Vaga histórica e família motivam Alex Silva a permanecer na Bolívia
Adaptado ao país, zagueiro brasileiro se impressiona com festa local por campanha inédita do Jorge Wilstermann na Copa Libertadores e já negocia renovação de contrato
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Classificado às quartas de final pela primeira vez na história, o Jorge Wilstermann faz na Copa Libertadores deste ano uma campanha que não será inesquecível apenas para os seus fanáticos torcedores. Para o brasileiro Alex Silva, a relação de carinho com o clube da Bolívia e com o país vizinho já transcendeu as quatro linhas.
A começar pela superação às desconfianças. Contratado em janeiro para o torneio continental, o zagueiro de 32 anos, ex-São Paulo e Seleção Brasileira, acumulou mais polêmicas do que atuações de gala nos últimos anos. Juntou-se a um elenco que enfrentaria, acima de tudo, os prognósticos desfavoráveis, ao cair em um grupo com Palmeiras e Peñarol, dois gigantes do continente.
Alex Silva logo virou titular na defesa montada pelo técnico Roberto Mosquera. Seguro em campo, tem sido um dos destaques da equipe nesta Libertadores ao lado do meia Chumacero, artilheiro da competição com oito gols.
Com três vitórias (todas como mandante) em seis jogos, o Jorge Wilstermann ficou em segundo lugar, desbancando o Peñarol na briga por vaga na próxima fase e com direito a goleada por 6 a 2 sobre os uruguaios, em Cochabamba. Nas oitavas de final, com o triunfo por 1 a 0 em casa e o empate sem gols em Belo Horizonte, eliminou o Atlético-MG. Foi a primeira vez que um time boliviano despachou um rival brasileiro nos mata-matas continental.
A recepção ao time após a classificação inédita às quartas de final contou com recepção da torcida no aeroporto e carreata pelas principais ruas da cidade. Até o presidente da Bolívia, Evo Morales, visitou o clube para celebrar o feito.
"A cidade amanheceu em vermelho e azul depois do jogo. Você vê muita gente chorando e lhe agradecendo, foi uma emoção muito grande", descreveu o zagueiro ao LANCE!.
Independentemente do que ocorrer diante do River Plate, nos dias 14 e 21 de setembro, valendo um lugar nas semifinais da Libertadores, Alex Silva e seus companheiros já são história. Só que ela ainda não acabou. "Por enquanto, não ganhamos nem alcançamos nada, até porque o objetivo dessa equipe não é parar por aqui, é seguir em frente", ressaltou o jogador, que espera que o futebol do país seja visto de forma menos depreciativa a partir de agora.
"Acredito que a falta de respeito existe, sim. Há preconceito contra alguns países (da América do Sul)", completou.
Os laços construídos na Bolívia não param por aí. No dia 15 de julho, Alex Silva tornou-se pai pela terceira vez. Emanuella é cidadã boliviana. Adaptado ao país, o zagueiro já discute sua permanência no Jorge Wilstermann.
"Meu contrato vai até dezembro, mas estamos em conversa para renovar por mais dois anos. Estou muito bem aqui, minha família adaptada, gostamos da Bolívia e da cidade. Recebo um carinho enorme dos torcedores, da diretoria, da comissão técnica e dos meus companheiros", disse.
Carinho que, a depender do que o destino reserva ao Jorge Wilstermann nesta Libertadores, tende a aumentar.
BATE-BOLA
Alex Silva - zagueiro do Jorge Wilstermann-BOL
1 - Cochabamba parou após a classificação às quartas da Libertadores. As capas dos principais jornais da Bolívia exaltaram a vaga. Esperava essa reação?
Foi uma grande festa. Fomos recebidos no aeroporto por torcedores e depois seguimos até a praça principal, onde mais torcedores estavam nos esperando. A gente também recebeu a visita do presidente da Bolívia, que nos deu os parabéns pela classificação. Não se fala em outra coisa. A cidade amanheceu em vermelho e azul depois do jogo. Você vê muita gente chorando e lhe agradecendo por esse feito, foi uma emoção muito grande.
2 - O que mais deixou você surpreso nessa passagem pelo futebol da Bolívia e como tem sido a sua adaptação e de sua família à cidade?
O que mais me deixou impressionado foi a paixão dos torcedores pelo futebol. A cidade é muito boa, tem bastante brasileiros, e a minha filha nasceu aqui, foi registrada como boliviana. A adaptação foi rápida. Com a altitude, também (Cochabamba fica a 2.574 metros acima do nível do mar). Eu já vinha de um ano em atividade, cheguei aqui vindo de uma pré-temporada pelo Brasiliense, então não tive problema. Joguei quase todas as partidas da temporada, só não atuei quando o treinador poupou por causa da Libertadores.
