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Brasileiro que já disse não ao Bahia luta para fazer história no atletismo

Atleta mais cotado a quebrar a barreira dos 10 segundos na prova dos 100m no país, Paulo André quase foi parar nos gramados. Em grande fase, jovem é atração do Ibero-Americano

Paulo André de Oliveira
imagem cameraPaulo André é uma das atrações do Ibero-Americano, que acontece no fim de semana (Foto: Carol Coelho/CBAt)
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 22/08/2018
22:06
Atualizado em 23/08/2018
08:00

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Um privilegiado. É assim que Paulo André de Oliveira se sente ao viver a fase mais expressiva de sua carreira no atletismo. O jovem de 20 anos é uma das atrações do Campeonato Ibero-Americano, que terá início nesta sexta-feira e vai até domingo, em Trujillo, no Peru. A cada competição dele, a expectativa por um grande feito aumenta.

É que o garoto, nascido em Santo André (SP), mas criado desde bebê em Vila Velha (ES), desponta atualmente como o brasileiro mais cotado a quebrar a barreira dos 10s na prova mais curta e popular do esporte.

Em junho, fez 10s06 no Meeting de Madri (ESP). Desde que Robson Caetano cravou 10s para vencer nesta mesma competição, no dia 22 de julho de 1988, nenhum sul-americano sequer o igualou.

Paulo, que representa o Pinheiros, é filho do ex-velocista da Seleção Brasileira Carlos Camilo, seu treinador e professor de Educação Física. E conta que, durante anos, não ouviu do pai muitas conversas sobre a carreira nas pistas. O que encantava o garoto mesmo era o futebol.

– Jogava futebol junto, e não largava por nada. O Bahia já quis me levar. Fiz teste e gostaram. Mas minha mãe disse que não queria que eu fosse, porque eu era muito novo. Jogava bola, como todo garoto, e meu pai nunca foi de falar da carreira dele, de forçar nada, mas sempre fui veloz – disse Paulo, ao LANCE!.

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Paulo André defende o Pinheiros (Foto: Divulgação)
Paulo André defende o Pinheiros nas competições (Foto: Divulgação)

Em um país onde muitos atletas sofrem com a falta de estrutura para treinar, o velocista até enfrentou barreiras no início da carreira, mas encontrou o que precisava para se desenvolver, depois de muita burocracia. A entrada na modalidade foi impulsionada por um projeto de Carlos, em Vila Velha, que busca novos talentos.

– Um dia, ele me chamou para correr no projeto de atletismo. Sem treinar, ganhei a competição. Depois, comecei a treinar. E fui ganhando competições. Um dia tomei uma porrada em uma competição, fiquei sentido e falei: "tenho que ganhar desse cara". Levava jeito e o futebol foi ficando pra trás com o tempo. Então, comecei a entender a história do meu pai. Futebol hoje eu só jogo nas ferias, mas mando bem (risos) – contou o velocista.

Hoje, Paulo utiliza a pista da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e mantém vínculo com o Pinheiros para disputar as competições. No exterior, é um dos atletas auxiliados pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB), que custeia algumas viagens. Em outros casos, ele precisa tirar dos bolsos.

– Consegui uma marca de expressão no país, mas trabalhamos em cima da melhoria. Foi algo esperado e rápido, do início do ano para o meio. Passei um período na Europa bom para ganhar experiência. Houve todo um preparo para chegar aos 10s06 – afirmou o atleta, que tem objetivos claros para o futuro:

– Pretendo chegar no auge a Tóquio-2020 para fazer bonito. Ser medalhista olímpico é meu sonho.

Em 2016, Paulo fez parte do projeto Vivência Olímpica, do COB. O objetivo é antecipar a experiência olímpica de nomes com potencial para o ciclo seguinte. Ele pôde acompanhar treinos e visitar a Vila Olímpica e o Espaço Time Brasil.

