CT Paralímpico volta a receber treinamentos após 111 dias fechado
Prefeitura de São Paulo concedeu autorização ao CPB para reabertura para um pequeno grupo de atletas em três modalidades (atletismo, natação e tênis de mesa)
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Depois de cumprir todos os procedimentos de higienização no Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro (CTPB), em São Paulo, o nadador brasiliense Wendell Belarmino não se conteve ao chegar à piscina: "Piscina", gritou. A expressão emocionada do atleta campeão mundial em Londres 2019 ecoou pelo recinto vazio e quebrou o silêncio que durou exatos 111 dias para ser rompido.
Na tarde da última terça-feira, um grupo de quatro nadadores foi o primeiro a treinar no CT Paralímpico desde que a instalação suspendeu as atividades em decorrência da Covid-19. O último dia de natação no local foi em 16 de março. Desde então, as mais de mil pessoas que circulam normalmente no local, entre atletas, treinadores, alunos das escolinhas do centro de formação, e funcionários do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), que gere o Centro, estão impedidas de utilizar esta praça esportiva.
A prefeitura de São Paulo, contudo, concedeu autorização ao CPB para reabertura para um pequeno grupo de atletas em três modalidades (atletismo, natação e tênis de mesa), para retomar os exercícios desde que fosse cumprido um extenso e rígido protocolo de higienização elaborado pelo departamento médico do CPB juntamente com os profissionais da área técnica. O protocolo está disponível na íntegra aqui.
Wendell é um dos quatro nadadores que aceitaram o convite do CPB de retornar ao CT e testaram negativo para Covid-19, em exames realizados no final de semana que passou.
Na companhia do treinador, Marcus Lima, ele deixou Brasília, onde treinava na piscina da UnB (Universidade de Brasília), que está fechada, para retomar os exercícios em São Paulo.
- Foi incrível voltar a treinar aqui hoje [nesta terça-feira], parecia que ia bater o recorde mundial. Eu dei um tiro, eu cansei e pensei: 'Vamos com calma'. Fiquei ansioso e quando botei o pé na água da piscina, logo pensei: 'Hoje eu vou finalmente nadar'. Quando eu nadei, se eu estivesse numa forma física boa, com a energia que eu coloquei para nadar aqui hoje, eu acho que bateria o recorde mundial - comparou o nadador de 22 anos que tem glaucoma congênito.
Ao lado dele, na piscina do Centro de Treinamento Paralímpico, em raias alternadas na tarde desta terça, estavam o pernambucano Phelipe Rodrigues, heptacampeão Parapan-Americano em Lima 2019, sua conterrânea, Carol Santiago, campeã mundial em Londres 2019, e o goiano Ítalo Gomes, medalhista de bronze nos 100m costas nos Jogos do Rio 2016.
Eles estão aptos a treinar no CT porque o critério estabelecido pela diretoria técnica do CPB nesta primeira fase da retomada engloba os medalhistas no Mundial do ano passado e nos Jogos Paralímpicos do Rio 2016. A previsão de que atletismo e tênis de mesa só retornem aos treinamentos na semana que vem. Não mais do que 50 atletas nas três modalidades devem retornar aos treinos por ora.
Esses três esportes foram contemplados porque o CT funcionava como centro de referência para eles. Antes da pandemia, mais de 140 atletas de atletismo, natação e tênis de mesa do Brasil inteiro treinavam de forma fixa no local. O protocolo aprovado pela prefeitura de São Paulo, entretanto, não permite tamanha quantidade de pessoas reunidas no mesmo espaço no momento.
Até chegar à piscina, Wendell, Phelipe, Carol e ítalo foram submetidos a testes de Covid-19 no final de semana - tanto o RT-PCR (raspagem na região da nasofaringe) como sorológico. Já nesta terça, eles passaram por medição da temperatura corporal e oximetria. Caso apresentassem estado febril, estariam impossibilitados de adentrar ao CT.
Em seguida, passaram por um túnel de ozônio, para desinfecção de roupas e acessórios. Os elevadores não estão em funcionamento, e há bloqueios em todo o Centro de Treinamento que fazem com que nadadores e nadadoras tenham apenas o caminho livre até a piscina. Até caírem na água, é obrigatório o uso de máscaras. Só é permitido um atleta por raia e em raias alternadas.
- Foi um procedimento muito bem organizado. Bastante profissional, estacionei o carro, subindo para a piscina, tem o túnel de ozônio. Até então, eu via só nos outros países essas coisas, vendo isso no Brasil fiquei bastante surpreso - comentou Ítalo.
- Saber que o Comitê Paralímpico Brasileiro está preocupado com os atletas, fazer com que a gente volte a treinar, traga nossa motivação de volta, é superimportante. Tivemos várias reuniões sobre os vários procedimentos de segurança. A gente sabe que o CPB está fazendo o que pode para que a gente volte com nossa motivação - emendou Phelipe Rodrigues.
- Eu sempre digo que o CT é minha casa. Desde que comecei a me preparar entre atletas com deficiência, eu comecei a treinar aqui. Quando eu venho treinar aqui eu digo: 'Nossa, eu estou em casa'. Quando eu venho competir no CT, a competição é 'em casa'. Quando eu olhei para a piscina, tive de segurar a emoção - disse Carol Santiago.
-Hoje foi um marco para gente. Apesar de ter um grupo bastante reduzido, bem espaçado, com bastante segurança, mas importante também para testar todo o protocolo, todos os procedimentos. É fundamental que este primeiro grupo siga exatamente o que foi passado, dê um feedback do que pode melhorar, para que mais atletas que vierem, quando houver autorização, este processo já esteja automatizado e aperfeiçoado e seja seguro para todos - comentou Leonardo Tomasello, técnico-chefe da natação paralímpica brasileira, que orientou o treino dos atletas na tarde desta terça à margem da piscina do Centro de Treinamento Paralímpico.
Nesta quarta-feira, os treinamentos seguiram com este mesmo grupo de atletas. O calendário de competições paralímpicas promovido pelo CPB permanece suspenso e a maioria dos funcionários do Comitê trabalha em regime de home office e sem data definida para retorno.
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