Papo com Helio Castroneves: ‘Minha 1ª vitória nas 24 Horas de Daytona’

Piloto brasileiro venceu no último domingo a Rolex 24 at Daytona, pela Wayne Taylor Racing, e celebra a conquista em sua coluna semanal no LANCE!

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Oi amigos, tudo bem?

Tenho tanta coisa para contar que nem sei por onde começar. A verdade é que estou feliz. Foi a realização de um sonho vencer no último domingo a Rolex 24 at Daytona, pela Wayne Taylor Racing, ao lado de pilotos tão maravilhosos como o Alexander Rossi, Filipe Albuquerque e Ricky Taylor, meu parceirão no título do ano passado pelo Team Penske.

Todos vocês sabem do meu amor pela IndyCar e do orgulho danado que tenho por ter tido a honra de vencer por três vezes essa prova incrível que é a 500 Milhas de Indianapolis. Mas esse meu período no IMSA WeatherTech SportsCar Championship, pelo Acura Team Penske, fez com que o meu desejo antigo de vencer em Daytona só aumentasse.

Não me entendam mal, toda vitória é importante e a alegria é sempre indescritível. Só que alguns lugares históricos, como Indianapolis e Daytona, têm uma aura especial, a atmosfera é diferente e, obviamente, as dificuldades são gigantescas. E se a gente pensar que o ritmo de corrida em Daytona mais parece o de uma prova sprint e não de 24 horas, as exigências física e mental são brutais.

Logo após o término da relação com a Penske, o Wayne Taylor me chamou para correr essa prova e fiquei muito feliz. E essa felicidade só foi aumentando quando conheci o pessoal todo, o jeito de trabalhar, a atmosfera do time. É tudo muito legal. Claro que já conhecia todo mundo. Sempre foi muito gostoso estar com a família Taylor, que aconteceu bastante nos anos anteriores.

Mas só correndo com deles é que a gente tem a certeza de que aquele jeitão de família unida está impregnado no dia a dia da Wayne Taylor Racing. Os Taylor sempre me receberam de braços abertos e me senti em casa, justamente por causa do convívio familiar que sempre vivi desde criancinha e que foi fundamental para formar a pessoa e o profissional que sou hoje. Pena que essa pandemia impediu que meus pais estivessem aqui. Eles iriam amar esse ambiente.

O fato de a Wayne Taylor Racing estar com o mesmo carro que era meu e do Ricky no ano passado ajudou bastante. Uma coisa interessante é que cada equipe tem um modo diferente de trabalhar. Desse modo, ele estava ligeiramente diferente em um ou outro detalhe, mas nada que representasse mudanças significativas.

Na divisão de tarefas, o Filipe largou e depois, pela ordem, entraram na pista Ricky, eu e o Alex. No meu caso, eu cumpri oito stints, que é como chamamos o tempo compreendido entre a saída dos pits, o número de voltas consecutivas que você completa e a nova parada. Quando você não sai do carro no pit e retorna para a corrida, está iniciando o seu segundo stint e assim sucessivamente. Os meus quatro primeiros foram de noite. Os outros entre o final da noite e o amanhecer.

Todos nós enfrentamos a mesma situação durante as 24 horas de prova, ou seja, disputa extremamente forte a qualquer tempo e muito tráfego. Para vocês terem uma ideia, há um controle que indica na tela da equipe três luzes: verde, amarela e vermelha. Pela ordem, é quando o tráfego é suave (ou nenhum), médio e absurdamente forte. Mas não é só.

Dentro dessa bolinha colorida há um número, que indica quantos carros estão na sua frente num intervalo de 10s. No meu caso, em boa parte da madrugada, a bolinha não saía do vermelho e o número variava entre 13 e 17. Vou contar para vocês uma coisa, a rapadura é doce, mas não é mole, não.

Apesar de todas as dificuldades, foi um trabalho de equipe perfeito. Com o comando do Wayne, tudo funcionou perfeitamente bem na pista, nos pits e na retaguarda. Aquela explosão de alegria que vocês viram na TV tinha razão de ser. Vencer uma das provas mais difíceis do mundo é motivo, sim, para comemorar.

Só que depois da prova estava pregado. Nem dirigi de volta para casa. Quem pegou a estrada, nas pouco mais de três horas entre Daytona e Fort Lauderdale, foi a Adriana. No banco do passageiro tentei responder centenas de mensagens, dei entrevistas e ri sozinho ao lembrar de alguns detalhes. Mas o tempo todo com meu Rolex, o prêmio pela prova. E como eu queria esse relogião!

É isso, amigos, foi muito legal, mas agora é trocar a chavinha na cabeça e pensar na temporada da IndyCar pela Mayer Shank Racing. Sobre isso, falaremos nas próximas colunas.

Fiquem bem, cuidem-se e muito obrigado!

Helio Castroneves

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