Cristiano Marcelino é campeão em Portugal, após ultramaratona de 1.001km

Brasileiro vence PT1001 após 14 dias de competição, com o tempo total de 119h57m, recorde da prova

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O ultramaratonista Cristiano Marcelino atravessou o Atlântico para ser campeão em Portugal. Durante 14 dias, entre 25 de setembro e 8 de outubro, ele encarou a segunda edição da PT1001, que cruzou o país de Norte a Sul. A seguir, ele conta como foi sua conquista.

“Eu saí do Rio de Janeiro e cruzei o oceano rumo ao norte de Portugal com o objetivo de atravessar um país inteiro correndo. Um mega ultra desafio. Uma aventura lendária e incrível, sem igual, para participar da segunda edição da PT1001 – uma prova de que reuniu atletas de seis países: Portugal, Suíça, Escócia, França, México e Brasil.

Foram 14 dias de prova, cruzando Portugal inteiro, começando no Castelo de Chaves, extremo norte de Portugal, na fronteira com a Espanha. Catorze dias sem descanso, com uma média diária de 71km, e com altimetrias variadas. Corremos por cima de grandes montanhas, como a Serra da Estrela, ponto mais alto de Portugal, assim como cortamos imensas áreas desérticas, como o Alentejo.

Cristiano Marcelino em um dos trechos da PT1001. (Divulgação)

Percurso sem marcação, somente por orientação do GPS

Tivemos etapas com 80Km e mais de 3.000m de desnível positivo. Tínhamos de ser autossuficientes durante as etapas, com poucos pontos de apoio pelo caminho. Em alguns lugares, chegamos a ter de percorrer 40km sem nada disponível.

Durante os 1.001Km de prova, o percurso não tinha nenhuma marcação. Era tudo por orientação do GPS do próprio atleta, seguindo o arquivo GPX fornecido pela organização.

No entanto, ao final de cada dia, tínhamos todo o suporte da organização, com hotéis incríveis, jantares e muito mais, para no dia seguinte recomeçar tudo novamente rumo ao sul, pois o objetivo estava lá ao longe, em Sagres, na ponta extrema do sul de Portugal.

Como foi a PT1001

No primeiro estágio, saindo de Chaves até Vila Real, tivemos 75km. A competição já se mostrou acirrada entre três atletas: eu, um suíço e um português. Com cerca de 24Km de prova, eu assumi a liderança da corrida e comecei a abrir um pouco dos demais atletas. A diferença foi se tornando maior até a chegada, confirmando minha vitória com 7h27m (recorde da etapa) e já abrindo uma diferença de 34 minutos para o segundo lugar, o atleta da Suíça.

No segundo estágio, de Vila Real até Carvalhal, a dura disputa entre mim e o atleta da Suíça se manteve, enquanto o atleta de Portugal ficou um pouco para trás. Novamente eu levei a melhor nos 76Km, com muita altimetria acumulada, finalizados em 9h34m (recorde da etapa), ganhando 16 minutos sobre o suíço, com um total de 50 minutos acumulado à frente nas duas etapas.

Média diária de 70km

No terceiro estágio, de Carvalhal até Gouveia, o atleta da Suíça já conhecia o percurso e tinha treinado ali três meses antes. No entanto, após uma batalha incrível entre nós dois, eu consegui vencer por apenas 1 minuto, marcando 9h19m (recorde da etapa) nestes 74Km e deixando um acumulado de 51 minutos totais de diferença.

O quarto estágio era o considerado mais duro, de Gouveia até Fundão, com a maior distância da prova, 80km, e a maior altimetria acumulada, passando por cima da Serra da Estrela. Mais uma vez triunfei na batalha com o atleta da Suíça e ganhei a etapa por 47 minutos de diferença, com 10h16m de prova (que foi o meu maior tempo de toda a competição) e abri uma vantagem de 1 hora e 38 minutos totais.

No quinto estágio, de Fundão até Proença-a-Nova, com 73km, a batalha com o suíço continuou, mas levei a melhor pela quinta vez consecutiva. Ganhei a etapa com 9h14m, 24 minutos de vantagem sobre ele, abrindo 2 horas e 2 minutos de vantagem total.

Cristiano Marcelino teve disputa acirrada com atleta suíço

Quem olhava de fora, podia achar que a minha vida estava boa por causa da grande vantagem, mas não estava. Com quase 400km de prova, eu e o atleta da Suíça travávamos ótimas disputas no meio da prova, por muitas vezes correndo vários quilômetros a fio num pace abaixo de 5m/km, tentando um abrir do outro. Era uma disputa épica.

