A indústria do futebol acompanha, nos últimos anos, a expansão de conglomerados multinacionais detentores de diversos clubes ao redor do mundo. Esse fenômeno, chamado de multi-club ownership (multipropriedade de clubes, em inglês), tem impactado o mercado da bola de maneira significativa e é alvo de preocupação da Uefa.
Em relatório publicado nesta semana, o órgão regulador do futebol europeu informou que 35 clubes da elite europeia foram comprados e inseridos em um conglomerado em 2022. Trata-se de um número recorde. De acordo com a entidade, esta tendência ameaça minar a integridade do jogo e distorcer o mercado de transferências.
- O aumento do investimento de vários clubes tem o potencial de representar uma ameaça material à integridade das competições europeias de clubes, com um risco crescente de ver dois clubes com o mesmo proprietário ou investidor se enfrentando em campo - disse a Uefa, em um trecho do relatório European Club Footballing Landscape.
- O crescimento do investimento em vários clubes tem o potencial de distorcer a atividade de transferência, com um porcentagem crescente de transferências sendo executadas dentro de grupos a preços que atendem investidores, e não a valores justos, em detrimento dos clubes formadores (que recebem menos compensações sob a forma de pagamentos solidários).
Aumento no número de conglomerados de clubes
A propriedade de vários clubes pode ser feita de algumas formas, mas geralmente envolve investidores que compram uma participação em pelo menos dois clubes de futebol. Em alguns casos, é propriedade absoluta, mas em outros casos, pode envolver o controle de um clube e participação minoritárias em outros.
John Textor é dono de conglomerado de clubes (Arte LANCE!)
Um exemplo de conglomerado é a Eagle Football Holdings, de John Textor. Além de ser dono majoritário da SAF do Botafogo, o empresário norte-americano é proprietário do Lyon (FRA), do Molenbeek (BEL) e de 40% do Crystal Palace (ING). A 777 Partners, por sua vez, é dona da SAF do Vasco, do Genoa (ITA), do Standard Liège (BEL), do Red Star FC (FRA), além de participações minoritárias no Sevilla (ESP).
De acordo com a Uefa, até o final de 2022, mais de 180 clubes ao redor do mundo faziam parte de 80 conglomerados diferentes. Até o fim de 2018, o número de clubes nesta situação era inferior a 100. Em 2012, inferior a 40.
Este aumento está “sendo alimentado predominantemente por investidores norte-americanos”, de acordo com a Uefa. Ao todo, 27 grupos de investimento são originários dos Estados Unidos - o que representa um terço do número total.