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Ex-promessa do Figueirense vira aposta da vela após ‘loucura’ por sonho olímpico

Mateus Isaac, de 28 anos, teve princípio de carreira nos gramados, mas se apaixonou pelo windsurf e hoje é o segundo do ranking mundial de IQ Foil, nova classe para Paris 2024

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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 16/05/2022
19:40
Atualizado em 19/05/2022
07:05

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Volte a mente para meados de 2020. A pandemia de Covid-19 causava estragos, assombrava populações e fechava fronteiras. A humanidade convivia com o medo do vírus. A saúde era prioridade. Não foi diferente para Mateus Isaac, ex-promessa do Figueirense no futebol e velejador. Mas ele não deixou o caos mundial comprometer um sonho: uma medalha nos Jogos Olímpicos de Paris, em 2024.

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O paulista de 28 anos é agora aposta da Confederação Brasileira de Vela (CBVela) para manter a tradição de pódios no megaevento. Hoje, ele é o segundo colocado no ranking mundial de IQ Foil, classe do windsurf que fará sua estreia no programa olímpico, atrás apenas do alemão Sebastian Kordel. Basicamente, trata-se de uma prancha à vela que, à distância, parece voar.

A novidade em comparação com a antiga classe do tipo, a RS:X, é a presença do "foil", uma espécie de "aviãozinho" que fica embaixo da prancha, de modo que o velejador fique por inteiro fora da água.

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Para alcançar o status atual e tentar cravar seu nome da história do esporte brasileiro, algo que não conseguiu fazer nos gramados, Mateus topou algumas "loucuras". Em 2020, viajou para a Europa em meio às barreiras impostas pelos governos para conter a propagação do coronavírus, dirigiu sozinho de Portugal até a Suíça, em uma viagem de 2.500km.

O esforço valeu a pena. Isaac conseguiu disputar a primeira grande competição da classe na fase olímpica, terminou no top 10 mundial e, dali para frente, só escalou posições.  

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- O primeiro evento internacional de Foil foi em 2020, e eu competi, mesmo na época de pandemia. Foi uma missão gigante para poder viajar, mas eu já queria correr e ter o material, porque sabia que era um sonho disputar as Olimpíadas - disse Mateus, ao LANCE!.

CONFIRA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA ABAIXO

Ele conta que, naquele ano, tinha um patrocinador em Portugal, um hotel, que facilitou sua entrada no país. Com a ajuda do Comitê Olímpico do Brasil (COB), conseguiu uma carta atestando que precisava competir. Naquela altura, os debates na comunidade olímpica se voltavam para a realização ou não dos Jogos de Tóquio, que acabariam adiados para 2021. Mas Mateus já pensava em 2024.

- Fui de carro de lá até a Suíça, em uma viagem de 2.500 km, cruzando fronteiras e apresentando um monte de carta de federações. Foi terrível. Em cada fronteira, eu tinha de ficar lá conversando com os guardas, dizendo que ia competir e tal - lembra Mateus, que optou por viajar sozinho para evitar riscos de contaminação pelo coronavírus. 

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Treinado por Bruno Prada, dono de duas medalhas olímpicas na classe Star ao lado de Robert Scheidt, o velejador participou de perto da ascensão do IQ Foil. Ele acredita que tenha sido uma das 50 pessoas do mundo de sua geração a correr com o equipamento. Embora o esporte já exista há mais de 30 anos, somente a partir de 2015 ele começou a ser explorado em nível mundial competitivo.

O conhecimento sobre a classe e a progressão de desempenho ao longo dos anos indica que o brasileiro poderá chegar à França em condições de brigar por medalha, assim como as bicampeãs olímpicas Martine Grael e Kahena Kunze, da 49erFX. A vela é o esporte que mais deu medalhas de ouro olímpicas ao Brasil na história. Foram oito.

Mateus Isaac
Mateus Isaac: promessa de medalha em Paris-2024 (Foto: Divulgação)

'Gostava mais de fazer esportes do que de estudar'

Vela e futebol sempre fizeram parte da vida de Mateus. Ele nasceu em Ilhabela, um dos destinos favoritos dos velejadores, como seu pai. Na infância, mostrou talento nos campos, atuando como meia, e nos salões, um pouco mais recuado. Quis levar o negócio a sério quando a família se mudou para Florianópolis, mas a logística de treinamentos era difícil. E a paixão pelo windsurf só aumentava.

- Eu gostava muito do Ronaldo, do Kaká, do Ronaldinho Gaúcho. Depois, Neymar e Adriano. Sou corintiano! Eu era muito pequeno e sempre gostei muito de esportes em geral. Já lutei capoeira e judô, também. Jogava bola na escola e gostava muito mais de fazer esportes do que estudar, por exemplo. Quando eu me mudei para Florianopolis, já jogava e tentei ir um pouquinho mais longe. Fiz o teste no Figueirense e joguei na base do Vasco, que tinha uma sede lá. Mas era complicada a logística - conta Mateus.

- Lembro que para eu jogar futebol não era fácil. Tudo era uma missão. Ir treinar, voltar e tudo mais. Ainda tinha que estudar e faltava tempo. Tinha gente que estava lá só jogando futebol. Eu tinha 10 anos e lembro do meu pai falando: 'esses caras não estudam, não? Não comem? Só jogam futebol?' Eu morava longe e tinha que ir de carro, depois tinha que estudar, tinha prova, aí ia mal na prova. Era tudo muito complicado e eu me lembro que normalmente o vento era de tarde e perto da minha casa e meu pai já ia velejar mesmo. E era muito simples: eu entrava no carro com ele e a gente ia conversando, fazendo piada. Era muito natural, muito divertido.

Os resultados começaram a aparecer, bem como o contato com novos ídolos. Com 14 anos, o brasileiro disputou o primeiro evento internacional, um Mundial sub-16 anos, e terminou na segunda colocação. Aos 18, foi campeão mundial junior. 

- Eu me lembro que as primeiras vezes que eu comecei a velejar, em Florianopolis, estava treinando o Kauli Seadi, três vezes campeão mundial de windsurf, e o Browzinho. Hoje em dia, os dois são meus amigos. Naquele dia, eles foram treinar surfe onde eu estava velejando. Era como você ver o Ronaldinho Gaúcho e o Ronaldo treinarem na sua frente - descreve Mateus, formado em Administração nos Estados Unidos.

Mateus está na Itália para a disputa do Campeonato Europei de IQ Foil, no Largo di Garda. A competição reúne 251 atletas de 40 países, sendo 156 homens e 95 mulheres. No ano passado, o brasileiro terminou a competição em terceiro lugar.

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