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Exclusivo ao L!: Picciani demonstra otimismo com projeto olímpico

Ministro do Esporte explica uso do legado olímpico, fala sobre a nova lei que fiscalizará as entidades e prevê Brasil como potência nos Jogos de Tóquio-2020

Leonardo Picciani, ministro do Esporte, em coletiva (Foto: Paulo Araújo/RMC)
imagem cameraLeonardo Picciani, ministro do Esporte, em coletiva (Foto: Paulo Araújo/RMC)
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 23/04/2017
22:20
Atualizado em 24/04/2017
10:46

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Prestes a completar, em maio, um ano no comando do Ministério do Esporte, Leonardo Picciani diz que o momento é o de seguir em frente, já que a principal dificuldade foi superada: a administração do Parque Olímpico dos Jogos Rio-2016, na Barra da Tijuca. O político destinou um montante anual de R$ 45 milhões para a manutenção e a realização de eventos nas instalações, criou a AGLO para administrar o complexo e descartou a possibilidade de o Comitê Olímpico do Brasil (COB) se tornar gestor do local.

Superados os problemas iniciais com o Parque Olímpico, o ministro do Esporte voltou-se para outras prioridades da pasta. Dentre elas, prometeu que endurecer a fiscalização em relação aos recursos destinados a entidades esportivas, que será uma das metas do Programa Nacional de Esporte (PNE).

E, apesar do conturbado momento político e econômico do país, o ministro se mostrou otimista quanto ao futuro olímpico do Brasil. Prometeu, nesta entrevista ao LANCE!, que nos Jogos de Tóquio-2020 o esporte brasileiro continuará a mostrar seu crescimento.

O senhor assumiu o ministério em um momento conturbado do país. Como foram os primeiros momentos à frente da pasta?
Cheguei em uma situação extraordinária, que foi o impeachment, e a poucos dias dos Jogos Olímpicos. E, naquele momento, o Brasil sofria um bombardeio em cima da organização. Ouvia que nada iria dar certo, que iríamos ter uma epidemia de zika, que o metrô não estaria pronto. Então, meu primeiro enfrentamento foi o de tomar pé da situação para enfrentar esse debate.

Por isso, viajou ao exterior logo após assumir o cargo?
Tinha de enfrentar esse debate junto aos veículos de comunicação e organismos internacionais. Éramos vistos com desconfiança. Fui para Londres, Nova York e Washington, onde me reuni com autoridades e jornalistas britânicos e americanos, que eram os que mais nos criticavam. E dei garantias de que o Brasil cumpriria o seu papel, faria Jogos seguros, alegres, sem zika e violência. No fim, cumprimos tudo.

Após o período turbulento, qual o balanço que o senhor faz desses 11 meses à frente da pasta?
Tivemos como marca enfrentar desafios, desde o primeiro dia. Agora, temos esse grande desafio de ajudar a colocar em prática e concretizar o legado olímpico. Legado que não se limita só ao Parque Olímpico da Barra, que é o grande símbolo. Mas temos instalações esportivas em todas as regiões do país.

Com o fracasso da prefeitura carioca em conseguir um parceiro privado, a gestão do Parque Olímpico ficou sob a responsabilidade do Ministério do Esporte. E o estado atual das instalações tem sofrido críticas. As cobranças são naturais e necessárias. O que me parece é que há um nível de cobrança exagerado e, muitas vezes, desinformado. As pessoas misturam assuntos e dão manchetes, de certa forma, para gerar sensação de abandono. Existe, mas nem tudo é problema.

Mas existem alguns problemas de fácil percepção...
E existem ações que já foram feitas e estão sendo feitas que respondem a muitos desses problemas. Por exemplo, filmaram o buraco onde existia uma piscina de aquecimento no Centro Aquático. Depois, gravou-se uma entrevista com uma criança dizendo que, ali, podia ter uma piscina. Isso é desinformação. Não é informação. Porque fica parecendo que era para se ter uma piscina ali e não tem. Só que nunca foi dito que, ali, teria uma piscina. O plano de legado não previa isso. Ali sempre foi uma instalação temporária.

