Coluna do Bichara: Vigiar e Punir
Luiz Gustavo Bichara analisa o GP da Austria
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Mais uma vez a F-1 chega à casa da Red Bull, o circuito austríaco outrora conhecido como Osterreichring, que hoje se chama Red Bull Ring. Trata-se de uma pista tradicional, que recebe a F1 desde 1970. Para a corrida austríaca mais uma vez tivemos final de semana começando com aclassificação na sexta, por conta da sprint race no sábado. Lembrando que esse ano as sprint são como uma corrida a parte, com pontuação em separado para os 8 primeiros, sendo o grid de largada definido na sexta.
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Fora da pista a grande novidade foi a venda de 24% da Alpine para um grupo de investidores que já e dono do Milan, e do qual fazem parte os atores Ryan Reynolds e Rob McElhenney. O valuation da operação foi de impressionantes 900 milhões de dólares. Na sexta as atividades de pista começaram com a classificação, que mais uma vez teve Max Verstappen como pole. A boa notícia veio das Ferrari, com Charles Leclerc e Carlos Sainz cravando 2º e 3º lugares, com Leclerc apenas um mísero centésimo atrás de Verstappen. Já Sergio Perez, mais uma vez, ficou fora do Q3, amargando apenas o 15º lugar. Por essas e outras é que ganha cada vez mais força a especulação da substituição do mexicano, e como os
pilotos do time B da Red Bull – a Alpha Tauri - também não estão bombando, a fábrica de boatos elegeu Daniel Ricciardo – piloto de testes da Red Bull - como possível sucessor de Perez. Figurinha repetida não completa álbum, mas serve para jogar bafo.
No sábado tivemos uma interessante sprint race com pista molhada. No shoot out – treino para definição das posições de largada na sprint – as duas RBR fizeram a primeira fila. E não é que na largada Perez resolveu partir pra cima de Verstappen? Era o copo da dentadura se achando o aquário do peixinho… Claro que o holandês rapidamente deixou Checo para trás. Ao final, a TV ainda mostrou Verstappen tendo uma DR com Perez, que não só foi ultrapassado na pista como ainda levou uma bronca. Vida dura. O domingo amanheceu ensolarado em Spilberg. Na largada Leclerc até tentou tomar a ponta, mas não deu, de forma que no pelotão da frente não houve alteração. Na volta 15, Nico Hulkemberg parou na pista provocando um safety car. Alguns pilotos optaram por parar, o que curiosamente não aconteceu com a Red Bull – aparentemente um raro erro de estratégia do time austríaco.
Também a Ferrari errou retardando a parada de Sainz. Aliás fico me perguntando por que o time de Maranello não traz o chefe de equipe responsável pela Vitória em Le Mans. Alô alô pessoal do RH … Mas Verstappen não teve dificuldade para rapidamente superar os pilotos que
estavam à sua frente após a parada. Embora tenha saído do box 6 segundos atrás de Leclerc, o holandês levou apenas algumas voltas para superá-lo e reassumir a ponta. Ao menos Leclerc teve a alegria de liderar a corrida por algumas voltas. Já estávamos até desacostumados a ver outro piloto na frente que não Verstappen, pois o holandês liderou simplesmente todas as voltas até então desde a metade do GP de Miami, no início de Maio.
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A corrida foi mais animada do que as anteriores, com muitas disputas por posições, sobretudo no pelotão intermediário. Mas o que marcou mesmo a prova foi um excesso descomunal de punições, a maior parte em função de não se respeitar os limites de pista na curva 10. Sainz, Hamilton, Gasly, Albon, Ocon (4 vezes!), Sargeant, De vries (2 vezes) e Tsunoda foram punidos, num total de mais de 12 punições aplicadas. Está claro que alguma coisa precisa ser alterada. Essa chatice dos limites de pista é insuportável. Ora se há pista – asfalto - é para ser usada! Se o traçado não deve contemplar algum pedaço dela, então o que se coloque um obstáculo físico, como um muro ou um guard rail. Claro que seria muito mais interessante para a prova, como já registrado aqui na coluna, que as consequências para os pilotos fossem outras que não essas insuportáveis punições temporais. Aliás esse ponto não passou desapercebido pela transmissão oficial da F1 - um pouco mais sóbria que a narração da Bandeirantes, que parece mais preocupada em encontrar apelidinhos infantis para os corredores do que abordar aspectos técnicos -, e foi alvo de idêntico comentário por parte do ex-piloto David Couthlard.
A coisa foi tão estranha que ouvimos pelo rádio inúmeros pilotos dedurando outros por supostas inobservâncias dos limites de pista. Alguns pareciam mais preocupados em delatar o coleguinha do que em pilotar. Um verdadeiro esquema de vigilância soviética, a nos fazer lembrar do clássico de Michel Foucault, “Vigiar e Punir”. Mais para o final da prova ainda tivemos belas disputas, como a de Sainz e Perez, na qual o mexicano levou a melhor. Nesse momento o espanhol se queixou pelo rádio que Perez “o estava intimidando”. Difícil entender o que ele quis dizer com isso. O já aqui lembrado RH da Ferrari vai ter também que escalar psicólogos para lidar com a fragilidade de Sainz, pelo visto um homem do tipo super sensível – mas que pelo menos está 10 pontos a frente do companheiro no campeonato, embora seja 2º piloto...
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Já a superioridade de Verstappen era tanta que ele decidiu parar na penúltima volta, apenas para arrancar de seu companheiro de equipe, na última, o ponto da melhor volta. Era uma manobra arriscada na medida que ele tinha uma vantagem de 23,8 segundos sobre Leclerc, e a parada toda duraria em média 20 segundos. Mas na Red Bull tudo funcionou com a habitual precisão e Verstappen, num requinte de cruel potesdade, arrancou esse ponto de Checo. Assim o holandês cravou mais uma Vitória , seguido de Leclerc, e da boa notícia de que as Ferrari estão um pouco mais competitivas. Na sequência Perez, Norris - que também fez uma boa corrida mostrando a evolução da McLaren, Alonso e Sainz. Na semana que vem temos GP da Inglaterra. Mas considerando o já irritante domínio de Verstappen e da Red Bull (que venceu 19 das últimas 20 corridas), os súditos de Charles III dificilmente terão a alegria de ouvir os acordes de “God Save the King”, curiosamente nunca tocado nos circuitos após a mudança da letra em 2022.
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