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Coluna do Bichara: o Smooth Operator

Colunista recorda polêmica da F1 em 2008 e fala sobre vitória de Sainz no GP de Singapura

GP de Singapura - Largada
GP de Singapura foi disputado no domingo, dia 17 (Foto: AFP)

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Há 15 anos a F1 via sua 1ª corrida noturna. Era a inauguração do Circuito de Marina Bay, onde, desde então, se disputa o GP de Singapura – este ano com uma ligeira alteração no traçado, que o encurtou em 123 metros, expurgando quatro curvas de baixa.


Um fato ocorrido que naquele 2008 voltou às manchetes recentemente, o episódio conhecido como Singapuragate: um acidente deliberadamente provocado por Nelsinho Piquet, para, forçando a entrada do Safety Car, dar a vitória para seu então companheiro de equipe Fernando Alonso. Declarações recentes de Bernie Ecclestone reascenderam o tema, uma vez que o antigo chefão da F1 disse ter sabido, ainda naquele ano, da trampa. Então Massa decidiu reagir, ingressando com medidas judiciais para anular a prova, o que lhe daria o título – perdido naquele ano para Hamilton por um mísero ponto.

AUTO-PRIX-F1-SIN-QUALIFYING - Carlos Sainz - Singapura
Sainz venceu o GP de Singapura de 2023 (Foto: MOHD RASFAN/AFP)

Muito tem sido escrito sobre esse tema, e não quero chover no molhado. Há, todavia, um aspecto dessa trama – ou melhor, um personagem – que sempre é esquecido: o próprio Alonso. Geralmente enaltecido por seu talento e combatividade, o espanhol, que completou nesse final de semana 100 mil km rodados num F1, tem sua faceta de Dick Vigarista. Nelsinho foi banido do esporte, assim como Flavio Briatore, dirigente da equipe Renault à época, e mentor intelectual da calhordice. Mas e Alonso, o grande beneficiado? Por que o mundo da F1 passa pano nisso?

E só para lembrar, um ano antes disso, em 2007, Houve outro escândalo envolvendo espionagem, dessa vez entre McLaren e Ferrari, e quem era de novo o elemento em comum? Alonso.  Naquele ano, a equipe inglesa foi desclassificada do mundial de construtores e pagou uma multa recorde US$ 100 milhões, mas novamente nada aconteceu com o espanhol, que sabia do esquema e dele se beneficiou. Num e-mail para Nigel Stepney (o traidor da Ferrari) ele perguntava : “Do you know the red cars balance”?

Voltando para o ano presente, outro tema que agitou a F1 foi a infeliz declaração de Helmut Marko – o plenipotenciário da Red Bull: “Perez não é consistente, nem sempre está focado (..)Vamos lembrar que ele é sul-americano e é por isso que sua cabeça não está tão focada quanto a de Verstappen ou Vettel”.

Pelo visto, Marko além de ter faltado a aula de geografia (para supor que o México fica na América do Sul), não conhece a história da própria F1, ignorando o fato de que durante a maior parte da história da categoria quem deteve o recorde absoluto de títulos mundiais foi o argentino Juan Manuel Fangio. Como disse Nelson Rodrigues, realmente “o grande acontecimento do século é a ascensão fulminante do idiota” .

Nas pistas, novidades. Aparentemente afetadas por uma nova diretiva técnica da FIA sobre as asas móveis, as Red Bull não performaram nada bem. A brilhante Juliana Cerasoli explicou bem: “fácil entender por que a flexibilidade das asas está sempre no alvo da FIA. Se as equipes pudessem, correriam com asas grandes nas curvas e pequenas ou inexistentes nas retas. Como isso não é possível, eles tentam gerar um nível de flexibilidade nas asas para que elas mudem sua posição dependendo de quão veloz o carro está. A ideia é gerar menos resistência ao ar quando se está em alta velocidade”.


Sem o domínio da Red Bull (ambos ficaram pelo Q2, ainda com a suprema ironia de Verstappen não chegar ao Q3 por apenas uma posição, perdida no segundo final para Lian Lawson, o estreante que substitui Daniel Ricciardo na Alpha Tauri), o treino foi marcado por uma violenta pancada de Lance Stroll (tão forte que ele sequer largou no domingo). As Ferrari brilharam cravando pole com Carlos Sainz e 3º lugar com Charles Leclerc; entre eles se meteu George Russel.