E o que o ministério tem feito para que o complexo não se transforme em um abrigo de elefantes brancos?
Assumimos o Parque Olímpico em 26 de dezembro, tivemos de construir um plano de legado e em cerca de 40 dias, com grande esforço, conseguimos formatar um plano, que atualmente trabalhamos para colocar em prática. E assumir o parque não foi fácil, porque não estava previsto. Essas arenas seriam administradas por uma parceria da prefeitura com a iniciativa privada, que não se concretizou. Creio que muito em função do difícil momento econômico que passa o nosso país. Só que temos a visão de que esses equipamentos são o topo da pirâmide da nossa infraestrutura esportiva e, para atender a um pedido da prefeitura do Rio, aceitamos assumir a administração dessas quatro arenas: o Velódromo, o Centro de Tênis e as Arenas Cariocas 1 e 2.

E qual é a atual situação do Parque Olímpico da Barra?
Tem quatro meses que assumimos a gestão do parque. Nesse período trabalhamos junto a prefeitura para, por exemplo, recebermos o aceite das obras (documento emitido para certificar que o requerente da licença de obras finalizou o pedido). Além disso, trabalhamos para identificar correções necessárias em todo o parque para cobrarmos as garantias das empresas. Essas empresas, dentro das garantias das obras, vão fazer esses reparos e dimensionar eventuais modificações que o modo legado do parque vai exigir, em função de determinadas funções que serão praticadas.

Alguma modificação está em andamento?
A Arena Carioca 2 está em adaptação para esse modo legado. Desmontamos as arquibancadas porque, desde o início, esse era o plano para a transformarmos em um Centro de Treinamentos.

E como serão determinadas as modalidades desenvolvidas no Centro de Treinamentos?
Ouviremos o COB (Comitê Olímpico do Brasil), o CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro), o CBC (Comitê Paralímpico de Clubes) e as federações.

O presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, disse que assume a gestão do Parque Olímpico, desde que o dinheiro para a manutenção das instalações fosse repassado para a entidade. Há possibilidade de o senhor entregar a administração do complexo esportivo ou de alguma arena a ele?
Não. A gestão será toda ela feita pela AGLO (Autoridade de Governança do Legado Olímpico). O que temos assinado com o COB é um protocolo de intenção para o desenvolvimento e formulação de um calendário para a utilização dos equipamentos. Estaremos abertos ao calendário do COB para o treinamento dos atletas, além da realização de competições. A nossa parceria com o COB é muito importante, mas o papel que desejamos que ele tenha é o de desenvolver o calendário.

Por falar em AGLO, a criação de uma autarquia não prevista tem sido criticada, principalmente, porque vai representar gastos de cerca de dez milhões anuais. Como justificar essa decisão?
A criação da AGLO vai nos aliviar bastante, porque esse planejamento da gestão do Parque Olímpico consumiu boa parte da atenção de nossa equipe. A partir de agora, teremos uma estrutura dedicada para o parque e a equipe do ministério ficará livre para retornar às funções do dia a dia. Mas é errado dizer que criamos uma nova estrutura. Nós transformamos a APO (Autoridade Pública Olímpica – órgão responsável por coordenar as ações dos governos federal, estadual e municipal durante a organização dos Jogos Rio-2016) em um braço executivo para reduzir custos. Cortamos 86 cargos, o que da uma redução de R$ 9,6 milhões por ano de despesas. Ninguém consegue gerir uma estrutura do tamanho do Parque Olímpico sem a equipe apropriada. Se uma empresa privada fosse administrar as instalações, ela não precisaria de contratar seus gerentes, supervisores e diretores?

