Coluna do Bichara: Procissão com ou sem chuva
Luiz Gustavo Bichara analisa o GP de Mônaco
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Após um intervalo de três semanas decorrente do cancelamento do GP de Imola, em face das trágicas chuvas que castigaram a Emilia Romagna, mais uma vez a F-1 chegou ao seu GP mais glamouroso, Monaco. Um circuito travado, onde as ultrapassagens são quase impossíveis, mas que é, indisputavelmente, a corrida mais charmosa do ano.
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A imagem abaixo ilustra bem a situação. A corrida tem palco nas mesmas ruas desde os anos 40. Vejam abaixo a diferença de tamanho (tanto largura como comprimento) de um F1 daquela época e o de hoje em dia. A estreita pista (que não passa dos 12 metros) torna as ultrapassagens praticamente impossíveis. Todos chegam a Monte Carlo já sabendo bem disso, razão pelo qual o sábado tem uma importância transcendental no Principado. Quem larga na frente tem mais de meio caminho andado.
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Fora da pista, há muito burburinho em decorrência do “retorno” da Honda à F-1. Assim entre aspas, pois isso parece mais a volta dos que não foram, na medida que a Honda formalmente saiu da F1 em 2021, deixando de fornecer motores para a Red Bull, mas continuou ajudando o time austríaco no chamado Red Bull Power Trains, que nada mais é que um desenvolvimento do antigo Honda. Mas a partir de 2026 a montadora japonesa fará, em suas palavras, um full-scale return, na qualidade de fornecedora de motores da Aston Martin. A notícia caiu como uma bomba, principalmente no time austríaco, que acusou a Honda de ter recebido as 30 moedas da traição. Cristian Horner afirmou que só fechou uma parceria futura com a Ford para desenvolvimento do seu motor elétrico em função da partida dos japoneses.
Também rolou bastante fofoca quanto ao futuro de Lewis Hamilton: ora dando conta de sua aposentadoria, ora especulando-se sobre sua ida para a Ferrari. O jornal inglês Daily Mail chegou a noticiar uma oferta de salário de 40 milhões libras (246 milhões de reais) para convencer Hamilton a encerrar sua carreira no time italiano. Segundo o jornal, o próprio presidente da Ferrari, John Elkann, estaria em contato com o inglês. Ambos os boatos foram peremptoriamente desmentidos pelo multicampeão, que disse estar muito próximo da renovação com a Mercedes, e que não pretende parar tão cedo, pois se considera no auge.
No sábado, havia muita expectativa em torno da classificação. No meio do Q1 Sérgio Perez passou batido na reta dos boxes estampando o guard rail violentamente. Ali já ficou claro que o mexicano largaria em último, e dificilmente conseguiria pontuar. Já a outra Red Bull, de Max Verstappen, vinha fazendo tempos ótimos, contrariando a tese de que os Touros não seriam favoritos em Monaco. No Q3, no entanto, Alonso fez uma volta excelente que parecia lhe garantir a pole - enquanto seu companheiro de equipe, Lance Stroll, havia ficado pelo Q2. Verstappen, na derradeira tentativa, fez os 2 primeiros trechos do circuito 0,3 décimos acima do tempo de Alonso. A equipe Aston Martin estava quase comemorando, quando o holandês bateu o tempo de Alonso, tirando esses 0,3 décimos apenas no terceiro trecho - que dura aproximadamente 19 segundos. Foi, nas palavras do próprio Alonso pelo rádio, uma mágica. Charles Leclerc Havia feito um bom terceiro lugar, mas foi punido por ter obstruído Lando Norris, perdendo 3 posições, deixando Esteban Ocon em 3º no grid.
Na largada de domingo, o sol sorria para os 83% de previsão de chuva (como dizia Groucho Max, é muito perigoso fazer previsões, sobretudo quanto ao futuro). Como costuma acontecer em Monte Carlo, a partida se deu no estilo procissão, com praticamente nenhuma alteração relevante no pelotão da frente. Enquanto Verstappen e Alonso seguiam tranquilos na ponta, seus companheiros de equipe viviam infernos astrais: Stroll tocou o muro e já tinha um pneu furado nas primeiras voltas, enquanto Perez fez uma parada e já colocou pneus duros para teoricamente não precisar parar mais, o que o deixou muitos segundos atrás do pelotão.
Na 12ª volta Ocon já estava 12 segundos atrás dos líderes. Salvo escaramuças entre a turma do fundão, a corrida seguiu calma e com pouquíssimas alterações de posição. Lá pela volta 52 os pilotos começam a reportar que a pista estava molhada, e na 54 realmente começou a chover nas partes do circuito mais próximas ao mar. Neste momento Carlos Sainz e Ocon travavam o que terminou sendo a disputa mais animada da prova, e meio ao tráfego que em Mônaco parece sempre inevitável. A chuva engrossou e os carros que tentaram ficar na pista proporcionaram um show de rodadas e batidas.
A essa altura, todos começaram a parar e colocar pneus intermediários. A única exceção foi Alonso que, dobrando a aposta, colocou jogos para a pista seca. Mas infelizmente não colheu dividendos: a chuva engrossou e ele foi obrigado a parar mais uma vez para uma nova substituição de pneus, abandonando qualquer chance de um ataque ao líder. Enquanto isso, seu companheiro de equipe Stroll derrapava e batia mesmo usando pneus intermediários; lembrou Lucio Flavio, pois era passageiro da agonia.
Embora a chuva tenha dado uma embaralhada na prova, lá na frente nada mudou. Como tinha uma grande vantagem sobre Ocon, Alonso conseguiu segurar a segunda posição mesmo tendo errado na opção de pneus. Já Verstappen, a essa altura, colocava a segunda volta sobre Perez, que realmente não conseguiu descolar do último pelotão.
Mais uma vez Verstappen venceu tranquilamente, escoltado por Alonso e Ocon, que conseguiu um importante terceiro lugar para a Alpine. Na sequência vieram as duas Mercedes de Lewis Hamilton e George Russel, e só então o dono da casa, Leclerc.
Se Perez esperava realmente ser páreo para o atual campeão Verstappen (coisa que, além dele, somente Antônio Perez, seu pai, acredita), está recebendo a visita da realidade, na medida que o holandês está 39 pontos a sua frente. Enquanto isso Alonso vem a apenas 12 atrás, ou seja, barbarians at the gate. Tudo indica e leva a crer que o mexicano terá que encarar um longo e doloroso velório dos seus próprios sonhos e ilusões.
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