Daniel Nascimento garante vaga na maratona olímpica
Paulista faz 2h09m04s ao vencer prova em Lima, no Peru, e supera marca mínima de qualificação definida para as Olimpíadas de Tóquio
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A primeira maratona a gente nunca esquece. E se com ela vier com um resultado incrível, melhor ainda. Em sua estreia na distância, o paulista Daniel Ferreira do Nascimento obteve, neste domingo (23/5), o índice olímpico ao completar, em 2h09m04s. A marca foi conseguida com a vitória do brasileiro no Campeonato Nacional de Maratona "El Bicentenario del Perú", no Circuito de Praias, entre os distritos de San Miguel e Magdalena, em prova organizada pela Federação Desportiva Peruana de Atletismo.
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Com a qualificação de Daniel, o Brasil passa a ter três atletas classificados para os Jogos Olímpicos na maratona. Já têm vagas Paulo Roberto de Almeida Paula, com 2h10m08s, e Daniel Chaves da Silva, com 2h11m10s. O prazo para a obtenção de índice termina no dia 31 de maio.
O resultado de Daniel em Lima é a melhor estreia de um sul-americano na distância em toda a história. O segundo colocado na prova foi o peruano Ulises Jhamer Martin, com 2h13m28s, e o terceiro foi o boliviano John Deivis Tello, com 2h14m19s.
Daniel, de 21 anos, atleta da ABDA (Associação Bauruense de Desportes Aquáticos), superou em mais de 2 minutos o índice exigido para as Olimpíadas de Tóquio. A World Athletics definiu o tempo de 2h11m30s para a qualificação aos Jogos Olímpicos de Tóquio.
A maratona olímpica masculina será disputada em Sapporo, no Japão, em 8 de agosto, no último dia dos Jogos. A prova feminina será no dia 7.
O treinador Neto Gonçalves disse que havia o planejamento para Daniel correr uma maratona este ano, mas que as provas foram sendo canceladas por causa da pandemia da Covid-19. Daniel decidiu ir para o Quênia, treinando 42 dias na cidade de Iten, a 2.400 m de altitude. “Ele sempre quis ir para o Quênia, aprender, treinar com alguns dos melhores fundistas do mundo. Fechou um patrocínio para as passagens e foi para o Quênia. Lá, surgiu a oportunidade de correr essa maratona no Peru, foi e baixou em dois minutos o índice”, disse Neto, que treina Daniel desde 2019.
A marca de Daniel é a quinta melhor da história na América do Sul. Ronaldo da Costa, com 2h06m05s, tempo que foi recorde mundial na maratona de Berlim-1988; Marilson Gomes dos Santos, com 2h06m34s, na Maratona de Londres de 2011; Vanderlei Cordeiro de Lima, com 2h08m31s, na Maratona de Tóquio, em 1998; e Luiz Antônio dos Santos (2:08:55), na Maratona de Roterdã, 1997. O resultado é também o melhor da história alcançado em competição na América do Sul.
No Brasil, Daniel Nascimento, que nasceu em Paraguaçu Paulista, a mais de 420 quilômetros de São Paulo, treina em Bauru e na cidade de Fernão, onde mora sua mãe. Entre seus resultados mais recentes estão o de brasileiro melhor colocado na São Silvestre 2019, em que conquistou o 11º lugar. Em 2020, ele foi campeão da 14ª Meia Maratona de São Paulo, o que garantiu a ele vaga no Mundial de Meia Maratona, na Polônia, no qual ficou na 93ª colocação. Daniel Nascimento também representou o Brasil na Copa Pan-Americana de Cross Country, no Canadá, onde conquistou o 8º lugar, depois de conquistar o título brasileiro em Serra (ES).
Se os dois últimos anos foram bons em resultados para Daniel, 2019 foi um período de afastamento das corridas. Após a Corrida de São Silvestre em 2018, ele se lesionou e decidiu parar. "Eu tive dores no tendão de aquiles, abandonei a prova. Depois de lá, desisti do esporte e retornei para minha casa, pensando em trabalhar", contou ele, que trocou a rotina de treinos pela da roça, com a família. "Voltei a cortar cana", lembrou para a Agência Brasil, em fevereiro de 2020. "Eu já acordava cedo (quando atleta), passei a levantar ainda mais cedo, umas 4h. Ficava quase oito horas no trabalho e só depois voltava para casa e descansava para o outro dia", completou.
Poderia ser o fim precoce de uma carreira promissora. Mas, coube a um companheiro de trabalho na roça dar um empurrãozinho para a vida esportiva de Daniel recomeçar. "Ele me conhecia de atleta, pedia para dar uma corridinha de lá para cá. Ele ficava observando e dizia: 'Volta a correr, aqui você não vai ter futuro'. Eu agradeço essa pessoa até hoje, assim surgiu a motivação, fez grande diferença na minha vida", disse Daniel.
A vontade em voltar a correr fez Daniel procurar o técnico Neto. "Ele queria voltar a treinar, a competir e pediu uma chance para retornar ao esporte. A gente sentou, conversou, apresentei nosso projeto e equipe", contou o treinador.
A rotina em Bauru é intensa, com treinamento em seis dos sete dias da semana, algumas vezes em duas sessões. "Usamos a pista para treinos intervalados e ele também faz algumas atividades em bosques e estradas de terra. Há, ainda, acompanhamento de uma equipe multidisciplinar com nutricionista, médico, psicólogo, fisioterapeuta. E abordamos bastante a questão do descanso, que é importantíssimo", conta Neto. (Iúri Totti)
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