Estudo aponta melhor horário para pessoas hipertensas se exercitarem
Hipertensão resistente é o nome dado àquele paciente que toma três ou mais tipos de remédios já incluindo o diurético; esse estudo pode beneficiar ainda mais esses pacientes
Por Dr. Rafael Fonseca, ortopedista e médico do esporte.
Um recente estudo publicado no periódico Clinical and Experimental Hypertension (veja os detalhes aqui) pode ajudar os profissionais da saúde a orientarem o melhor horário para a prática de atividade física de pacientes hipertensos a fim de potencializar os benefícios do tratamento à base de remédios para o controle da doença.
Hipertensão resistente é o nome dado àquele paciente que toma três ou mais tipos de remédios já incluindo o diurético; ou quatro ou mais tipos de fármaco e que ainda assim não obtém o controle da pressão alta. Esse estudo pode beneficiar ainda mais esses pacientes.
Pesquisadores da EEFE-USP (Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo) com o apoio da Fapesp compararam o efeito de duas classes bastante usadas de medicamentos anti-hipertensivos sobre um fenômeno conhecido como hipotensão pós-exercício – queda esperada e benéfica da pressão arterial que é induzida pela prática de exercícios físicos, principalmente quando feita no fim do dia.
Foram avaliados 29 homens hipertensos, que tomavam por pelo menos quatro meses apenas uma das classes da droga. Foram submetidos a dois testes de esforço máximo – neste caso, o uso de bicicleta ergométrica com incrementos de 15 watts por minuto até a exaustão. As sessões, realizadas de manhã, entre 7h e 9h, e à noite, entre 20h e 22h, ocorreram em dois dias diferentes (intervalo de três a sete dias entre cada uma) e a ordem foi aleatorizada. Além disso, os avaliadores não sabiam qual medicamento cada voluntário tomava. Os pesquisadores aferiram a pressão arterial antes e 30 minutos depois dos exercícios.
Os pesquisadores compararam o efeito dos bloqueadores de receptores da angiotensina 2 (BRAs) e dos inibidores da enzima conversora de angiotensina (iECAs), em sessões de exercício realizadas de manhã e à noite. No grupo que tomava medicamentos da classe BRA, a queda média foi de 11 milímetros de mercúrio (mmHg) à noite e 6mmHg pela manhã. Já o dos iECA, a queda média foi de 6mmHg e 8mmHg, respectivamente. Isso mostra que no período noturno a diferença nos valores é de quase 50% e no período diurno a diferença foi semelhante nos dois grupos.
Os dois medicamentos estudados, BRA e iECA, agem na mesma via da hipertensão, regulando a angiotensina 2, hormônio que causa vasoconstrição sanguínea e, portanto, induz o aumento da pressão arterial. Só que os mecanismos são diferentes. Enquanto o BRA bloqueia o receptor do hormônio nos vasos, o iECA atua inibindo a enzima responsável por converter a angiotensina 1 para a angiotensina 2.
Nosso organismo é guiado pelo ciclo circadiano e com a pressão arterial não é diferente. Os mecanismos que a reduzem estão mais ativos à noite, como preparação para o repouso, enquanto os que a elevam ficam mais ativos. Ou seja, nessa teoria o período noturno é uma janela de oportunidade para atingir reduções mais significativas da pressão arterial.
Todas as pessoas que realizam atividades físicas aeróbicas podem experimentar algum nível de hipotensão pós-exercício, mas nos hipertensos esse declínio é ainda mais significativo. Há uma média de 8 a 10mmHg de redução na pressão sistólica e 4 a 6mmHg na diastólica, sem a presença de efeitos colaterais negativos como enjoo, ânsia e tontura.
O exercício físico traz inúmeros benefícios à saúde cardiovascular. Ter cientificamente comprovado um melhor horário para a prática de atividade física faz com que o tratamento do paciente seja somatizado e os resultados sejam mais satisfatórios.