o Fortaleza (R$ 2,8 milhões) aparecem na parte debaixo desta tabela.
- É por isso que defendemos uma divisão mais justa de recursos na criação da liga de clubes no Brasil. Um campeonato mais equilibrado atrai mais investidores e assim todos crescem. O melhor exemplo é a Premier League, onde clubes de porte médio conseguem fazer grandes investimentos. Na liga Inglesa, a diferença entre o que mais ganha e o que menos ganha é muito baixa - disse Marcelo Paz, presidente do Fortaleza.
- Nós caminhamos há muitos anos com a divisão de valores que não é a ideal, que privilegia de fato alguns clubes, e nós queremos mudar esse cenário. Precisamos quebrar a ideia de que o futebol brasileiro é conhecido no mundo inteiro. O nosso campeonato não passa em Singapura, no Canadá, na Bélgica, lá eles não conhecem as nossas marcas e esse movimento da Liga visa um campeonato mais forte, com uma divisão mais equilibrada para vender para o mundo inteiro e tornar a nossa marca conhecida - acrescentou o mandatário do Leão.
O Internacional é outro caso. Considerado um dos clubes mais vitoriosos do país, recebe 'apenas' R$ 18,8 milhões. É o 9º colocado na lista dos que mais faturam de Pay-per-view, estando atrás de de Flamengo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Vasco, Grêmio, Cruzeiro e Atlético-MG.
- Na Premier League, o clube de maior receita recebeu 153M e o de menor 101M. Diferença de 1,5x. Os fatos mostram que uma divisão mais equilibrada gera mais competitividade e mais receitas. Esse é o conceito em que acreditamos e o motivo pelo qual fazemos parte da Liga Forte Futebol - disse o presidente do Internacional.
- São muitas as questões a serem debatidas e melhoradas, como calendário, estádios, arbitragem, matchday, todas as alternativas possíveis de comercialização. Mas entendemos que a divisão desses recursos deve seguir os exemplos de ligas bem-sucedidas no mundo. Essa redução na desigualdade fará com que tenhamos um produto mais valorizado, competitivo e, portanto, com ganhos significativos para que todos os clubes façam frente às exigências necessárias para construir um produto mais forte - completou.
Uma das principais 'brigas' das agremiações que representam a Liga Forte Futebol é que se chegue a uma maior proximidade entre as arrecadações, com 45% divididos de forma igualitária, 30% sobre performance e 25% por apelo comercial. O ponto principal é que a diferença máxima de valores entre cada agremiação não ultrapasse 3,5 vezes. Pelos dados divulgados nesta semana pela Premier League, a diferença é de 1,6 vezes.
O presidente do Goiás, Paulo Rogério Pinheiro, também defende uma divisão mais justa. A equipe é uma das que menos lucra com PPV entre os times da série A: R$ 800 mil.
- Entendemos que é necessária uma divisão mais justa para tudo o que envolve os negócios do futebol, e isso inclui as cotas de TV. Não podemos ganhar dez vezes menos do que um clube que disputa a mesma divisão. A competição fica desigual e nós temos exemplos concretos de outras ligas do mundo que essa divisão igualitária traz resultado e fortalece o produto - afirma o dirigente.
O presidente do Sport, Yuri Romão, é considerado uma das vozes mais ativas nos encontros que envolvem as agremiações em torno de direitos igualitários na disputa nacional e também discorda desta diferença tão grande.
- Não podemos mais aceitar que exista uma diferença tão grande no que é repartido pela TV, tudo isso dentro de uma mesma competição e entre clubes de uma mesma divisão. É necessário e urgente que isso mude, e o pontapé inicial foi dado lá atrás com as primeiras conversas pela formação da nova liga no país. Temos cada vez mais avançado em torno de um consenso de igualdade, e aqueles que estão no topo precisam ceder em torno deste denominador comum. Quando isso acontecer, tenho absoluta certeza que todos sairão ganhando - destacou.
Já o Avaí e o Juventude, que recebem apenas R$ 400 mil, entendem que o equilíbrio de receitas entre os clubes da Série A é essencial.
- O objetivo é fortalecer o futebol brasileiro e a competição como um todo. O Campeonato Brasileiro precisa ser protagonista no mundo - diz Júlio César Heerdt, presidente do time catarinense.
- Nossas conversas tem caminhado para esse sentido, de melhorias nos diversos setores e serviços que envolvem o futebol brasileiro. As cotas de TV são fundamentais, pois do jeito que estão, existe uma disparidade enorme entre agremiações que disputam a mesma divisão. Quanto mais igualitária for a divisão de cotas entre os clubes, mas valioso o campeonato se torna - finaliza o vice-presidente administrativo e de marketing do Juventude, Fábio Pizzamiglio.