Pioneira e multicampeã no Boxe e Kickboxing, Fernanda Caiado relembra trajetória e conquistas
Pioneira no Brasil na prática do Boxe e Kickboxing feminino, Fernanda Caiado passa a limpo sua trajetória repleta de títulos, fala sobre atual rotina nos Estados Unidos e faz planos; veja a entrevista completa:
Por Mateus Machado
Fernanda Caiado possui uma trajetória voltada às artes marciais, onde fez história no Kickboxing e também no Boxe, sendo multicampeã e contabilizando combates marcantes em ambas as modalidades. O início, no entanto, contou com passagem por outros esportes e práticas físicas, como o Ballet, Alpinismo e até mesmo a Natação.
Natural de Brasília, Fernanda revelou que seu começo nas artes marciais se deu após um convite de uma amiga, Carla Ribeiro, tetracampeã mundial de Caratê, e posteriormente por um elogio feito pela lenda do Boxe Acelino Freitas, o “Popó”. Foi o pontapé inicial de uma carreira que ficou marcada por inúmeros títulos e momentos memoráveis.
- A convite de uma amiga que era tetracampeã mundial de Caratê, Carla Ribeiro, fui fazer um treino de Kickboxing e me senti muito à vontade com a modalidade. Em 1998, participei, junto com a Carla, de um evento de artes marciais do atleta e também ator Chuck Norris, que aconteceu em Chicago. Dali para frente, percebi que havia nascido para as artes marciais, me apaixonei completamente pelo esporte. Em 2000, tive o prazer de conhecer o tetracampeão mundial de Boxe Popó Freitas. Ele foi defender o cinturão dele em Brasília, e na oportunidade, treinou no mesmo local onde eu treinava. Quando ele me viu treinando Kickboxing, me disse que eu deveria treinar Boxe também, pois disse que eu tinha um nível de Boxe muito técnico. Seguindo os passos do campeão, comecei a me dedicar também ao Boxe, e no mesmo ano tive o prazer de fazer a primeira luta de Boxe feminino no Distrito Federal e venci por nocaute no segundo round - relembrou.
Pioneira do Boxe feminino no Distrito Federal, Fernanda Caiado fez valer os elogios recebidos por Popó e, conciliando treinos e competições no Boxe e no Kickboxing, trilhou uma trajetória multicampeã. Oito vezes campeã brasileira, tricampeã sul-americana, tricampeã pan-americana, campeã da Copa do Mundo da Hungria de Kickboxing, além de bicampeã brasileira de Boxe, a brasiliense fez história entre as mulheres nas modalidades de luta e citou um dos momentos mais marcantes da sua carreira, que aconteceu no Pan-Americano de Kickboxing, em 2004, na Argentina.
- Sempre levei muito a sério os meus treinamentos e a minha carreira, então toda competição para mim era um desafio. Porém, posso citar o Pan-Americano de Kickboxing, em 2004, na Argentina, mesmo ano em que nasceu minha primogênita, Maria, e ela tinha apenas 9 meses quando fui competir. Eu ainda a amamentava, então tudo foi muito desafiador, inclusive o corte de peso, por estar amamentando, e por ter sido a campeã pan-americana em 2002. O campeonato Pan-Americano de Kickboxing acontecia de dois em dois anos e eu trazia o peso de ser a atual campeã. Fiz três lutas duríssimas, mas a primeira com a chilena foi a mais difícil. Senti o peso de estar fora do ritmo de competição, pois durante a gestação e por mais nove meses não pude treinar forte, e senti a falta de ritmo no primeiro round. Inclusive, perdi o primeiro round, mas no intervalo entre o primeiro e o segundo round parece que a ficha caiu e aquela Fernanda voltou. Venci os dois últimos rounds e a luta, fiz a final com uma argentina, na casa dela, e venci por unanimidade - destacou.
Tendo uma grande parcela de importância no crescimento do Boxe e Kickboxing feminino no Brasil, Fernanda foi uma das pioneiras das modalidades no país e precisou superar inúmeros desafios, um deles o preconceito às mulheres nos esportes de combate. Um fato importante a ser mencionado é que a prática do Boxe, até o ano de 1996, era proibida na Inglaterra. Já nos Estados Unidos, a Suprema Corte reconheceu o direito das mulheres em lutar Boxe somente em 1992.
No ano de 1997, foi realizado o primeiro campeonato de Boxe feminino nos EUA. Fernanda Caiado, em demonstração clara de pioneirismo, começou a treinar em 1998, sendo uma das primeiras mulheres a representar o Brasil internacionalmente. Outra curiosidade envolvendo o Boxe é o fato de que se tornou esporte olímpico desde 1904, mas se tornou um esporte olímpico na modalidade feminina somente em 2012.