3 - Você faz parte da melhor campanha do Jorge Wilstermann em Libertadores. A Bolívia nunca teve um finalista na história da competição. É possível sonhar com um lugar na decisão?
Claro que a gente já está feliz por fazer parte dessa campanha histórica, para o Jorge Wilstermann e o futebol boliviano, mas é um passo de cada vez. Só chegamos às quartas de final da Libertadores porque tivemos humildade e pés no chão. Pensamos como se fosse uma escada, um degrauzinho de cada vez. Não adianta falar em final se ainda temos de passar por um grande adversário, que é o River Plate. Procuro ficar com os pés no chão, com humildade, trabalhando jogo a jogo para, se a gente for a uma final, aí sim poder falar alguma coisa. Por enquanto, não ganhamos nem alcançamos nada, até porque o objetivo dessa equipe não é parar por aqui, é seguir em frente.
4 - Em algum momento você sentiu menosprezo por parte de adversários nessa campanha na Libertadores ou falta de respeito ao futebol boliviano?
Menosprezo nunca existiu por parte dos adversários. Mas acredito que a falta de respeito existe, sim. Há um preconceito contra alguns países (da América do Sul), digamos assim, mas acredito que foi a própria imprensa quem construiu isso de que o futebol boliviano é pequeno. A gente fica triste. Vencemos o Peñarol por 6 a 2, mas foi o Peñarol que jogou mal. Vencemos o Tucumán, mas o Tucumán jogou mal. Vencemos o Palmeiras (em casa) e fizemos uma excelente partida em São Paulo, tomamos gol no último minuto de uma partida em que a gente merecia um empate, mas o Palmeiras jogou mal. Agora, ganha do Atlético-MG aqui, empata em Belo Horizonte, mas o Atlético jogou mal... Isso incomoda, então acredito que haja uma falta de respeito. Não chegamos à toa. Não é que o Atlético jogou mal, o Jorge Wilstermann jogou bem e fez por merecer. Quando se perde para um time boliviano vira um demérito. A gente tem de começar a analisar o futebol de outra forma.
5 - Qual partida até o momento foi a mais marcante ou a que deu mais confiança ao grupo nesta Libertadores?
A vitória sobre o Palmeiras (3 a 1) foi crucial, garantiu a nossa classificação. Contra um grande elenco, com uma folha salarial que não se compara com a nossa. Foi o jogo que deu confiança. Não só a vitória, mas o jogo em São Paulo, diante de mais de 30 mil pessoas, em que seguramos o Palmeiras, mas o árbitro deu acréscimo exagerado e tomamos o gol no último minuto. Esses dois jogos nos deram parâmetro para acreditar que tínhamos uma grande equipe.
6 - Para você, a passagem pelo Wilstermann é um renascimento profissional?
Não gosto disso porque todo clube pelo qual passo se fala em renascimento. Todos sabem da minha história, dos títulos que ganhei, chegando à Seleção Brasileira. A única coisa que aconteceu é que mudei toda a minha vida e rotina, e mudei para melhor. Não me arrependo do que fiz no passado, mas hoje sou outra pessoa, outro profissional. Sou um grande pai de família, um grande marido, um grande filho. Não é um renascimento, mas os frutos daquilo que plantei eu estou colhendo agora. Fora e dentro de campo, vivo uma rotina de cristão (Alex Silva tornou-se evangélico há cerca de três anos).
7 - Pretende ficar mais na Bolívia ou planeja voltar para o Brasil em 2018?
Meu contrato irá até dezembro, mas estamos em conversa para renovar por mais dois anos. Estou muito bem aqui, minha família adaptada, gostamos da Bolívia e da cidade. Recebo um carinho enorme dos torcedores, da diretoria, da comissão técnica e dos meus companheiros. A minha cabeça está totalmente focada no Jorge Wilstermann. Não sabemos como será o dia de amanhã. No momento, a única coisa que existe é a chance de renovação contratual.
QUEM É
Nome completo: Alex Sandro da Silva
Nascimento: 10/3/1985, em Amparo (SP)
Altura: 1,92m
Posição: Zagueiro
Clubes anteriores: Vitória (2003-2005), Rennes-FRA (2005), São Paulo (2006-2008 e 2010-2011), Hamburgo-ALE (2008-2011), Flamengo (2011-2013), Cruzeiro (2012), Boa Esporte (2013-2014), São Bernardo (2014-2015), Brasiliense (2015-2016), Rio Claro (2016) e Hercílio Luz (2016).
Títulos: campeão baiano (2003 e 2004), campeão brasileiro (2006 e 2007), Copa América (2007) e medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Pequim (2008).
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