Americanos dominam e Baker crava marca do ano

A caminhada de Paulo André ainda é longa. Os 10s06 registrados pelo capixaba na Espanha o fizeram igualar André Domingos, que obteve o mesmo em 1999. Mas, por mais relevante que seja no país, o resultado ainda está longe dos tempos anotados hoje pelos maiores velocistas do mundo.

Na última quarta-feira, o americano Ronnie Baker assumiu a liderança do ranking da temporada dos 100m ao vencer o Meeting de Chorzow (POL), com 9s87. Ele superou o compatriota Noah Lyles, outro destaque da distância na atualidade, que fez 9s88, em junho.

A marca mais veloz de todos os tempos ainda é do jamaicano Usain Bolt, já aposentado, de 9s58, registrada no Mundial de Berlim (ALE), em 2009.

Baker também quebrou o recorde anterior de 9s98, estabelecido por Bolt em 2014, quando o mesmo Meeting polonês foi realizado em Varsóvia.

O americano dominou a corrida e terminou mais de 0s20 à frente do vice-campeão Mike Rodgers, que marcou 10s10. O campeão mundial e europeu de 200m, Ramil Guliyev, da Turquia, ficou em terceiro: 10s24.

Aos 24 anos, Baker chegará à final da Liga Diamante, em Bruxelas (BEL), na semana que vem, na ponta da lista.

Outros brazucas buscam medalha

O Ibero-Americano terá 31 atletas brasileiros. Além de Paulo André de Oliveira e Vitória Rosa, que lideram o ranking brasileiro dos 100m, a delegação terá nomes mais experientes, como Rosângela Santos, finalista dos 100m no Mundial de Londres, em 2017.

Recordistas sul-americanos também estão na relação, como Gabriel Constantino, nos 110 m com barreiras, Darlan Romani, no arremesso do peso, e Andressa de Morais, no lançamento do disco.

A competição reúne nações das Américas, Europa e África de falas espanhola e portuguesa.

BATE-BOLA
Paulo André de Oliveira
Velocista, ao LANCE!

‘Tenho de ter paciência, ir com calma e respeitar os limites do meu corpo’

Você conheceu o Robson Caetano? Ele te incentiva a quebrar o recorde dele, de 30 anos, nos 100m?
O Robson é um grande amigo do meu pai. Já estive com ele quando era pequeno, e por rede social ele me falou que eu tenho tudo para bater a marca dos 10s. Isso me motivou, afinal, foi um grande atleta. Meu pai fala bem dele. Muito dedicado. Um cara para eu me espelhar. Não à toa, detém o recorde brasileiro há tantos anos.

Como tem sido o seu planejamento? Pensa em buscar resultados no revezamento 4x100m também?
No revezamento não prometo, mas temos grandes chances de medalhas. São cinco atletas correndo em 10s15. Queremos fazer uma prova bonita, mas quero chegar bem na individual. Temos de ir etapa a etapa. Tem barreiras a serem ultrapassadas.

Que balanço faz do seu 2018?
Já atingi a meta que queria no ano, de 10s10s. E ainda podemos abaixar o tempo. É ter paciência e ir com calma, respeitando os limites do corpo. Sou novo e tenho um caminho longo.

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Robson Caetano
Robson Caetano conduziu a tocha da Rio-2016. Seu recorde sul-americano nos 100m já dura 30 anos (Foto: Divulgação)

COM A PALAVRA

Importante é aumentar nível no país

Robson Caetano
Recordista sul-americano dos 100m

Os resultados são acumulativos. O Paulo está em processo de crescimento muito positivo. Ficou em posição mais confortável devido às lesões de alguns concorrentes. Existe um nível de competitividade grande no Brasil que o favorece. Ele está fazendo o Circuito Europeu e provas nos EUA. Porém, o mais importante é aumentar o nível de competitividade no país. Com isso, começaremos a trazer maior número de atletas para realizar boas marcas. Com 10s06, ele igualou André Domingos. É muito positivo ver que existe uma nova geração chegando. Não é agradável para mim dizer que sou recordista sul-americano nos 100m, pois mostra que não há evolução. O Paulo consegue mostrar que estamos no caminho.

* Colaborou Vitor Chicarolli

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