Por Mateus Machado
Um retorno de gala. Assim pode ser resumida a volta de Cláudio Henrique “Hannibal” ao Ultimate. Sem lutar profissionalmente desde novembro de 2014, o brasileiro precisou superar diversas lesões durante o período e lidar com incertezas a respeito do seu futuro dentro do MMA. O faixa-preta de Jiu-Jitsu, no entanto, passou por cima de todas as dificuldades e no último dia 27 de maio, pelo UFC Liverpool, voltou à organização de maneira triunfal, derrotando Nordine Taleb ainda no primeiro round ao aplicar um mata-leão.
Invicto no UFC, com três vitórias, e sem perder uma luta desde 2007, quando fez sua estreia no esporte, Cláudio torce por uma sequência de lutas para mostrar, cada vez mais, seu valor dentro da maior organização de MMA do mundo. Em entrevista exclusiva à TATAME, o lutador, em “estado de graça”, relembrou as dificuldades passadas até seu retorno.
- Até agora, estou vivendo esse momento, um estado grande de felicidade. Passou um filme na cabeça (depois da luta), eu fiz quatro cirurgias no pé de uma vez só, fui para 105kg (luta na categoria meio-médio, até 77kg) e foram várias lesões ao longo desse tempo. Eu voltava a treinar e me machucava. Mas estou muito orgulhoso do que eu fiz, minha primeira finalização no UFC, representei o Jiu-Jitsu e agora vou me dedicar ainda mais para sentir mais vezes esse gostinho no maior evento do mundo - disse o faixa-preta.
Confira a entrevista completa com Cláudio Hannibal
– Principais incentivos durante os quatro anos de ausência do MMA
Foram quatro anos sem lutar. Poucas pessoas me incentivaram. A maioria me falava para me aposentar, gente da minha família, amigos… Acho que o meu maior incentivador fui eu mesmo, porque eu sempre acreditei em mim e no meu sonho. Eu sempre comprei a revista TATAME, acompanhava a galera da BTT e da Carlson Gracie lutando no Pride e no UFC e eu queria ser igual aos caras. Mesmo sendo de uma cidade do interior de Minas que não tinha tradição no esporte, eu tinha esse sonho. A minha vontade de vencer e me superar a cada dia vem desde criança. Fiquei quatro anos longe, meu corpo não estava lá, mas meu espírito sempre esteve dentro daquele octógono. E a minha performance foi aquela que todo mundo viu. Muita gente falando que parecia que eu nem tinha ficado tanto tempo longe do octógono. Luta é o ar que eu respiro, é a minha religião, é no que eu penso 24 horas por dia. Eu tinha certeza que o resultado seria aquele. Meu oponente tinha seis vitórias no UFC, um cara muito duro, e lutar com ele só me valorizou ainda mais.
– Esperava um retorno ao UFC tão ‘perfeito’ assim?
O retorno saiu como eu visualizei. Eu faço um trabalho de mental coach e, nesse trabalho, fazemos visualizações. Então, desde que eu assinei o contrato, eu já visualizava isso. Eu sempre quero acabar as minhas lutas no primeiro round. Eu vou para finalizar. Infelizmente, nas primeiras lutas do UFC, eu não finalizei, pois sentia que tinha o peso de estar lutando no maior evento do mundo. Mas, para essa luta, eu fui com a cabeça tranquila, queria aproveitar cada momento ali no octógono, e acredito que isso tenha feito toda a diferença. Quero agradecer muito ao coach Betão. Fez toda a diferença entrar com a vontade de estar ali. Eu curti todos os momentos, desde o corte de peso, os treinos, a minha chegada no hotel, foi tudo prazeroso. Tive também o apoio do meu head coach, o Alex Chadud, ele veio para Londres e ficou duas semanas aqui comigo. Ele tem uma energia incrível! Não foi novidade o resultado, eu visualizava isso. Pode parecer arrogância, mas não é. É confiança no meu trabalho. O sentimento foi de realização, porque eu esperei por quatro anos. Até agora, estou vivendo esse momento, um estado grande de felicidade. Passou um filme na cabeça, eu fiz quatro cirurgias no pé de uma vez só, fui para 105kg e foram várias lesões ao longo desse tempo. Eu voltava a treinar e me machucava. Mas estou muito orgulhoso do que eu fiz, minha primeira finalização no UFC, representei o Jiu-Jitsu e agora vou me dedicar ainda mais para sentir mais vezes esse gostinho no maior evento do mundo.
