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Italo Ferreira vira documentário, cita vontade pelo bicampeonato mundial e critica gestão do surfe brasileiro

Campeão olímpico em julho, surfista virou protagonista de documentário que foi lançado nesta quarta-feira. Próximo desafio é tentar o bi mundial, já neste mês de setembro

Italo Ferreira
imagem cameraItalo Ferreira teve trajetória contada em documentário lançado nesta quarta-feira (Foto: Divulgação)
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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 07/09/2021
08:24
Atualizado em 08/09/2021
09:40

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Campeão mundial e primeiro campeão olímpico da história do surfe, o brasileiro Italo Ferreira aprendeu a surfar usando a tampa do isopor que seu pai usava para guardar os peixes que pescava em Baía Formosa, no litoral do Rio Grande do Norte, onde Italo nasceu. O começo sem glamour, as desconfianças superadas e as vitórias conseguidas com esforço viraram um documentário, que foi lançado nesta quarta-feira: "A Curiosa História de Italo Ferreira", que está disponível com exclusividade na Red Bull TV. A obra, de 50 minutos, foi produzida pela O2 Filmes, sob a direção de Luiza de Moraes.

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Para promover a estreia do documentário, Italo Ferreira atendeu a imprensa para uma conversa de coração aberto. Em meia hora de papo, o potiguar de 27 anos falou sobre a responsabilidade de ser campeão olímpico, projetou novos sonhos e não poupou de críticas a gestão da Confederação Brasileira de Surf (CBSurf). O atual presidente, Adalvo Argolo, já sofreu denúncias de má gestão administrativa por parte de diversos surfistas e federações estaduais.

- A gente vai querer um cara que está na sua casa e não constrói? - disse Italo.

VEJA O PAPO COM ITALO FERREIRA NA ÍNTEGRA

Já caiu a ficha de que você virou um ícone olímpico?

- Tudo isso passa. O que fica é a amizade que a gente construiu ao longo da vida, que o filme mostra. Claro que tenho sonhos para conquistar, e eu continuo buscando, mas o que fica é a amizade que a gente constrói. É claro que é irado ser campeão do mundo e campeão olímpico, tem uma responsabilidade bem grande no fim das contas, porque mudou minha vida. Tem coisas que, realmente, tenho que me segurar, e tem coisas que a gente pode fazer. Então, colocando na balança, é bem diferente.

O filme mostra que algumas pessoas duvidaram de você. Quanto isso influenciou em sua competitividade e te impulsionou?

- Esses desafios foram um combustível, por isso tento sempre fazer o meu melhor, porque sei quanto busquei, que passei por bastante coisa para chegar até aqui. Eu me orgulho de ter vivido tudo isso, não mudaria nada. Provavelmente, se eu tivesse tudo não estaria aqui. Ter passado pelo que passei me deixou mais firme e forte para alcançar meus objetivo e sonhos.

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É possível comparar as conquistas do Mundial de Surfe (2019) e da Olimpíada (2021)?

- O Circuito Mundial é bem mais difícil, pelo que a gente vive durante o ano, as viagens que a gente faz. Os dois títulos foram especiais. O momento do título mundial foi incrível, com as pessoas ao meu redor na praia, mas o melhor momento foi quando voltei para casa depois da Olimpíada, porque eu estava só com meus amigos, em casa, com aquela galera que acreditou que tudo poderia ser real.

Como foi a recepção depois da Olimpíada?

- Até discuti com meu pai neste dia, porque ele não estava me esperando. Ele disse: "Você chegou de madrugada, não avisou a ninguém". Eu falei: "A gente está em um momento delicado (por conta da pandemia), não vou estragar essa história que eu construí e depois ser cancelado por algo que eu fiz, de aglomerar muita gente ou algo que poderia sair do meu controle. Então, foi especial ser recebido pelos meus amigos, conversar sobre a conquista. São coisas pequenas, mas que são especiais.

A próxima missão é tentar ser bicampeão mundial (o Brasil terá três nomes no WSL Finals masculino, entre 9 e 17 de setembro, na praia de Trestles, na Califórnia (EUA). A decisão reúne os cinco melhores do ranking na temporada. Gabriel Medina (já na final, que será feita em uma melhor de três baterias), Italo (entrando na semifinal, de bateria única), e Filipe Toledo (entrando nas quartas de final, de bateria única) disputarão o título junto com o norte-americano Conner Coffin e o australiano Morgan Cibilic, que fazem as oitavas, de bateria únca). Existe alguma tática diferente para o novo formato de final?

- Treinei bastante para estar bem fisicamente e mentalmente na final. Vi na previsão que terá altas ondas, então não vai ter sorte, quem tiver a melhor performance vai levar o título. É realmente bem diferente do que a gente viveu nos últimos anos, mudou a nossa mente, mas que encaixou para mim. No final das contas, estou na disputa e com vontade.

Você gostou do novo formato da final?

- Não (risos).

WSL
Série de mata-matas vai decidir o título (Foto: Divulgação/WSL)

Como é sua relação com Gabriel Medina e Filipe Toledo? O que você tem a dizer desses dois adversários?

- São os dois melhores surfistas da atualidade. Estão muito bem, são dois caras que surfam bastante, que sempre puxam o meu nível. São caras que me inspiram e estão ali buscando o mesmo objetivo que eu.

Você acha que, com a medalha de ouro na Olimpíada, o surfe brasileiro terá mais investimento e mais organização?

- Infelizmente, algumas pessoas que estão por trás pensam no próprio umbigo em vez de ajudar o próximo, impulsionar este momento e aproveitar para que cresçam novos surfistas. Hoje você começa a surfar no Brasil e existe o Mundial, mas não tem um meio termo, não tem competições nacionais. Os atletas acabam desmotivados, pois precisam de um caminho a seguir. Muitos acabam desistindo por não ter alternativa e suporte.

O que falta para uma maior valorização e reconhecimento dos surfistas profissionais e amadores do Brasil?

- A gente está vivendo um momento difícil de campeonato no Brasil. Não só neste ano, mas há alguns anos, os surfistas brasileiros vêm sofrendo com a escassez de campeonatos. Hoje a gente tem grandes marcas investindo no surfe, mas precisamos de pessoas por trás que queiram estar 100% nessa jornada, para que a gente tenha melhores atletas não só no Circuito Mundial, mas no cenário nacional. Antes, o pessoal saia do WCT (World Championship Tour) para competir em campeonatos nacionais, porque era incrível, um nível de surfe absurdo. Hoje a gente não vê nada disso. Na época, tinham campeonatos que davam carro no final do ano e boas premiações. Para o atleta, é um super incentivo.

Existe uma tentativa de afastamento do presidente Adalvo Argolo da Confederação Brasileira de Surf. Está acontecendo uma eleição para representante de atletas, e os profissionais, tanto você, quanto Medina e Filipe Toledo, comentam pouco sobre isso. Vocês têm agido nos bastidores? Você quer a saída de Adalvo Argolo?

- Na real, é nítido. Se não está funcionando, a gente vai querer um cara que está na sua casa e não constrói? Você contrata um cara para construir a sua sala e o cara está sentado no seu sofá, você vai querer continuar com esse cara? Eu não gosto de falar de nomes, mas a gente já se manifestou.

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