Robert Scheidt repensa decisão e não descarta lutar por vaga em Tóquio
Após anunciar desistência dos Jogos de 2020 na 49er, velejador se anima com desempenho na Laser, classe que o consagrou, e reflete sobre a tentativa da sétima campanha olímpica<br>
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Maior medalhista olímpico do Brasil, ao lado de Torben Grael, com cinco pódios, Robert Scheidt abandonou a convicção de que será apenas espectador nos Jogos de Tóquio-2020. Atração da Star Sailors League Finals, em Nassau, nas Bahamas, o velejador não crava que lutará por uma vaga, mas voltou a pensar na possibilidade diante dos bons desempenhos na classe Laser.
No ano passado, o paulista de 45 anos anunciou a desistência de tentar a classificação para o evento na 49er. O desafio, em um barco rápido e novo, não deu resultados, em meio ao esforço físico elevado e às lesões. Nas palavras do velejador, foi como se um maratonista tentasse a sorte nos 100m rasos.
Na Laser, a história é diferente. Foi nela que o astro faturou os ouros em Atlanta-1996 e Atenas-2004. Hoje, o principal atleta do Brasil na classe é Bruno Fontes, de 39 anos. O paranaense conquistou a vaga na Seleção Brasileira de 2019 ao vencer Scheidt na Copa Brasil, em Florianópolis, em novembro.
Mas o bicampeão olímpico não entrou na disputa com grandes pretensões. Seu ano foi mais voltado para a classe TP 52, um barco de oceano com 52 pés (cerca de 18m) de comprimento. Para quem não priorizou a Laser na temporada, o vice-campeonato, com triunfos em regatas e atuações de nível elevado, foi motivo de celebração. Se for aos próximos Jogos de 2020, que seriam os sétimos em sua carreira, Robert tentaria uma medalha aos 47 anos.
– Ainda estou um pouco em dúvida. Vou usar o Natal e o Réveillon para refletir. Tenho dois caminhos. Um é continuar na vela oceânica e na Star. O outro é pensar em Tóquio-2020. Sei que é difícil com a minha idade. Mas tem horas que percebo que ainda dá. Tem família envolvida e eu precisaria abrir mão de muita coisa. Até fevereiro, devo tomar a decisão – afirmou Scheidt, ao LANCE!.
O velejador já venceu tudo o que podia. Além dos dois ouros olímpicos, o atleta tem no currículo uma prata (Sidney-2000) na Laser, além de outra prata e um bronze na Star (Pequim-2008 e Londres-2012). São ainda 14 títulos mundiais (11 na Laser e três na Star) e três Pan-Americanos.
Scheidt viveu frustrações, como a batida na trave nos Jogos Olímpicos do Rio, quando ficou a uma posição de ir ao pódio na Laser. Mas sabe que, se estiver entre os melhores, o desejo de representar o Brasil virá.
Na casa de Robert, o esporte dá o que falar. O filho Erik, de nove anos, veleja de Optimist, classe para iniciantes, e já começa a sentir o ambiente competitivo. Em janeiro, vai disputar o Campeonato Brasileiro, em Ilhabela (SP), com o pai na torcida. O outro é Lukas, de cinco. Ambos são fruto do casamento com a lituana Gintarė Scheidt, prata em Pequim-2008 na Laser. A família é motivo suficiente para que o atleta reflita bem antes de tomar qualquer decisão.
– Eu só farei campanha olímpica se tiver certeza de que é possível. Fazer por fazer, depois de tudo o que eu conquistei, não me traria satisfação. Vou conversar muito com família e amigos. Ouvirei as opiniões – afirmou Scheidt.
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Luca Modena, italiano que comandou a parceria entre Scheidt e Prada na conquista do bronze em Londres-2012 e em dois títulos mundiais de Star (2011 e 2012), acredita que o veterano não teria problemas para se dedicar a mais uma campanha olímpica. Ele destaca o físico privilegiado do velejador.
– Ele ainda tem totais condições de ser competitivo na Laser e brigar por outra medalha olímpica. Se o Brasil não tem ninguém melhor do que o Robert, não vejo por que ele não tentar. Fisicamente, está se cuidando. O mais importante é que ele tenha uma equipe de qualidade por trás – afirmou Luca, que trabalha atualmente com o brasileiro Jorge Zarif, atual campeão mundial de Star.
Campeão da SSL Finals em 2013, com Bruno Prada, Scheidt disputa esta edição ao lado de Henry Boening, o Maguila, com quem faturou um bronze, em 2016, e uma prata, no ano passado. A dupla encerrou a quarta-feira na vice-liderança geral e volta às águas da Baía de Montagu nesta sexta, a partir das 14h (de Brasília). O evento distribui US$ 200 mil (cerca de R$ 765 mil) ao todo.
Campanha olímpica enxuta tende a privilegiar nomes fortes
A redução de investimentos no esporte brasileiro deverá, cada vez mais, concentrar os recursos do Comitê Olímpico do Brasil (COB) voltados à preparação olímpica em atletas com maiores chances de resultado para Tóquio-2020. Na vela, não será diferente.
No ciclo passado, a Confederação Brasileira de Vela (CBVela) ainda conseguia apoiar não somente os melhores nomes ou duplas de cada classe, mas também os segundos mais bem colocados. Por isso, se Scheidt estiver bem e disposto, será difícil descartar a presença do atleta na corrida para o Japão.
– De 2016 para cá, sabíamos que o padrão de investimento não seria mantido. Será uma campanha enxuta. Faremos o que for possível com os recursos que tivermos. Vai ser difícil. Mas temos Martine/Kahena, Fernanda/Ana, o Jorginho (Zarif) e outros de uma nova geração – afirmou Scheidt.
No ciclo para a Rio-2016, o astro chegou a ter cinco patrocinadores. Hoje, são dois: Banco do Brasil e Rolex, além do suporte dado pelo COB e a CBVela.
O Brasil tem algumas apostas na Laser, mas para o futuro. Uma é Tiago Quevedo, de 18 anos, que representou o país nas duas últimas edições do Mundial da Juventude. Outra é João Pedro de Oliveira, de 24, que classificou o Brasil para os Jogos de Tóquio no último Mundial, em Aaarhus (DIN),
BATE-BOLA
Robert Scheidt
Velejador, ao LANCE!
Que balanço faz do ano de 2018? Foi como você gostaria?
Foi um ano diferente. Além de regatas de Star, competi em algumas de Laser e de TP 52, na equipe brasileira Onda. Foi um projeto muito bacana. Evoluímos como time e todos aprendemos demais. Ao final da campanha, chegamos em um nível alto. Tive novidades e aprendizados. Fiquei feliz por me manter ativo nas classes que gosto de velejar. Terminar o ano na SSL Finals é a melhor maneira, em um lugar maravilhoso, como Nassau, é gratificante.
O que acha que pode ser decisivo para você encarar a sétima campanha olímpica?
No Laser, a grande questão é ficar livre de lesões. Se eu conseguir me preparar bem fisicamente, posso ter uma chance de ser competitivo. É claro que nunca mais terei a vantagem que tinha há dez ou quinze anos atrás. Mas ainda posso brigar por bons resultados.
Se você for para Tóquio, travará uma disputa interessante com o Isaquias Queiroz, da canoagem, pois ele pode chegar a cinco medalhas olímpicas. O que acha disso?
Eu torço para que o Isaquias me alcance. Ele mostrou na Rio-2016 que é um talento excepcional. Se mantiver o que vem fazendo, trará ainda muitas alegrias ao Brasil. E quero que surjam outros nomes fora de série no esporte brasileiro. Recordes estão aí para serem quebrados.
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