No sexto estágio, de Proença-a-Nova até Castelo de Vide, foi a hora do atleta suíço virar o jogo. Ele venceu os 72km com o tempo de 9h14m, com eu chegando em segundo lugar. Meu adversário conseguiu diminuir em 52 minutos a vantagem que tinha sobre ele, mas eu ainda acumulava uma vantagem total de 1 hora e 10 minutos.

Chegávamos então ao dia que iríamos passar a barreira dos 500Km. O sétimo estágio, a metade de nossa jornada. Num percurso de 70Km, de Castelo de Vide até Alter do Chão, já dentro do desértico Alentejo, consegui encaixar todas as peças de minha prova, tomei a dianteira, cruzei a faixa de 500Km em primeiro e também ganhei a etapa com 7h40m (novo recorde da etapa), com 27 minutos de diferença para o suíço, aumentando novamente a diferença total para 1 hora e 37 minutos.

No oitavo estágio, de Alter do Chão até Estremoz, com o percurso mais curto, de 60km, consegui empolgar com a retomada da vitória no dia anterior e ganhar mais uma, agora com o menor tempo de toda a competição, 6h46m. Ganhei e etapa com uma excelente diferença, de 1h02m, para o atleta da Suíça, alcançando uma diferença total de 2 horas e 39 minutos.

Cristiano Marcelino cruzou Portugal do Norte a Sul, passando por paisagens das mais diversas. (Divulgação)

Vitória por 1 minuto em etapa

No nono estágio, de Estremoz até Évora, a batalha novamente foi uma das mais acirradas. Após disputarmos metro a metro, o atleta da Suíça venceu por 1 minutos de diferença. Fechei a etapa de 73km em segundo lugar, com 8h03m, mas a diferença total continuava grande, de 2 horas e 38 minutos.

Todos os dias após a prova (21h de Portugal – 17h do Brasil), eu fazia uma live pelo Instagram contando como foi a etapa. A grande torcida que eu tinha me empolgava cada vez mais. Recebia dezenas de mensagens positivas. O público podia me seguir e também todos os atletas da prova em tempo real pelo rastreador fornecido pela organização.

Chegava o décimo estágio, com 75km, de Évora até Alcácer do Sal. Neste dia, com os mais de 650km já percorridos, eu e o atleta da Suíça corremos quase todo o percurso juntos. Mas acabei levando a vitória na etapa, com 8h47m, apenas 2 minutos na frente dele, com a vantagem total de 2 horas e 40 minutos. a maior até então.

O pior momento de Cristiano Marcelino foi no 13º estágio

O 11º e 12º estágios foram as etapas que eu e o atleta suíço corremos o tempo inteiro juntos, ambos com percursos de 68km de Alcácer do Sal até Santiago do Cacém e, depois, até Vila Nova de Milfontes. Fechamos em 8h35m e 8h25m, respectivamente, sendo a vitória das duas etapas divididas entre nós dois. A diferença total continuava de 2 horas e 40 minutos de vantagem para mim.

O 13º estágio, de Vila Nova de Milfontes até Aljezur, com 76km, foi o mais terrível para mim. Foi um dia duríssimo e, para conseguir acompanhar o atleta da Suíça, foi a mais dura tarefa de toda a competição. Cheguei no limite, com 9h09m (novo recorde da etapa), e dividimos novamente a vitória. A minha vantagem total de prova se manteve de 2 horas e 40 minutos, mas eu já não sabia se seria possível completar a última etapa, devido a todo o desgaste sofrido.

Título com direito a recorde

O 14º e último estágio da prova, de “apenas” 49km, de Aljezur até Sagres. Eu, no início, não conseguia correr, somente andava, com muitas dores. Aos poucos, o atleta da Suíça foi abrindo. No entanto, eu tinha ao meu favor a grande vantagem acumulada, mas não podia “dar mole” a esta altura. Tive que dar um jeito e conseguir começar a correr (e até numa boa velocidade), desfrutando das lindas paisagens do Algarve. Consegui finalizar esta etapa em segundo lugar, com 6h54m, 33 minutos atrás do atleta suíço. Levei o título de campeão geral da PT1001 com um tempo total de 119h57m.

Essa marca é o novo recorde nos 1.001Km de prova. O antigo era de 120h49m. Consegui fechar com uma vantagem de 2 horas e 7 minutos do atleta da Suíça, que ficou em segundo lugar.

Objetivo alcançado! Atravessei Portugal correndo 1.001Km. Ainda consegui vencer 11 das 14 etapas, com cinco recordes das etapas. Além disto, fui campeão geral da competição, com recorde do percurso da prova. Real Lendário!”

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