Eder Jofre faz 80 anos e afirma: ‘Se eu fosse dar de direita em alguém, escolheria um político’
Maior peso galo da história do boxe mantém o bom humor, o brilho nos olhos quando calça as luvas, o direto de direita forte e preciso, além da vontade de comer doces
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O andar é firme, mas cauteloso. A falha na memória em alguns momentos é superada pelo bom humor constante. Mas o brilho nos olhos permanece o mesmo de cinco décadas atrás ao calçar as luvas. Eder Jofre completa 80 anos, neste sábado, com o espírito inabalável que o tornou o maior peso galo da história do boxe.
- Se eu fosse dar um direto de direita em alguém, escolheria um político - afirmou o ex-lutador, que recebeu o LANCE! para um papo nesta semana.
Com o peso muito daquele de quando lutava, Eder faz exercícios regularmente e com uma vantagem em relação aos tempos de pugilista.
- Agora posso comer de tudo. Inclusive bastante doce - disse Eder, que não dispensa pudins, bolos e principalmente arroz doce.
O Galo de Ouro, apelido dado pelo escritor Benedito Ruy Barbosa, só fica triste quando fala da ausência do boxe na programação dos canais de esporte na TV brasileira.
- Só passa de vez em quando. Tem tanta luta boa por aí.
Eder está certo, mas lutas como as que ele fez nas décadas de 60 e 70 são raras. "Nunca mais vai existir um boxeador como Eder Jofre", gosta de dizer Newton Campos, presidente da Federação Paulista de Boxe, que acompanhou do início ao fim a carreira do maior pugilista brasileiro de todos os tempos.
Seus feitos no ringue são reconhecidos até hoje no mundo do boxe. A revista "The Ring", principal publicação sobre a nobre arte no mundo, apontou o brasileiro como o melhor boxeador dos cinco primeiros anos da década de 60, superando o mítico Muhammad Ali.
Em 2014, o Conselho Mundial de Boxe, entidade de grande credibilidade, fez uma eleição para escolher um representante dos pesos galo que teria o rosto estampado no cinturão a ser dado ao campeão da categoria. Eder foi o vencedor.
- Acho que fiz algumas coisas legais, né? - pergunta, sempre com um grande sorriso.
- Mas tudo passou tão rápido. Eu tô com 80 anos? Você tem certeza? Tudo isso? - brincou o campeão.
Eder não luta desde 1976, mas seus duelos em cima do ringue são inesquecíveis. Como não lembrar do Ginásio do Ibirapuera, com mais de 20 mil pessoas, na surra sobre o britânico Johnny Caldwell? O épico confronto com Joe Medel, em Los Angeles? O primeiro título ao nocautear Eloy Sanchez? As derrotas doídas (uma injusta) para Fighting Harada, no Japão? E a segunda conquista mundial, ao bater o fortíssimo cubano naturalizado espanhol Jose Legra, em Brasília, com o ginásio Nilson Nelson abarrotado?
O que falta para o Brasil voltar a ter um campeão mundial?
- Dedicação. Treino. Força de vontade. Jamais desistir - recomenda Eder. E isso ele teve de sobra. Além de brigar com o peso – mascava chiclete para acelerar o metabolismo e cuspia a saliva, além de pular corda enrolado em casacos de plástico dentro da sauna –, Eder se superou em momentos terríveis que teve no ringue.
Foi assim, em 1960, com Joe Medel, ao "sobreviver" a uma série de golpes duros do rival. Ou contra Shig Fukuyama, em 1972, quando tudo parecia perdido.
- Foi um sacrifício enorme, mas tudo valeu a pena - diz.
Eder foi e continua sendo um exemplo para os esportistas do país, em um ano olímpico. Neste sábado à noite, em Santos, ele será homenageado e recepcionado por Miguel de Oliveira, Valdemir Sertão Pereira e Acelino Popó Freitas, os outros brasileiros campeões mundiais brasileiros. Muito justo.
E Eder promete que vai "nocautear" o bolo.
O QUE FALARAM DELE
MIKE TYSON
“Quando me perguntam sobre o Brasil, logo lembro de Eder Jofre. Vi muito de suas lutas em filmes que tinha na casa de Cus D’Amato. Sempre admirei muito o seu estilo de luta. Muito agressivo e golpes fortes na linha de cintura."
FIGHTING HARADA
“Eder Jofre foi o maior adversário da minha carreira. Fiquei em pânico quando descobri que iria lutar com ele. Era muito resistente e um grande pegador. Sabia que para derrotá-lo teria de estar acima de minhas condições."
NEWTON CAMPOS
“Tive o prazer e a honra de acompanhar toda a carreira do Eder. Jamais vai nascer outro boxeador como Eder Jofre. Ele era completo. Sabia aplicar todos os golpes, caminhava com elegância no ringue e suportava castigo."
QUEM É ELE
NOME
Eder Jofre
NASCIMENTO
26/3/1936 - São Paulo
Cartel
Eder Jofre lutou 81 vezes como profissional. Foram 75 vitórias, com 52 nocautes, quatro empates e duas derrotas. O Galo de Ouro foi campeão dos galos de 1960 a 1965 e dos penas de 1973 a 1974. Ele permaneceu invicto de 1957 a 1965. O maior boxeador brasileiro se apresentou no Japão, Colômbia, Filipinas, Estados Unidos, Venezuela e Uruguai.
COM A PALAVRA
WILSON BALDINI JR., editor do Lance! e especialista em boxe
"Infelizmente, não pude acompanhar toda a carreira de Eder Jofre. Mas meu pai era publicitário da TV Tupi nos anos 70 e era o responsável por vender o patrocínio para que a luta fosse transmitida pelo canal. Cada combate era um evento em casa e uma alegria que jamais vai sair da minha cabeça. Meu pai torcia para que o Eder não derrubasse rápido o adversário, pois assim o faturamento da emissora seria maior. Mas geralmente o Eder acabava logo com a luta. Obrigado, Eder! Por me ajudar a ter uma infância feliz."
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