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Lauter no Lance!: O dia em que a Ucrânia invadiu a Rússia e levou o ouro de Moscou

Tudo isto sob o olhar frio e cinzento, de Putin, que acompanhava incrédulo, os movimentos de uma tropa azul e amarela, que meio desajeitada saltitava no setor norte do Estádio Olímpico de Moscou

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imagem cameraMoscou (Foto: Marcio Porto)
Dia 18/03/2025
06:45
Atualizado há 14 horas

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Pois é, foi no imponente e inesquecível (quem assistiu o Urso Misha chorar, deixando rolar em sua face uma lágrima de adeus, no encerramento dos Jogos Olímpicos de Moscou, entende) Estádio Olímpico, que foi travada a primeira batalha de uma guerra estúpida que se anunciava próxima entre Rússia e Ucrânia. E foi uma batalha épica, onde não houve mortos ou feridos; talvez feridos quase de morte, os brios do time russo de atletismo, previamente tratado como uma das 4 forças daquele, hoje, distante Campeonato Mundial de Atletismo, de 2013.

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Bom, tentando botar ordem na casa, devo esclarecer que não, esta não é uma história sobre a invasão da Criméia, que só aconteceria quase um ano depois deste inesquecível mundial. Mas tem a ver com as sucessivas incursões russas no território ucraniano, com a mania russa de anexar territórios vizinhos, e criar boicotes econômicos e políticos em série. Mas isto é conversa para chanceleres e afins. O que ne verdade quero contar é sobre homens voadores, que teimam ora sim, ora também, desafiar uma lei que não se desafia, a da gravidade!

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Burburinho entre as delegações

Resumindo, tão rápido como Usain Bolt ou Shelly-Ann Fraser, os vencedores dos 100 metros rasos, foi um Mundial de grandes nomes, em todos os setores do mítico Estádio Olímpico! E eu, euzinho aqui, do alto dos meus 4.2 graus em cada lente, assisti cada prova, dos 100 metros dos velozes e eternos jamaicanos
ali de cima, às maratonas e marchas muito atléticas e nada marciais dos heróis da resistência humana.
Vamos lá, tentando situar a…. situação:

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Antes da abertura do Mundial, já havia um burburinho cada vez mais alto entre as delegações da Rússia e da Ucrânia. Afinal, a Rússia havia se esmerado na preparação, aliás se esmerou tanto que quase um terço da delegação foi banida por excesso de substâncias proibidas, um esmero ilegal, não concordam? Mas também se esforçou muito pra mostrar sua covarde pujança bélica, dando uma prévia de duelos esportivos, pessoais e cívicos. Enfim, o verão moscovita esquentava a cada dia, a cada prova. À cada notícia bombástica que vinha do front (fronteira ucraniana, claro).

Mas, mesmo com as baixas, os russos prometiam defender “em casa” os ouros à que se propuseram, principalmente nas provas de campo, como o nome já indica, as que não são disputadas em pista e asfalto! E esta proposta russa iria bater de frente em várias provas, com seus rivais/inimigos do momento, os ucranianos. Especialmente em uma prova, onde a possibilidade de pódio completo era real para os russos, o salto em altura, onde a Rússia vinha completa (3 atletas com status de TOP 3). Mas, sempre tem um….. mas. Havia uma delegação que não via aquele mundial, aquela prova, apenas como esporte, para eles aquilo era uma oprtunidade de mostrar que o rato rugia alto, que as terras anexadas, as mortes de centenas (lembremos que ainda era 2013, e não havia ainda guerra declarada) de compatriotas, não ficariam sem respostas. O hino nacional da Ucrânia tinha de ser ouvido e cantado naquele estádio, no coração da Rússia, nas vísceras de Moscou. Mas quem seria o autor dessa façanha épica?

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Bondarenko voou

Sim, havia alguém, um esquálido saltador, de quase dois metros e barba sempre por fazer, que atendia por Bobo, Bohdan Bondarenko, que conhecia bem o peso da artilharia inimiga, já que nascera e vivera em Kharkov, na beirada nordeste, quase fronteira com a Rússia. Várias vezes a artilharia inimiga não o deixara
dormir ou treinar. Bondarenko não havia treinado muito nas últimas semanas pré-mundial. As noites onde o barulho das bombas e das sirenes de aviso eram mais altas e fortes que seu cansaço dos treinos duros e uma gripe renitente, não lhe davam sossego. Apesar disso, seu objetivo era único e ousado, não dar sossego aos 3 russos que queriam ocupar todos os lugares do pódio na final do salto em altura. Era uma árdua missão, onde talvez só ele acreditasse que poderia acontecer.

Nas eliminatórias, os doze melhores passam à final. O que se viu, foi um “passeio” dos 3 russos, acompanhados por Barshim do Catar, o britânico Grabarz, Thomas de Bahamas e Bondarenko, os outros vieram à reboque. Era um grupo forte, formado pelos 12 melhores que iriam para a grande final. A
enorme torcida russa, em casa, aproveitando um exótico calorzinho de verão moscovita, fazia a festa sozinha nas cadeiras do Estádio Olímpico. O pódio completo, à cada dia, parecia mais próximo e real
E chega o dia da final. Mas o que é aquilo no setor norte do Estádio Olímpico, um mar azul e amarelo?
Eram mais de 10 mil ucranianos que teimaram em não deixar Bondarenko sonhar sozinho! De trem, avião, carros antigos e ônibus, eles “invadiram” Moscou para a final do salto em altura antes de Putin decretar a invasão russa. E faziam tanto barulho quanto os das noites insones de Bondarenko em Kharkov. O sisudo Bobo enfim sorria!

E o que se viu foi Bondarenko voar, voar para o lugar mais alto do pódio. A cada um dos 4 saltos que ele deu para conquistar o ouro, a arquibancada quase toda, contagiada pela felicidade frágil de um povo forte, voava junto! Enquanto ele, deitado no macio colchão, sorria e chorava, talvez ainda sonhando, mas já prevendo pesadelos, enfim se levanta abraçado por TODOS os onze adversários e é sugado pela ala norte, e sul e de todos os pontos cardeais daquele Estádio Olímpico. As poucas vaias dos torcedores locais, com o passar do tempo viraram tímidos aplausos. Barshim e Drouin, seus colegas de pódio escoltavam Bondarenko para uma improvável volta olímpica. O ouro de Moscou pendulava no peito de um improvável herói, que de olhos fechados e rosto lavado de lágrimas, cantava o hino de seu sofrido país, no lugar mais alto do pódio de Moscou.

** Em tempo, será que alguém lembra quem venceu o salto em altura nos Jogos do Rio 2016?

Abrindo a série Meninos eu vi…

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