Se o grid prenunciava uma boa corrida, o resultado foi melhor do que o esperado. As Ferrari largaram bem, Sainz sustentando a ponta e Leclerc, de pneus macios, tomando o 2º lugar de Russel, para poder desempenhar o papel de escudeiro. Leclerc vinha seguindo de perto Sainz, quando recebeu pelo rádio várias mensagens pedindo que ele mantivesse uma distância de três segundos – e depois cinco. Ou seja, a ideia era deixar Sainz um pouco a frente e embolar o pelotão, evitando-se algum undercut. A equipe italiana parecia ter acertado no xadrez da estratégia, inclusive com o sacrifício do peão.


Na volta 19, Logan Sargeant bateu no muro e o Safety Car foi despachado. Com isso quase todos os carros foram para os boxes, se aproveitando do tempo de parada reduzido – 18 segundos, contra 25 de uma normal. Nesse momento, a Ferrari não surpreendeu ninguém: errou no pit de Leclerc, fazendo ele perder precioso tempo e duas posições para as Mercedes.

As Red Bull decidiram não parar. Verstappen, que estava calçado com pneus duros, seguiu na pista – na certa apostando noutro Safety Car, comum em Singapura. Lá na frente, Russel decidiu apertar Sainz, que fazia uma corrida muito cerebral, ora deixando o inglês se aproximar, ora abrindo e mostrando que tinha potência guardada.

Operou também no jogo psicológico, ao avisar pelo rádio que, se necessário, tinha “um segundo no bolso”. A Mercedes, mordendo a isca, assim avisou à Russel. Enquanto isso, Verstappen mostrava sua faceta de garoto criado no Yakult, e reclamava no rádio do que ele chamou de uma experiência chocante, sem aderência e estabilidade. Fico imaginando ele descendo a Serra das Araras numa Caravan 6 cilindros… iria chorar.

Na volta 54, Esteban Ocon que fazia uma bela corrida no dia do seu aniversário, parou com o motor quebrado, ensejando nova entrada do Safety Car. As Mercedes optaram por uma parada dupla, perdendo posições para Norris e Leclerc. Mas de pneus novos, elas voaram baixo , logo superando Leclerc e ficando numa perseguição a Norris.

Nesse que foi o melhor momento da prova, os quatro primeiros ficaram muito próximos, por força da estratégia utilizada por Sainz. Ele deixou Norris se aproximar para poder abrir a asa móvel, defendendo-se das Mercedes que vinham na sua cola. O espanhol foi muito inteligente, pois ao mesmo tempo que dava o vácuo para Norris - que visivelmente não tinha pneus para ultrapassá-lo - se protegia de Hamilton e Russell, que se passassem Norris certamente seriam uma ameaça fatal ao espanhol, que já não tinha mais pneus.

Sainz então reduziu o ritmo ajudando Norris, numa estratégia que deu certo. Na última volta, em alucinada perseguição ao seu conterrâneo, Russell ainda passou reto e bateu, jogando fora o 2º lugar.

O espanhol então chegou à sua segunda Vitória, cantando música que é o seu lema, “Smooth Operator”. Norris foi o segundo, seguido de Hamilton, formando-se então um pódio com três equipes diferentes. Na sequência chegou Leclerc, seguido de Verstappen e Pierre Gasly.

Oscar Piastri (numa boa corrida de recuperação) chegou em 7º, na frente de Sergio Perez. E merece destaque Lawson, que chegou em 9º, e tem no campeonato apenas um ponto a menos que seu companheiro de equipe Yuki Tsunoda (que correu toda a temporada). Pelo
visto Ricciardo tem muita chance de ter que passar no RH, até porque o salário do neozelandês custa um terço do seu.

Com a vitória, Sainz interrompeu a épica série de vitórias consecutivas de Verstappen, mudando a trilha sonora da F1 esse ano, os hinos Austríaco e o holandês. Em Singapura, tivemos a alegria de escutar os animados acordes de Fratelli D’Italia, e de ver tremular no lugar mais alto do pódio a bandeira espanhola.

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Nela, as colunas de Hércules simbolizam os territórios de Ceuta e Gibraltar, com a inscrição “Plus Ultra” (“Mais Além”). É onde esperamos
que a Ferrari e Sainz possam chegar.

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