Se administrar o Parque Olímpico é tão difícil, por que o Ministério aceitou ficar responsável pelo complexo?
A iniciativa privada não se interessou neste momento, então, achei correto a prefeitura do Rio buscar apoio do governo federal. Entendemos que o Parque Olímpico é fundamental para o país. Então, ao assumir, ganhei um monte de críticas, mais trabalho, mas não poderia deixar de cumprir aquilo que acho necessário para o esporte brasileiro.

Um país consegue o seu melhor desempenho no quadro de medalhas na edição em que é a sede. Mas o seu crescimento esportivo é medido nas edições posteriores dos Jogos Olímpicos. O Brasil vai manter o ritmo de desenvolvimento ou vai regredir a números anteriores a 2016?

Esperamos seguir o exemplo da Grã-Bretanha que obteve o seu maior sucesso em Londres (ficou em terceiro no quadro de medalhas com 29 de ouro e o total de 65 láureas) e depois superou no Brasil (foi segundo com 27 ouros e 67 no total). E, assim como eles, esperamos ter um resultado melhor em Tóquio-2020 do que esse obtido no Rio (13 lugar, com sete de ouro e, no total, 19).

É possível sonhar com essa meta mesmo com a crise econômica e política que assola o país?

Além disso, muito se falou na queda de investimentos que o próprio Ministério do Esporte irá fazer. Esse corte vai acontecer? Falar em crescimento nesse cenário parece meio utópico.De fato, o Brasil passa por um momento difícil em sua economia e com aperto orçamentário. Por outro lado, quando temos menos dinheiro e o aperto financeiro é maior, temos de ser mais eficientes, planejarmos mais e definir prioridades.

Quais são essas prioridades?

Cuidar do legado olímpico, manter as bolsas que distribuímos e apoio aos nossos atletas, além de devolver a capacidade de investimento em projetos sociais e mantê-los. E para essas ações não fizemos cortes. Cortamos de outras áreas , do custeio do ministério. O Bolsa Atleta, o Bolsa Pódio e os projetos sociais tiveram seu orçamento preservado. Mas se o ministério faz a sua parte, as demais entidades também têm de fazer. Elas precisam ser mais eficientes, definir prioridades e desperdiçar menos recursos. Esse é o segredo do sucesso. Creio que chegaremos absolutamente fortes nos Jogos de Tóquio, porque melhoramos muito a nossa infraestrutura, difundimos mais o esporte, melhoramos a capacitação dos nossos profissionais e as condições dos nossos atletas.

Melhorar a eficiência das entidades esportivas é um desafio que há muito precisa ser enfrentado. O ministério prevê algum tipo de controle no Plano Nacional de Esporte (PNE) que está em elaboração?

A melhora da eficiência é um pilar do PNE, até porque o esporte brasileiro tem a presença muito marcante do poder público, seja direto do ministério, na parceria com as forças armadas ou nas leis Agnelo-Piva e de Incentivo ao Esporte. É imperativo que o PNE trate da eficiência do gasto público.

O PNE vai finalmente resolver a falta de uma política esportiva no Brasil?
É o nosso planejamento de longo prazo do esporte. Precisamos fazer um diagnóstico de como é o sistema do nosso esporte, onde ele quer chegar e como faz para chegar. Hoje, a maioria dos nossos atletas é formada pelos clubes. Como tornamos mais eficiente essa formação? Como podemos fortalecer outras vertentes importantes de formação de atletas que é o desporto universitário? Quais são as fontes de financiamento e como conseguimos mais? Como tornar as gestões mais eficientes, profissionais e benéficas para os atletas e a sua formação?
Isso tudo é com planejamento. Para chegar bem em algum lugar é preciso se planejar bem. O Brasil sempre pecou pela falta de planejamento. As coisas sempre acontecem muito no talento dos atletas, puxado pelo nosso esporte principal que é o futebol. Mas, agora, a queremos que as coisas aconteçam sabendo onde queremos chegar.

E quanto o PNE estará pronto?
Até o fim de abril esperamos mandar para o governo e a Câmara dos Deputados. Algumas devem medidas ser feitas pelo próprio governo mas, outras, vão depender de autorização legislativa.

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