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Praticante de Jiu-Jitsu, médico diz: ‘Treinar é a parte fácil do processo’

Com 36 anos, Rafael Fonseca é médico ortopedista e praticante de Jiu-Jitsu há anos; o paulista falou sobre o seu trabalho e o relacionamento com atletas das artes marciais

(Foto: Divulgação)
Doutor Rafael Fonseca já foi o responsável por tratar diversos atletas das artes marciais (Foto: Divulgação)

Escrito por

Por Mateus Machado

Com uma longa experiência na Medicina, o ortopedista Rafael Fonseca, de 36 anos, tem a seu favor o fato de também ser praticante de Jiu-Jitsu, o que torna sua relação com os atletas da arte suave e de outras modalidades de luta ainda melhor pela proximidade.

Em entrevista à TATAME, Rafael falou sobre a boa relação com os pacientes que são atletas de Jiu-Jitsu e, além de citar os lados favoráveis de ser praticante da arte suave no momento em que lida com os lutadores, também comentou que as dificuldades não estão apenas nos treinos diários, e sim no que envolve a rotina do atleta de alto rendimento.

- Treinar é a parte fácil, ir para academia é a parte fácil, ir lá em um ambiente saudável e gostoso. O que você faz fora da academia que é a parte difícil, seja de horário de dormir, de acordar, de sair, de comer, o que comer, a forma que vai levar a vida no dia a dia, então a parte difícil é o que faz fora da academia, não o que faz dentro. Então, essa é a principal diferença deles para qualquer atleta, não só na luta, mas qualquer outro atleta é assim, o que você faz treinando é a parte boa, saudável, a dor é habitual, então o atleta de alto rendimento está acostumado com a dor, então eles não reclamam de ter dor. A relação deles comigo acaba sendo uma relação mais tranquila porque eu já sofri com um pouco de tudo que eles sofrem, claro que com menor intensidade, mas já sofri, seja na parte de luta, de trocação… Já tomei muita porrada, sei o que dói e o que não dói, seja na parte do grappling, o que ele sente quando toma um golpe, qual é a dor que sente no armlock, como é tomar um leglock, o que doeu, uma omoplata, um triângulo. Saber o que um atleta sente quando toma um golpe, essa é a grande diferença para o médico que treina, não só para o médico, mas para o fisioterapeuta, educador físico, já tem essa grande diferença, pois uma coisa é você ler e uma é sentir. Acho que a base teórica é importante, mas a prática faz uma grande diferença - disse o médico, que também falou sobre a questão do desenvolvimento constante da tecnologia como um “aliado” hoje.

- Eu vejo a tecnologia como uma alavanca de recuperação muito mais rápida, mas principalmente, de prevenção de qualquer lesão. Hoje a gente tem muitos recursos, está mais fácil de conseguir o limite máximo do atleta. Hoje eu falo para o atleta sempre que tenho que trabalhar com ele o mais próximo do 98%, o 101% significa que esse um a mais ele está sofrendo é o sofrimento do atleta fora de hora, causa desgaste, e o desgaste fora de hora é muito mal visto. Então, trabalhando preventivamente a gente tem bastante tecnologia, em vários lugares, atendimentos que me ajudam muito em questão de exames de sangue e outros recursos que a gente tem. A tecnologia é importante e isso tem trazido ao atleta um nível de rendimento muito superior ao que já se viu um dia, acho que tem campo demais para conseguir melhorar muito. A tecnologia é essencial na vida de qualquer médico e qualquer atleta - afirmou Rafael, que para concluir, citou um caso envolvendo o faixa-preta Roberto Satoshi, que durante a final do Mundial de Jiu-Jitsu da IBJJF em 2017, contra Lucas Lepri, acabou sofrendo uma lesão no ombro e precisou deixar a luta.

- Um momento curioso, que mostra bastante a dedicação e superação de um atleta é falar da lesão que o Roberto Satoshi teve na final do Mundial da IBJJF de 2017. Ele lutando contra o Lucas (Lepri), duas lendas do Jiu-Jitsu, e ele teve uma luxação de ombro que o forçou a abandonar a luta. Ainda no tatame, o Maurício, que é irmão dele, me ligou, perguntando o que fazer, como conduzir, porque já havia tido uma luxação anterior e basicamente só eu sabia disso, porque eu estava controlando isso, e mostrou para mim o tamanho desse atleta, o tamanho da força de vontade, da aptidão física, da vontade de vitória, de superar limites. Esse cara se mostrou um monstro, apesar da idade ser muito nova, eu conheci ele com uns 4 anos de idade, acompanho ele desde muito cedo, e isso me mostrou o tamanho da lealdade para comigo e para com o esporte. Depois disso, eu tive o prazer de operá-lo e ele (Satoshi) já voltou para as competições com tudo - encerrou.

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