– Confusão com Nordine Taleb depois da luta
Eu fui dar a mão pra ele no final da luta para cumprimentá-lo e ele falou: ’não me toca, não encosta em mim’. Eu achei estranho aquilo. E depois, no hotel, eu cumprimentei o treinador dele e tentei cumprimentá-lo também. Ele passou direto por mim, mas depois voltou e começou a me agredir verbalmente, inclusive com xingamentos homofóbicos, disse que se lutasse comigo dez vezes, me ganharia as dez vezes, me chamou para a briga e me acertou um chute. Aí falou para mim que eu não queria brigar e que se alguém o desrespeitasse assim, ele matava. E começou a me xingar ainda mais. Aí eu falei: ‘cara, você acabou de apanhar, tomou várias cotoveladas, foi finalizado… Como você vai ganhar de mim dez vezes?’. Aí chegou a turma do deixa disso, o pessoal da equipe dele foi bem respeitosa, tirou ele de perto de mim. Eu nunca vi isso na minha vida, nunca vi um cara que se diz atleta profissional se comportar desta maneira. Somos exemplos para crianças e milhares de fãs do esporte, é inadmissível ter um atleta no maior evento do mundo com este comportamento. Acho que ele deveria ser banido do evento. Ele não teve respeito algum. Até entendo os atletas fazerem o trash talk, desde o início ele postava fotos minhas no Instagram dele falando que essa luta nunca ia acontecer, que eu tinha corrido dele duas vezes… Quem fala demais, dá bom dia a cavalo. O peixe morre pela boca. Ele estava se achando muito superior, acho que por treinar no Canadá com o GSP, ele devia achar que seria o próximo campeão, mas não é bem assim que a banda toca. No esporte individual, ali dentro, são dois profissionais como dois braços, duas pernas e disposição. Enfim, estou muito decepcionado e espero que o UFC tome alguma medida contra ele.
– Por que está havendo tanto desrespeito e provocações nos últimos tempos?
Eu entendo o que é o trash talk, acho que os caras podem fazer isso para vender a luta, mas não precisa chegar ao ponto que ele (Nordine Taleb) chegou. Está faltando respeito entre os lutadores e arte marcial não é isso, arte marcial prega respeito e disciplina. Isso é coisa de quem não tem auto-confiança. Acho que algumas pessoas estão passando do limite. Isso precisa ser revisto e medidas precisam ser tomadas.
– Como pretende investir o bônus de melhor performance no UFC Liverpool?
O bônus veio em um excelente momento. Tenho planos de investir. Eu sou apaixonado por restaurante, por comida natural, e eu quero muito inovar no mercado em Londres, na área de gastronomia. Eu quero fazer uma rede de açaí aqui. Quero montar a primeira loja de açaí de Londres. Terão frutas exóticas do Brasil, sanduíche natural… Com certeza vou investir nisso e será um sucesso aqui em Londres. Sempre quis ter esse tipo de negócio, e essa grana também vai me ajudar para as próximas lutas, para investir em treinamento e conhecimento.
– Com uma vida marcada por superações, qual recado você passa para seus fãs?
Sempre tenho desafios na minha vida, sempre enfrento alguns obstáculos. Como lutador, temos uma cabeça muito forte, então acho que essa parte mental forte, essa vontade de se superar, de quebrar recordes, faz com que a gente se fortaleça em todas as áreas de nossas vidas, tanto pessoal como profissional. Eu levo essa metade da luta, que eu posso ir além, que eu posso dar mais de mim. Quem quer ser lutador, não tem fórmula mágica. É treinar muito e se dedicar. Saber que vai conviver com a dor, que terá que fazer sacrifícios, vai ter que abdicar de festas, de momentos com a família… A vida de um lutador não é fácil, é para quem quer muito. A mensagem que eu deixo para quem está enfrentando um momento de dificuldade, tem que acreditar em Deus, ter fé, porque às vezes passamos por momentos de sofrimento, mas enxergo isso tudo como parte de um aprendizado para crescermos como pessoa. Tudo na vida, momentos bons ou ruins, você precisa tirar boas lições. A gente nasce para vencer.
– Planejamentos para o futuro
Eu quero lutar em setembro. Já pedi ao meu empresário negociar uma luta para setembro. Essa luta não deu nem para me aquecer. Foi muito rápido, venci em menos de cinco minutos de luta. Acredito que eu consiga fazer mais umas duas lutas este ano. Quero muito lutar, recuperar esse tempo que eu fiquei parado, quero mostrar que essas três vitórias que tenho no UFC não foram sorte, foram fruto de muito trabalho duro. Quando tenho luta marcada, eu paro tudo na minha vida. Foco apenas no treinamento. Não ganhamos a luta apenas no dia, temos um processo longo, às vezes de até oito meses de camp. Ninguém vê o que acontece fora do octógono, nos meses que antecedem a luta. Mas eu amo essa rotina de camp, de treinamento, de ter uma dieta regrada, de ter um horário de dormir e acordar… É isso que me mantém motivado e me faz me sentir vivo. Não vejo a hora de estar representando o Brasil e a Inglaterra. Sou brasileiro, mas amo muito a Inglaterra. Esse país me deu os melhores momentos da minha vida. Foi onde eu comecei a minha carreira no MMA, onde eu assinei com o UFC e fiz minha estreia. Amo o Brasil também, foi onde eu aprendi o Jiu-Jitsu, lutei na minha cidade, em Uberlândia, e venci a minha luta lá diante dos fãs e recebi muito carinho… Eu me sinto muito realizado. Quero fazer quantas lutas eu puder esse ano e representar as duas nações. Inclusive, quero agradecer a todos os brasileiros que me mandaram mensagens positivas. O pessoal se identificou bastante. Recebo diariamente muitas mensagens nas minhas mídias sociais das pessoas falando que a minha história serviu de motivação pra elas. Fico muito feliz em poder motivar as pessoas. Tudo na vida é possível, basta acreditar.
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