Tatiana Weston-Webb: ‘Não se pode julgar pela capa. Tem de ler o livro’
Surfista, que trocou a bandeira do Havaí pela brasileira, amplia ligação com o ‘novo’ país, fala da idolatria por Silvana Lima e aposta no tri de Gabriel Medina nesta entrevista ao L!
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A classificação para os Jogos de Tóquio-2020, concretizada no mês passado, tranquilizou Tatiana Weston-Webb, maior aposta do surfe brasileiro feminino para a estreia da modalidade no programa do evento. A atleta, que “trocou” de nacionalidade no ano passado, avalia que a pressão pela vaga contribuiu para uma queda em 2019, mas aposta na retomada, enquanto desenvolve o seu português e se aproxima dos fãs no país.
Filha de uma brasileira com um inglês, Tatiana nasceu em Porto Alegre, mas foi com dois meses de vida para o Havaí, onde se desenvolveu como surfista. Hoje, quer mostrar que é brasileira.
Em entrevista ao LANCE! após uma sessão de testes físicos no Laboratório do Comitê Olímpico do Brasil (COB), ela falou sobre o desejo de fixar residência no país, da gratidão pelo apoio e da meta de se recolocar no grupo das melhores do planeta. A surfista ocupa a sétima colocação no ranking mundial. A havaiana Carissa Moore está perto do tetra.
– Minha cultura durante a vida inteira foi brasileira. É isso que as pessoas muitas vezes não entendem. Sou brasileira de verdade – disse Tatiana.
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LANCE! Desde que passou a representar o Brasil, em maio de 2018, o que mudou na sua carreira?
Tatiana: Desde o começo, quando troquei minha bandeira, só aconteceram coisas boas. Tive muito apoio. Antes, eu já havia tido ajuda no país, por causa do meu show no “Canal Off”, mas virou dez vezes maior, com a torcida junto. O apoio do COB cresceu e as pessoas que se inspiram em mim também. Quero representar o Brasil da melhor forma possível. Os homens, como Gabriel (Medina), Filipe (Toledo), Italo (Ferreira) e meu marido Jessé (Mendes) me deram muito suporte e falaram que eu poderia me tornar um ídolo no Brasil, pois não há muitas surfistas. A Silvana (Lima) sempre foi meu ídolo, desde que comecei a surfar. É uma honra competir ao lado dela e espero que nos classifiquemos juntas. Estou bem animada!
L!: O que achou do seu rendimento no Circuito Mundial este ano? O que precisa buscar para chegar forte em 2020 e como voltar a se aproximar de Carissa e cia?
T: No ano passado, fiquei em quarto no ranking. Foi minha melhor temporada. Eu estava em terceiro direto, até a última etapa. Só que, neste ano classificatório para a Olimpíada, eu senti um pouco mais a pressão. Talvez, isso não tenha sido bom. Mas acredito que posso fazer muito melhor. Uma hora, meu surfe vai encaixar. Sei que estou no nível top e posso disputar um título mundial.
L!: Você tem um fã clube no Brasil e se tornou mais conhecida aqui, mas mora no Havaí. Como está o contato com a torcida?
T: Com as redes sociais, ficou muito mais fácil ficar perto dos fãs. É muito melhor. Mas tenho compromissos no Brasil, como os testes físicos no Laboratório Olímpico, sessões de fotos e autógrafos, ações com patrocinadores. São coisas que vêm com nossa vida de surfista. Mas fora isso, gosto de vir ao Brasil passar férias. Sempre venho para cá no final dos anos e passar férias. Passo bastante tempo com minha família, no Rio Grande do Sul. Estive no Guarujá com a família do Jessé. Aproveito o máximo. Amo o Brasil. Espero comprar um terreno aqui em breve e poder me dividir entre aqui e o Havaí.
L!: Seu plano é continuar a representar o Brasil depois da Olimpíada de Tóquio-2020?
T: Sim. Na verdade, meu coração sempre foi brasileiro, mas as pessoas não sabiam disso. Não sou havaiana. Só cresci lá. Minha cultura durante a vida inteira foi brasileira. É isso que as pessoas muitas vezes não entendem. Sou brasileira de verdade. É claro que cresci em um país diferente, com outra língua, mas tem mil pessoas com esta história e isto não mostra o que eles realmente são. Não se pode julgar pela capa. É preciso ler o livro para saber.
L!: Como tem sido sua vida no Havaí? Como está seu calendário hoje?
T: Quase não tenho uma vida lá (risos). Viajo tanto e estou no mundo todo ano. Passo menos de dois meses lá e mais tempo aqui, atualmente. Não tenho uma casa de verdade. Minha base é em Kauai, no Havaí, mas isso significa basicamente que minhas roupas e pranchas estão lá. Também gosto de ir pelo fato de que há altas ondas, sobretudo no inverno. Então, é um lugar muito bom para treinar.
L!: A disputa dos brasileiros pelo título mundial e pelas vagas olímpicas no masculino promete. Gabriel pode ser tri. Em quem você apostaria?
T: Se eu colocasse dinheiro, seria no Gabriel, por causa da história dele em Pipeline. Ele é incomparável ao resto lá. Mas será uma disputa muito boa para o Filipe e para Italo. Qualquer um que for para os Jogos de Tóquio representará bem o país.
L!: Como avalia as mudanças recentes no Circuito feminino? A premiação das mulheres foi equiparada à dos homens. Vocês estão mais valorizadas?
T: No ano passado, anunciaram que o pagamento em prêmios seria igual ao dos homens. Isso já fez muita diferença, especialmente para surfistas mulheres que não têm muitos patrocínios. Elas podem ter uma vida confortável correndo o Circuito. O surfe feminino está em um caminho muito certinho. Está tudo mudando para um lado melhor e estamos surfando em um nível mais elevado, o que vai ter consequências positivas no futuro. Estamos mostrando às novas gerações que é uma vida possível e boa. Podemos correr atrás e fazer nossos sonhos se tornarem realidade. Antes, não era possível.
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