Ela voltou. A Comrades voltou
Tradicional ultramaratona retorna após após dois anos de interrupção por causa da Covid, com vitórias de sul-africano e russa. Dois brasileiros se destacam
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Ela voltou! A Rainha das Ultras, a maior e mais antiga ultramaratona do mundo, a legendária Comrades Marathon, na Africa do Sul. Depois de um hiato forçado de dois anos por causa da pandemia, a Comrades volta a ser realizada em 2022.
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E para as tradições da Comrades, essa paralisação nos anos de 2020 e 2021 foi especialmente penosa, porque em 2021 ela comemoraria o seu centenário, já que sua história se iniciou em 1921, com 34 corredores-camaradas, a maior parte veteranos da I Guerra Mundial, que resolveram percorrer a pé os cerca de 89km entre Durban e Pietermaritzburg para homenagear os colegas mortos no conflito.
Vitórias de sul-africano e russa
Não foi a primeira vez que ela não ocorreu. Entre 1941 e 1945, por conta da II Guerra Mundial, ela também não aconteceu. Mas após isso ela se consolidou não só como um dos eventos mais importantes da Africa do Sul, como também do mundo. E nos anos mais duros do apartheid, a Comrades se tornou um símbolo da resistência contra a discriminação, ao ser um dos primeiros eventos a permitir a participação de negros e brancos juntos, na mesma competição, sendo hoje um símbolo da reunificação e fim do Apartheid ocorridos na década de 90. Tanto que a largada da prova se dá ao som de Shosholoza, música tradicional e símbolo da unidade sul-africana.
Hoje, em 2022, vimos a repetição de uma história que se consolida ao longo dos anos. A vitória do sul-africano negro Tete Dijana, que trabalha como segurança, em 5h30m, e da russa Alexandra Morozov, em 6h17m. A África do Sul, previsivelmente, e a Russia são os países que mais têm vencedores na Comrades ao longo dos anos.
O que se repete ano a ano também são as histórias de superação. Desta vez tivemos a incrível chegada da quarta colocada, a sul-africana Jenna Challenor, que após desabar por duas vezes nos últimos metros, sem força nas pernas, cruzou a linha de chegada engatinhando para garantir seu lugar no pódio, enquanto dois corredores ao seu lado a incentivavam mas sem poder ajudá-la fisicamente para não desclassificá-la.
Catarinense Laurindo Nunes Neto é o melhor brasileiro na história da Comrades
Porém, uma história nova na Comrades deste ano foi a grande prova do catarinense de Caçador Laurindo Nunes Neto. Tricampeão da SP City Marathon e campeão da Maratona de Foz do Iguaçu, Laurindo resolveu investir nas ultramaratonas por sua característica física de muita resistência e boa performance em subidas e descidas. E estreou na Comrades fazendo o melhor tempo de um brasileiro na história da prova, o primeiro a corrê-la abaixo de 6 horas, completando em 5h56 e obtendo a 17ª colocação geral, mas também a melhor colocação de um atleta não-africano nesta edição. E poderia ter sido ainda melhor não fossem as câimbras que sofreu no final da prova, o que o forçou a diminuir um pouco o ritmo.
Mas com esse tempo, Laurindo já escreve seu nome na história da prova e representa uma real possibilidade de um brasileiro voltar a figurar entre os 10 melhores da prova e até mesmo disputar a vitória, algo que não acontece desde 2001, quando Maria Auxiliadora Venâncio subiu ao pódio pela segunda vez na Comrades, com a quinta colocação.
Nilson Paulo Lima completa 300 provas longas
Outra história importantíssima a se registrar é a do mineiro Nilson Paulo Lima, que completou nesta edição da Comrades a incrível marca de 300 provas longas, entre maratonas e ultras. Aos 69 anos, ele ainda busca sua décima participação na Comrades, que deve ocorrer daqui a dois anos, e lhe garantirá o Green Number, ou seja, a honra de ter seu número de peito jamais utilizado por outro atleta, sendo imortalizado como seu número pessoal da Comrades.
Laurindo e Nilson representam muito bem neste ano a história de tantos outros brasileiros apaixonados por essa prova, uma história que começa com o pioneiro Marcio Milan na década de 90, passa pelos nomes de Nato Amaral e Zilma Rodrigues, ambos Green Numbers e embaixadores da prova no Brasil, e de Tomaz Lourenço, editor da revista Contra-Relógio, que a realizou e registrou sua odisseia nas páginas da revista, tornando-a ainda mais conhecida entre os corredores brasileiros.
Enfim, a Comrades voltou e a invasão brasileira na Africa do Sul também!
Shosholoza!!
Resultados Comrades 2022
Masculino: 1. Tete Dijana (África do Sul), em 5h30m38s; 2. Edward Mothibi (África do Sul), em 5h33m46s; 3. Dan Moselakwe (África do Sul), em 5h36m25s; 4. Bongmusa Mthembu (África do Sul), em 5h38m07s; 5. Johannes Makgetla (África do Sul), em 5h41m36s; 6. Nkosikhona Mhlakwana (África do Sul), em 5h43m28s; 7. Joseph Manyedi (África do Sul), em 5h44m57s; 8. Solly Manduwa (Malawi). em 5h46m10s; 9. Charles Tjiane (África do Sul), em 5h47m04s; e 10. Lutendo Mapoto (África do Sul), em 5h47m20s.
Feminino: 1. Alexandra Morozova (Rússia), em 6h17m48s; 2. Dominika Stelmach (Polônia), em 6h25m92s; 3. Adele Broodryk (África do Sul), em 6h26m35s; 4. Jenna Challenor (África do Sul), em 6h42m14s; 5. Galaletsang Mekgoe (África do Sul), em 6h42m53s; 6. Camille Herron (Estados Unidos), em 6h44m29s; 7. Helena Joubert (África do Sul), em 6h55m36s; 8. Janie Grundling (África do Sul), em 6h59m44s; 9. Annerie Wooding (África do Sul), em 6h59m55s; e 10. Yolande MaClean (África do Sul), em 7h00m19s.
*Ricardo Nishizaki é ultramaratonista
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