Lenda da vela luta por mares limpos e detona Trump por descaso na área
Campeão mundial e no Hall da Fama, Paul Cayard é exemplo de longevidade e embaixador pela preservação dos oceanos. O velejador tentará celebrar os 60 anos com título na Itália
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Uma lenda viva. É assim que o mundo da vela se refere a Paul Cayard, atração do Campeonato Europeu de Star, que acontece em Riva del Garda (ITA). Dono de diversos títulos mundiais em diferentes classes, da Volta ao Mundo de 1998 e integrante do Hall da Fama da modalidade, o americano tem utilizado sua imagem para fortalecer uma campanha pela preservação dos oceanos em todo o planeta, quando não está dentro do barco.
Paul, que compete ao lado do brasileiro Arthur Lopes, completará 60 anos no domingo e quer celebrar com a taça em um palco especial. Ele se tornou herói para os italianos quando comandou o Il Moro di Venezia, que venceu a Louis Vuitton de 1992 e foi vice-campeão da America's Cup do mesmo ano, após perder o título para a Nova Zelândia. Sua popularidade era comparada a de um jogador de futebol.
De carreira como velejador, são quase cinco décadas. A experiência, a boa oratória e a paixão pelos mares o levaram a se tornar embaixador da Fundação “One Ocean”, em 2017. Mas, apesar do respeito pelo Brasil graças à tradição na vela, Paul não se esquece de quando encontrou uma geladeira e um sofá boiando na Baía de Guanabara.
– É um processo educacional que precisa ser feito no mundo. O Ocidente está mais consciente, mas há nações da Ásia que produzem muito lixo. Dos países onde velejei, o Brasil, infelizmente, tem tido dificuldades – disse o veterano, que durante anos travou uma rivalidade acirrada com Torben Grael.
Em janeiro, Cayard passou um período na Antártida, onde acompanhou estudos que alertam para o aumento da temperatura do oceano e a morte de espécies locais. Questões ambientais são temáticas que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, frequentemente ignora. O astro, mesmo com a voz calma habitual, não esconde a insatisfação com a postura do político.
– É simplesmente inacreditável. Nós não discutimos muito essa questão por lá, já que ele é tão extremista e distante da realidade que não consegue compreender um problema real. Especialmente nós, velejadores, por vivermos na água, temos um bom entendimento do que acontece no mar – diz Cayard.
Dupla dá frutos entre o laptop e as regatas
Parceiro de Paul Cayard no Campeonato Europeu, o brasileiro Arthur Lopes faz uma jornada dupla para competir entre as lendas da vela. Formado em Administração, ele trabalha em uma empresa de soluções em Comércio Exterior e precisa se manter ligado ao laptop quando viaja para as disputas na classe Star.
– Dirijo a área comercial, então é sempre muito acelerado. Estou velejando aqui, mas daqui a pouco tenho de voltar para o hotel, pegar o computador e trabalhar, falar com o pessoal, ver se está indo tudo bem. Às vezes, aproveito as viagens para encontrar o pessoal de fora da minha área – afirmou Arthur, ao LANCE!.
O proeiro, de 33 anos, mostrou bom entrosamento com Paul desde que os dois passaram a competir. No ano passado, ficaram em terceiro no Mundial de Star em Oxford (EUA).
– Não tenho planos de seguir carreira profissional na vela, mas quero velejar em alto nível o máximo que eu puder – disse o atleta, que celebra a chance de aprender com o astro:
– Ele tem uma noção muito boa na parte de regulagem. É um cara muito calmo e técnico na água. Estamos felizes com os nossos resultados.
A dupla ocupa a quarta colocação no Europeu de Star, após cinco regatas, com 17 pontos perdidos. Os brasileiros Robert Scheidt e Henry Boening lideram, com nove.
O evento, que vai até domingo, quando serão disputadas as quartas, semifinais e final, tem status de Breeze Grand Slam da Star Sailors League (SSL), o que elevará a premiação a U$ 100.000,00 (cerca de R$ 400.000,00) para os dez melhores, além de atribuir 2.500 pontos à dupla campeã no ranking da SSL.
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BATE-BOLA
Paul Cayard
Velejador, ao LANCE!
‘Vou velejar até quando o corpo deixar’
Conte da relação com o Brasil.
Eu passei a vida velejando contra o Torben, então entendo um pouco do Brasil (risos). Antes, também competi contra o Alan Adler. Tenho grande respeito pelos velejadores do país. Agora, travo uma briga aqui com o Robert Scheidt. Para mim, se todos os dias eu estiver brigando com um atleta deste nível, está muito bom.
Como foi o entrosamento com o Arthur? O que destaca nele?
O Tutu é um ótimo e jovem velejador. É divertido competir ao lado dele, com quase o dobro de sua idade. Poderia ser meu filho. Gosto do entusiasmo e da postura positiva dele diante das situações, além de ser bastante rápido como proeiro.
Quais os planos aos 60 anos?
Vou até quando meu corpo deixar. Ele ainda espera chegar a hora de parar. Enfrento caras de muita qualidade, mais novos que eu, e sei que será difícil me manter quando perder essa capacidade competitiva.
Ganhar aqui seria especial?
A Itália é meu segundo país. Minha filha Allie nasceu em Milão e tenho grandes referências aqui. Fico feliz com o apoio que recebo ao vir.
QUEM É ELE
Nome
Paul Pierre Cayard
Nascimento
19/5/1959, em São Francisco (EUA)
Função
Timoneiro
Currículo
Campeão mundial de Star em 1988; bronze nos Mundiais de Star de 1984, 1985, 1987 e 1992, campeão da Louis Vuitton Cup em 1992; vice-campeão da America's Cup em 1992; primeiro americano a vencer a Volta do Mundo, em 1998, e segundo colocado em 2005; quinto colocado nos Jogos Olímpicos de Atenas-2004, na Star.
* O repórter viaja a convite da Star Sailors League (SSL)
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