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Verônica Hipólito, após baques: ‘Quero fazer história no esporte’

Um ano depois da cerimônia de encerramento dos Jogos Paralímpicos, a velocista relembra momentos marcantes de sua estreia no evento, quando competiu com tumor no cérebro

Verônica Hipolito (Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB)
imagem cameraVerônica Hipolito conquistou duas medalhas na Rio-2016 (Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB)
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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 16/09/2017
09:47
Atualizado em 18/09/2017
08:00

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O tanto que Verônica Hipólito esbanja de simpatia também distribui em determinação. Um ano após sua estreia em Jogos Paralímpicos - onde conquistou a prata nos 100m e o bronze nos 400m na classe T38 - a jovem de 21 anos vê o alto rendimento paralímpico muito próximo do olímpico e quer colocar seu nome na história do esporte nacional. 

- Eu não tenho um grande sonho, eu tenho vários. Quando eu atingir eles, eu vou querer mais. Eu quero fazer história no esporte. Quero virar o exemplo no esporte sendo uma atleta paralímpica. O Movimento Paralímpico está crescendo muito, o alto rendimento é muito próximo do olímpico e eu quero ser o exemplo disso - conta a paulista, que completa.

- Eu acredito e espero que não precise operar mais. Espero não quebrar mais meus ciclos, superar minhas marcas cada vez mais. Quero bater recordes mundiais e bater as minhas próprias marcas. Eu quero ser referência. Quero ser o que os meus ídolos são para mim. Quero que as pessoas olhem para mim e falem que a Verônica é a pessoa a ser batida e meu exemplo máximo.

Assim como o sorriso no rosto, as cirurgias também acompanharam Hipólito. Aos 12 anos ocorreu a primeira, a retira de um tumor cerebral. Praticante de judô, a menina se viu obrigada a sair da modalidade por não poder sofrer impactos da cintura para cima. Como um substituto, apareceu o atletismo. Três anos depois, porém, Verônica se afastaria novamente do esporte. Vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), ela teve como sequela uma paralisia leve do lado direito do corpo.

Iniciando a carreira como paratleta, a jovem, com apenas 17 anos, sagrou-se campeã mundial dos 200m e vice nos 100m na edição de Lyon-2013. Na semifinal dos 100m, a brasileira quebrou o recorde mundial ao fazer 13s19. Pouco antes do Pan de Toronto-2015, porém, viria outro baque. Verônica foi avisada que precisaria passar por uma nova cirurgia, dessa vez para retirar 90% de seu intestino groso. O procedimento impediria que mais de 200 pólipos se transformassem em um câncer. 

Após a conquista dos ouros nos 100m, 200m, 400m e a prata no salto em distância. Hipólito realizou o procedimento. Tendo que assistir o mundial pela televisão, ela recorda o apoio dos amigos e familiares.

- Eu vi todos os recordes mundiais caindo. Eu não conseguia recuperar meu peso, estava muito magra, minha barriga tinha afundado. Amigos meus que já tinham se lesionado, claro que uma lesão é diferente de uma cirurgia para tirar o intestino grosso ou de um tumor na cabeça, mas eles falavam para mim que minha história só estava começando e que a minhas dificuldades também estavam no início, assim como o que eu tenho para conquistar - recorda.

Novamente com um tumor na cabeça, Verônica partiu para os Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro. Colocando, um ano depois, as duas medalhas no peito, ela conta que, no decorrer da competição, nem lembrava do problema. Este ano, ela foi submetida à cirurgia para a retirada do tumor.

- Eu só queria voltar a correr bem e de forma rápida. Eu nunca me importei com o tumor que eu tinha na cabeça. O que eu perguntava para o meu médico era ‘Eu vou poder correr? Eu vou poder treinar?’. Não me importava com o problema, mas sim com a solução. Eu tinha a solução no momento, que era tomar remédio e depois operar - conta a velocista, que completa:

- Eu estou bem, não fui para o Mundial de novo, mas eu tenho ciclos e ciclos pela frente para ganhar a tão sonhada medalha de ouro nos Jogos Paralímpicos, para voltar a defender meu título mundial.

As memórias das Paralimpíadas que ficaram na mente da atleta são outras. Definindo os Jogos como divertidos e com emoções intensas, ela revela que, não há palavras para descrever o que viveu. 

- Eu entendo que tudo foi muito divertido mesmo. Tenho lembranças da Vila, da minha medalha e todas elas são guardadas com muito carinho porque foram extremamente divertidas. Coisas muito legais que aconteceram foi, por exemplo,  a gente sair em grupo com uma galera da Seleção que também ganhou medalha e pessoas paravar a gente na padaria para conversar. Não é algo comparado com jogador de futebol ou com alguns atletas olímpicos, mas a gente melhorou muito e tenho certeza que vamos melhorar cada vez mais.

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A Garota Prodígio também recorda de um episódio com o mesatenista Israel Stroh.

- Eu e o Israel quase nunca nos víamos na Vila porque nossas competições batiam. Quando a gente se encontrou uma vez, e, como tínhamos final no dia seguinte, combinamos de celebrar a medalha de ouro juntos. No final ele ficou com a prata e eu com o bronze e a gente comemorou do mesmo jeito. A gente lembrou de todas as dificuldades que a gente passou. Era algo tão intenso que a gente tem que estar lá para sentir. Estar com os meus amigos e viver com eles cada milésimo de segundo deste sonho era incrível. Espero viver muitos ainda.

