Gestão Esportiva na Prática: Os pilares do esporte brasileiro; entre a areia o concreto
Modelo de desenvolvimento esportivo brasileiro é sustentado por pilares frágeis

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Talento esportivo é uma virtude brasileira conhecida mundialmente. Do futebol ao vôlei, do atletismo à ginástica, gerações de atletas levaram o nome do país ao topo do pódio em diferentes modalidades. No entanto, por trás de cada conquista, há uma realidade pouco visível, mas estruturalmente determinante: o modelo de desenvolvimento esportivo brasileiro é sustentado por pilares frágeis, historicamente mal definidos e frequentemente desarticulados.
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Vivo na prática, a décadas, essas limitações e tento apontar caminhos para a construção de um futuro mais promissor. Gosto de convidar os apaixonados e investidores no esporte a visitar e estudar as origens da estrutura esportiva nacional e compará-la com os sistemas bem-sucedidos adotados por outras nações.
Origens e os pilares históricos do esporte brasileiro
A estrutura esportiva brasileira começou a se consolidar em 1916, com a criação da Confederação Brasileira de Desportos (CBD). Inspirada no modelo francês, essa organização adotou o sistema piramidal: clubes de base subordinados a federações estaduais, que, por sua vez, respondem a uma confederação nacional. Na prática, porém, o modelo brasileiro se desenvolveu de forma centralizadora e com forte influência política, o que comprometeu sua eficiência e transparência. Ao longo do século XX, o esporte nacional se apoiou em quatro pilares frágeis:
1. Amadorismo
Durante décadas, o esporte brasileiro foi marcado pelo improviso e pela ausência de gestão profissional. Em diversas modalidades, atletas de alto rendimento ainda enfrentam a realidade de treinar sem apoio técnico, sem infraestrutura adequada e, muitas vezes, custeando sua própria preparação e deslocamentos.
2. Clubes Sociais
Os clubes sociais tiveram papel importante na introdução e manutenção de esportes no Brasil urbano, especialmente entre as elites. No entanto, sua estrutura fechada e elitista impediu que o esporte se tornasse um instrumento de acesso universal, limitando sua função social e formativa.
3. Mecenato
Embora o apoio de empresários, dirigentes e entusiastas tenha viabilizado a carreira de muitos atletas, o mecenato é uma forma instável de sustentação. Depender da boa vontade de poucos é arriscado e não permite políticas de desenvolvimento contínuo e abrangente.
4. Federalismo esportivo
A estrutura federativa, herdada da CBD e replicada nas confederações autônomas, promove um modelo marcado por disputas políticas e pouco foco no atleta. A descentralização, em vez de promover eficiência e regionalização das políticas, resultou em feudos e paralisia institucional.

Os pilares sólidos dos modelos de sucesso
Em contraste com a realidade brasileira, países que alcançaram alto desempenho e sustentabilidade no esporte estruturaram seus sistemas sobre pilares sólidos e interdependentes: ligas profissionais, educação esportiva de base e políticas públicas de Estado.
1. Ligas Profissionais
Nos Estados Unidos, ligas como a NBA, NFL, MLS e MLB não apenas formam atletas de elite, mas sustentam uma indústria multibilionária. O modelo de governança é claro, os clubes operam como empresas, e a formação de atletas segue um processo contínuo, altamente competitivo e profissional.
2. Educação como Base Esportiva
Países como Japão, Coreia do Sul, Austrália e os próprios Estados Unidos integram o esporte ao sistema educacional desde a infância. As escolas e universidades são centros de excelência esportiva, com estrutura, técnicos qualificados e competições regulares. A cultura do esporte é construída desde cedo, valorizando o desenvolvimento físico, mental e social do indivíduo.
3. Políticas Públicas de Estado
O Reino Unido, após resultados modestos em Olimpíadas passadas, transformou seu cenário com a criação do programa UK Sport, que definiu metas claras, investimento estratégico e integração entre governo, federações e atletas. O esporte passou a ser tratado como política de Estado, ligado à saúde, à educação e ao desenvolvimento econômico.
Conclusão
Talento nunca foi e acredito que nunca será o nosso problema, mas estrutura sempre foi e pelo caminho que estamos percorrendo, seguirá sendo um dos nossos maiores problemas.
Enquanto insistirmos em sustentar nosso sistema esportivo sobre pilares de areia — como o amadorismo e o mecenato —, continuaremos a viver de lampejos e histórias de superação individual. É urgente que o país reformule sua base esportiva, inspirando-se em modelos que deram certo e construindo ligas fortes, um sistema educacional esportivo e políticas públicas de longo prazo.
Só assim o esporte brasileiro poderá deixar de ser um produto do acaso e passar a ser um projeto de nação.

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