Um pouco mais de 20 dias após voltar ao comando da Seleção Brasileira feminina de basquete, Antonio Carlos Barbosa se vê no meio de uma crise entre a Confederação Brasileira de de Basquete (CBB) e clubes da Liga Feminina de Basquete (LBF). E a preparação para a Olimpíada deste ano já começa a ser prejudicada.
Afinal, sete jogadoras (de um total de 12) pediram dispensa do evento-teste para os Jogos Olímpicos, de 15 a 17 de janeiro, no Rio de Janeiro. Assim, o treinador precisou chamar outras cinco atletas (duas vagas ainda estão abertas, mas devem ser preenchidas). A apresentação do grupo ocorre hoje, em um hotel em São Paulo.
– Infelizmente, acabei em uma situação na qual peguei um problema no meio. É difícil encontrar uma razão ou justificativas. É um assunto no qual todo mundo quer ter razão, diz estar certo... E ninguém quer dar o braço a torcer. Respeito as reivindicações, todas são válidas. Mas quando se excede e prejudica alguma pessoa, uma estrutura ou uma instituição, isso perde a validade e, talvez, o espírito de tal reinvindicação. Então, vamos valorizar quem veio – afirmou o treinador do Brasil ao site do LANCE!.
Os clubes da LBF têm cobrado uma mudança de postura da CBB em relação ao basquete feminino. Segundo eles, houve um “descaso” com a modalidade. Eles ainda pedem para assumir o controle da Seleção. Já a entidade se defende e garante haver igualdade com o masculino. E se diz aberta para uma conversa entre as duas partes.
Assim, Corinthians/Americana, Santo André, Presidente Venceslau e América-PE decidiram não liberar suas atletas para o evento-teste – o Sampaio Basquete cedeu as jogadoras. Assim, Adrianinha, Tainá e Tatiane (América-PE), Gilmara e Joice (Corinthians/Americana), Jaqueline e Tássia (Santo André) enviaram cartas à confederação pedindo a lideração por problemas pessoais.
Clarrissa, que também do é de Americana, ainda não tinha se posicionado sobre a situação.
Com somente quatro atletas disponíveis na lista, Barbosa fez uma nova convocação. Em contato com o site do LANCE!, ele comentou a situação e falou sobre como isso afeta a preparação olímpica. Confira:
O quanto essa disputa entre clubes e confederação atrapalha a preparação para a Olimpíada?
Antonio Carlos Barbosa: Temos de analisar todos os lados dessa situação. Um dos lados é que aumentamos o leque de jogadoras que podem ser chamadas para a Olimpíada. Tem várias atletas que estavam fora das últimas convocações e, agora, retornaram e ganham uma nova oportunidade. Às vezes, podem ir bem e voltar a figurar na equipe.
Você disse anteriormente que essa situação não atrapalharia convocações futuras dessas atletas. Mantém essa postura agora?
ACB: Mantenho. Temos de dividir isso bem. As jogadoras não boicotaram a convocação. Foram os clubes. Elas estão com contrato vigente, têm obrigações com os clubes e, como atletas disciplinadas, não poderiam ter um ato de desobedecer o clube. Ao mesmo tempo, caso se apresente, a Clarissa (do Corinthians/Americana) demonstraria uma personalidade de extrema independência, que até nos assusta e causa admiração. Mas não quer dizer que em relação às outras temos repulsa ou estranheza.
A CBB informou que mais duas jogadoras serão convocadas. Já existe uma definição?
ACB: Vamos completar o grupo, estamos tentando. No início aguardamos uma definição das equipes que estavam boicotando para ver se dariam um passo para trás. Mas não deram. A Mariane Carvalho, do Bradesco, é sub-19. Então, é o momento de darmos uma oportunidade a essa j ogadoras também. Provavelmente, vamos chamar outra dessa idade. Nesta quarta, vou me reunir com a comissão técnica para decidir.
Esperava começar o trabalho com um problema tão grande?
ACB: Não esperava. Trabalhei na Seleção por 21 anos, acompanho o basquete há muito tempo e nunca vi isso. Já tivemos um boicote mais ou menos parecido em 1985, o que causou prejuízo, e a Seleção perdeu um campeonato para a Colômbia. Mas não foi nada oficializado. Então, algo de uma maneira tão clara e declarado é a primeira vez que vejo. Me causou estranheza. Nem mesmo com o atendimento de duas reivindicações (troca de técnico e a contratação de uma coordenadora, Adriana Santos), o boicote foi abrandado.
Toda essa situação mancha a imagem do basquete brasileiro?
ACB: Não vou chegar ao ponto de falar que mancha, mas não é legal. O mundo inteiro vai saber o que aconteceu. É praticamente o time do Sampaio Basquete. Vale até enaltecer o Sampaio ter por essa visão geral do problema. Mas não fica bem.