Como legado, Verônica enxerga uma maior visibilidade para o Movimento Paralímpico.

- Tem exemplo de famílias que até hoje vêm aqui no CT que não estiveram nos Jogos Paralímpicos, que assistiram pela televisão, e passaram a vir aqui nos Circuitos. Alguns conseguiram o contato de alguns atletas e mandam mensagem para a gente, seja pelo WhatsApp, seja pelo Facebook. Trazem amigos para torcer. A procura por palestras aumentou e quando a gente vai dar palestra, nós somos reconhecidos. Muita gente que vêm assistir a gente ou manda mensagem não vê mais como deficiente praticando esporte que é algo completamente diferente de um atleta de alto rendimento.

Super otimista com o futuro do esporte paralímpico, Hipólito avisa que em Tóquio-2020, 'vai ser nossa campanha histórica e que, em 2024, teremos outra campanha histórica e que em 2028, teremos mais uma e por aí vai'. A paulista explica que há uma preocupação com as novas gerações e que a falta de atletas não será um problema.

- A gente nunca vai ter este problema do atleta estar ficando muito velho e não vai ter um “substituto” e a gente vai perder medalhas. A gente só vai melhorar cada vez mais. Nas nossas competições, existe uma mistura de idade, então alguém jovem de uma classe completamente diferente da minha pode correr comigo. Então essa pessoa que ainda não tem medalha o brasileiro pode competir com um medalhista paralímpico, mundial. Acho que isso é um super incentivo, pelo menos é o que falam para a gente - crava a velocista, que completa:

- A gente tem como exemplo o Mundial de atletismo desde ano. Metade da delegação eram atletas experientes e a outra eram atletas novos, com menos de 25 anos. Ou seja, teriam mais dois ou três ciclos pela frente. Teve o parapan de jovens este ano, a gente pegou atletas com 14 a 18 anos e já estão entre os oito primeiros no ranking mundial. A gente vai melhorar.

BATE BOLA

LANCE!:
Quais as suas principais lembranças das Paralimpíadas?
Verônica: São muitas memórias. Foram as minhas primeiras Paralimpíadas, espero que a primeira de muitas. Fiz uma estreia que, na minha opinião, não poderia ser melhor. Me lembro de todo o espírito paralímpico. Estádio lotado, ginásio paralímpico lotado foram coisas que me deram super força. Eu tinha vindo de uma cirurgia do intestino grosso, então eu não sabia como seriam os Jogos para mim, mas, com toda aquela galera torcendo por mim, vibrando, sabendo o meu nome. Claro que eu não poderia dar menos que o meu melhor.

L!: O que mais te chamou a atenção?
V: Acho que o que mais me chamou a atenção foi a quantidade de crianças que estavam lá. Iam famílias com crianças, escolas que faziam excursões. As crianças que iam lá eram fanáticas. Até hoje elas acompanham, mandam mensagens e essa galera começou a entender o que é o Movimento Paralímpico. Essas crianças vão crescer sabendo o que é o movimento, que os deficientes não são coisa de outro planeta. Sabendo que um degrau pode ser uma dificuldade para muita gente e que eles tem que ajudar.

L!: Quais eram as suas expectativas?
V: Eu fui lá pensando, eu não sei o que vai acontecer aqui, mas para as meninas ganharem de mim, elas vão ter que correr muito. A menina que ganhou o ouro nos 100m bateu o recorde mundial e as meninas que ganharam ouro e prata nos 400m também. Uma adversária minha conversou comigo depois, falando que tinha medo de mim porque, recém-operada e com um tumor, eu subi no pódio. Teve outra que disse que eu estava dando muito trabalho, e ela achou que ia perder.

L!: Qual a sensação de conquistar duas medalhas paralímpicas?
V: É muito bom. Se eu conseguisse descrever em palavras, eu estaria mentindo. Foi algo tão grande, maravilhoso e especial que não tem como descrever. Mais importante disso tudo é que eu não queria colocar uma medalha sentindo que só eu estava colocando a medalha. Muita gente faz parte desta medalha, muita gente chorou com a minha medalha.

L!: Como você vê a eleição do Andrew Parsons para presidente do Comitê Paralímpico Internacional (IOC, em inglês)?
V: Para mim, para alguém ganhar do Andrew teria que ser absurdamente bom. Ele é fora da linha. É alguém para fazer história e que está fazendo história. Eu pude ver de perto o trabalho dele. Ele sabia o nome e a história de cada atleta, funcionário, sabia como estava cada modalidade e ouvia a todos. Ele assistia todos os Campeonatos, sempre sabendo qual a possibilidade de medalha de cada atleta e conversava com cada um de nós. Ele é este tipo de presidente que está próximo e que quer mostrar que o Movimento Paralímpico é muito maior muito mais apaixonante. Eu acho que teremos um excelente mandato e fico muito feliz dele ter sido presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e sei que o IPC também está muito feliz com a seleção dele.

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