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Brasil gasta seis vezes menos que potências na luta contra o doping

País conta com laboratório de ponta que é legado da Rio-2016, mas ainda engatinha no sistema antidopagem. Orçamento anual de R$ 6,7 milhões está longe dos países europeus

LBCD Capa
imagem cameraLBCD, no Rio, é o único laboratório credenciado pela Wada na América do Sul (Arte: Marina Cardoso/Lance!)
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 26/09/2019
01:31
Atualizado em 27/09/2019
13:42

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A realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos no Rio de Janeiro, em 2016, marcou uma nova era para o Brasil no combate ao doping. Investimentos em equipamentos de ponta e aprendizados científicos com profissionais de excelência de diversos cantos do mundo são legados comprovados. Mas o setor ainda engatinha no país, que enfrenta este ano uma onda de casos envolvendo atletas de todos os níveis.

A Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) é uma das secretarias vinculadas à Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. Seus objetivos são promover e expandir a cultura antidopagem no Brasil, aprimorar os processos de gestão e governança, e fiscalizar e gerir os procedimentos de controle no território.

O orçamento da ABCD nos anos de 2018 e 2019 foram de R$ 6,7 milhões, direcionados para ações de educação antidopagem, que envolvem todas as modalidades, e para a execução do Plano de Distribuição de Testes (PDT), aprovado pela Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês). Por exigência, a entidade brasileira realiza mais de 30% deles fora de competições e cerca de 70% nos eventos.

A comparação com países considerados referências no combate ao doping mostra a disparidade em relação ao Brasil, que gasta seis vezes menos que as potências europeias. O governo do Reino Unido fortaleceu o aporte para a luta contra o doping em 2018, com um acréscimo de 6 milhões de libras (R$ 30,8 milhões), entre 2018 e 2019, na Agência Antidoping do Reino Unido (Ukad). O investimento anual no setor está em 8 milhões de libras (R$ 41 milhões). Na França, os números são próximos: cerca de R$ 38 milhões.

O objetivo dos ingleses com o aumento passou a ser realizar até 5 mil testes adicionais por ano, além das 10 mil amostras que já coletavam antes.

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O orçamento da Agência Antidoping dos Estados Unidos (Usada) é ainda mais impressionante. Em 2018, foi de US$ 21,9 milhões (R$ 90,8 milhões). As receitas vêm do governo e de contratos privados de serviços com organizações esportivas. Há, por exemplo, um programa específico para o UFC.

– Temos de torcer para que a ABCD consiga, com os poucos recursos que existem, ampliar as bases de controle, os exames, dentro e fora de competição, e passaporte biológico. Isso inibirá um pouco o uso de substâncias proibidas, sobretudo intencionais, quando organizações criminosas participam em redes sociais com atletas e técnicos para incentivar a prática – disse Paulo Schmitt, que é Procurador-Geral do Tribunal de Justiça Antidopagem (TJD-AD).

Ainda que a passos lentos, o controle aumenta. Em 2018, o órgão informou que atuou em 7.584 exames de dopagem e houve 45 resultados analíticos adversos positivos. Em 2019, foram realizados, até o dia 16 de setembro, quando a agência respondeu à solicitação do LANCE!, 4.717 testes , dos quais 40 já deram positivo. Os dados já indicam uma evolução no aproveitamento do controle, no sentido de direcionar recursos em coletas que, de fato, levarão à fraude.

Gráfico 4 ABCD
Números de casos detectados cresce em 2019 (Arte: Marina Cardoso)

As análises das amostras são feitas pelo Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem (LBCD), que fica na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A estrutura foi reformada para a Rio-2016, ao custo de R$ 188 milhões por parte do governo federal.

– Nosso sistema antidopagem está apenas começando. A grande questão é coletar a amostra certa, da pessoa certa e no momento certo. Para isso, temos de intensificar os exames. Minha visão é positiva, pois o número de análises está aumentando e, consequentemente, o número de resultados analíticos adversos também – disse o professor Henrique Pereira, diretor do LBCD.

A falta de educação antidopagem é um dos fatores que contribui para a onda recente do problema. Alegações de contaminação cruzada por substâncias especificadas (presentes em diversos medicamentos e que não indicam necessariamente ganho de performance) são frequentes. Em muitos casos, sem que o atleta tome os cuidados necessários para usar suplementos. A ABCD afirma que ações nesse sentido estão em andamento, com foco não só no alto rendimento, mas também nos jovens.

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Gráfico 6: Tipo de substância
Substâncias especificadas, presentes em medicamentos, como a encontrada em Rafaela Silva, são maioria (Arte: Marina Cardoso)

“Entre as estratégias, a ABCD realiza de forma contínua atividades educativas sobre combate à dopagem. Entre as ações está a Campanha #JOGOLIMPO que somente no ano passado atendeu 138.438 pessoas, entre crianças, adolescentes, atletas, familiares e profissionais que atuam na área do desporto, por meio de palestras educativas realizadas pelo país’’, informou a ABCD.

A entidade informou ainda que está investigando o recente aumento de casos por SARMs no Brasil. Em 2019, quatro atletas tiveram suspensões por substâncias do tipo: Andressa de Morais (atletismo) e Kacio Freitas (ciclismo), ambos no Pan de Lima, além de Bia Haddad Maia (tênis) e Henrique Martins (natação). Apesar da igualdade entre os gêneros neste caso específico, os homens são maioria em violações na análise geral de 2018.

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Gráfico 5: Uso por sexo TJD-AD
Homens são maioria nos casos positivos (Arte: Marina Cardoso/Lance!)

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