Com uma importância clara e legítima para o desenvolvimento e evolução das modalidades de luta no Brasil e em outras partes do mundo, Fernanda foi responsável pela formação de diversos atletas e, há anos, lidera treinos de Boxe e Kickboxing, até mesmo em categorias masculinas. A multicampeã também é um nome de peso e foi determinante para a consolidação e crescimento das modalidades femininas de combate ao longo dos últimos anos no Brasil, seja através das suas conquistas, do seu papel de liderança e pelo trabalho desenvolvido com inúmeros atletas.
- Sou uma das precursoras no Boxe feminino no Brasil, e senti o peso do preconceito no início da minha carreira. Sou campeã brasileira de Boxe, e se o Boxe feminino fosse olímpico naquela época, provavelmente teria tido a chance de disputar uma Olimpíada. Procuro passar minha experiência e minhas habilidades para os meus alunos e é uma honra, como mulher, poder influenciar e liderar a nova geração de atletas ao longo dos últimos anos. Muitos também seguiram para as competições, por se inspirarem em minha carreira. Também pude passar muito da minha experiência quando treinei na equipe profissional da Team Nogueira, equipe dos irmãos Nogueira (Rodrigo Minotauro e Rogério Minotouro), no Recreio, Rio de Janeiro. Treinei lá em 2012 e 2013, e foi uma experiência maravilhosa poder treinar com os melhores e poder passar minha experiência no Kickboxing para os atletas de MMA. Aprendi muito também neste período, sempre participava dos treinos de Boxe com o professor Badola, atual treinador do Paulo Borrachinha, e com o treinador de Muay Thai, Vander Valverde Sempre competi no mais alto nível do esporte, enfrentando as melhores atletas do mundo e é motivo de muito orgulho ser referência para atletas femininos e masculinos -.
Morando atualmente nos Estados Unidos, Fernanda Caiado passa por uma nova fase em sua carreira. Apesar de ainda disputar alguns campeonatos eventualmente, a brasiliense tem se dedicado ao papel de professora e também como árbitra nos principais eventos de Kickboxing, como conta a seguir.
- Eu vim para os EUA em 2014, acompanhando meu marido em uma missão militar que duraria apenas dois anos. Quando ainda estava no Rio de Janeiro, pedi para o Rodrigo Minotauro me indicar um local para treinar em Washington DC, e ele me indicou a academia dos irmãos Yamasaki, Mário e Fernando. Então, logo que cheguei aqui comecei a treinar lá. No mesmo ano, no mês de julho, participei do US Open da Iska, em Orlando, na Flórida, representando a Yamasaki Academy, e conquistei o ouro. Quando a missão do meu marido terminou, o Fernando Yamasaki me convidou para representar a Yamasaki Academy, então resolvemos continuar vivendo aqui nos EUA. Além de dar aula lá, eu também participo como árbitra de eventos de Kickboxing aqui nos Estados Unidos, e de vez em quando, ainda luto em alguns campeonatos importantes.
Claro que com a pandemia os campeonatos deram uma parada. Eu amo as artes marciais e meus planos estão totalmente direcionados em influenciar cada vez mais a nova geração de atletas femininos e masculinos e seguir meu dever como uma referência mundial, desenvolvendo a arte marcial para os americanos. Também pretendo ter a minha própria equipe e quero continuar passando minha experiência para os meus pupilos - disse Fernanda, que por fim, falou do período de treinos que teve com Renato Moicano, atleta do UFC, e também com Carina Damn, um dos grandes nomes da história do MMA feminino.
- Eu aproveitei o tempo em que estive na Flórida para treinar com o meu amigo e conterrâneo Renato Moicano, e tive o prazer de conhecer e treinar com a lenda do MMA feminino, a brasileira Carina Damn, em sua nova academia, Base Martial Arts, em Coconut Creek, na Flórida. Eu sempre aproveitei as oportunidades que tive para treinar com atletas e em locais diferentes. Por exemplo, em diversas oportunidades, tive a honra de ser convidada para treinar em outros países com os melhores atletas do mundo e essa troca de conhecimentos é enriquecedora, como já ocorreu em Milão, onde passei três meses treinando junto à Confederação Mundial de Kickboxing (WAKO). Foi maravilhoso poder passar meus conhecimentos e experiências, e ao mesmo tempo receber experiências do Renato e da Carina, que são grandes atletas - encerrou.