Título de Schumacher em final polêmica: como foi a temporada 1994 da F1 além de Senna
Ano foi marcado por mortes de pilotos e outros acidentes
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A temporada 1994 da F1 é inesquecível na história da categoria. Poderia ser pelo fato de que Michael Schumacher, para muitos o maior piloto de todos os tempos, venceu seu primeiro campeonato, mas aquele ano ficou mesmo marcado pelos acidentes fatais de Ayrton Senna e Roland Ratzenberger. No mesmo fim de semana, naquele trágico GP de San Marino, em Ímola. Mas afinal, o que houve em 1994 além das tragédias de Ímola?
Como vamos buscar recontar a história daquele campeonato, passando especialmente pelos resultados, não há como deixar de lado a parte técnica do negócio. O fato é que a F1 se achou invencível e colocou todo mundo em risco, dos pilotos aos espectadores. O motivo? A morte de Elio de Angelis, última da categoria, durante um teste na França, já completava 8 anos, o que para a época parecia uma boa marca. Não era. Em corrida, eram 12 anos, desde que Riccardo Paletti havia perdido a vida no GP do Canadá de 1982.
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Os carros rapidíssimos, cada vez mais arrojados, aquela estética meio assustadora dos pilotos tão expostos dentro dos cockpits. Isso tudo veio acompanhado de mudanças para aquela temporada: para deixar o trabalho do piloto “mais importante que o do carro”, vários itens foram removidos, como o controle de tração e a suspensão ativa. Temia-se que o número de acidentes pudesse crescer, mas o que se viu foi um cenário absolutamente trágico, muito pior do que a encomenda.
A história da temporada toda passa pelos acidentes que, em geral, deixaram marcas importantes. Logo na pré-temporada, por exemplo, JJ Lehto machucou o pescoço e perdeu as duas primeiras etapas. Na sequência, foi a vez de Jean Alesi lesionar as costas em teste privado e também perder duas corridas.
Durante aquele ano, além das mortes de Ratzenberger e Senna, a F1 ainda viu outros lances bastante perigosos, com destaque para os acidentes de Rubens Barrichello e de Lehto e Pedro Lamy naquele mesmo fim de semana do GP de San Marino e, claro, para o momento assustador com Karl Wendlinger, em Mônaco.
No primeiro treino livre nas ruas de Monte Carlo, o austríaco da Sauber perdeu o controle na saída do túnel e deu uma senhora pancada. A barreira de proteção não funcionou de forma adequada e o amortecimento não aconteceu, o impacto só foi maior. Resultado: Wendlinger ficou semanas em coma e só foi voltar a correr em 1995. E poderia ter sido pior.
Falando em performance, a Williams era franca favorita ao título. Se poderia sofrer um pouco com os efeitos das mudanças no regulamento, era a então bicampeã de pilotos e construtores e tinha a chegada de Senna como reforço. Parecia bola de segurança apostar no tetra do brasileiro em 1994.
Só que as pistas apontaram para outro caminho pelas circunstâncias que o campeonato passou. A Williams garantiu, sim, o tri do Mundial de Construtores e aparentou ter o melhor carro em vários momentos, mas o título do Mundial de Pilotos foi parar na Benetton, com o jovem Schumacher.
Ao todo foram 16 etapas disputadas, com a abertura realizada em Interlagos, em dia de grande decepção para o público brasileiro. Senna cravou a pole, mas rodou enquanto perseguia Schumacher na reta final da corrida. Vitória do alemão, com Damon Hill na segunda posição. Um resultado que seria muito mais importante para o campeonato do que pareceu na época. Muito porque Michael se envolveu em uma série de confusões.
O alemão venceu também o GP do Pacífico, o trágico GP de San Marino e o quase-trágico GP de Mônaco, antes de mudanças importantes técnicas visando a segurança entrarem em vigor na Espanha, como alterações nos tamanhos de asas e difusores. No Pacífico e em Ímola, Senna foi pole de novo, mas rodou na pista japonesa e sofreu o acidente mais famoso da história da F1 em San Marino. Mesmo com três poles, o brasileiro acabou zerado naquela temporada.
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Enquanto Nigel Mansell e David Coulthard acabaram se revezando no carro que era de Senna, sobrou para Hill a missão de carregar a Williams em busca do título. Quase rolou. No começo de temporada, porém, o inglês sofreu: além do segundo lugar no Brasil, só pontuou em sexto em Ímola nas primeiras quatro provas.
O duelo propriamente dito entre Schumacher e Hill pelo título começou no GP da Espanha, a quinta etapa do campeonato. Em Barcelona, o alemão apresentou problemas no câmbio e não conseguiu segurar as investidas do inglês da Williams, que venceu. Michael ainda foi segundo e tinha uma vantagem absurda de 29 pontos. Na época, eram praticamente três corridas de frente.
No Canadá e na França, novas vitórias de Schumacher, que deixava Magny-Cours 37 pontos na frente de Hill, segundo colocado em ambas as provas. O problema começou depois daquilo, na metade do campeonato, na corrida de casa de Damon. E foi um senhor problema.
Michael passou Damon na volta de apresentação em Silverstone e levou um stop-and-go de 5s voltas mais tarde. Só que a Benetton, na figura de Flavio Briatore, recusou-se a ser punida e mandou o alemão ficar na pista enquanto tentava negociar com os comissários. Não deu certo e os 5s viraram desclassificação pelo não-cumprimento e mais duas corridas de banimento por Michael ter levado o carro até o fim mesmo desclassificado. Caos instaurado, ainda mais com vitória de Hill ali.
A Benetton conseguiu uma espécie de efeito-suspensivo e garantiu a presença de Schumacher na Alemanha, na Hungria e na Bélgica, mas só em Budapeste isso teve resultado: Michael venceu por lá, com Hill em segundo. Em Hockenheim, porém, praticamente uma etapa de descarte: quem venceu foi Gerhard Berger, com uma claudicante Ferrari, com Hill em oitavo após acidente com Ukyo Katayama e Schumacher abandonando com problemas no motor.
Aí veio o GP da Bélgica e o que estava ficando ruim para Schumacher poderia piorar. E muito. O alemão apresentou desgaste excessivo no assoalho e passou de vencedor a desclassificado, de novo. Hill ficou com o triunfo e, ainda, Michael teve revogado o efeito-suspensivo, ou seja, perderia as corridas na Itália e em Portugal.
O campeonato que já parecia vencido por Michael passou a ficar encaminhado e, então, nem isso mais, depois de Hill vencer as duas provas em que o alemão esteve ausente. A tabela já apontava 76 x 75 a favor de Michael, com três etapas pela frente. O conflito estava armado de vez.
Em Jerez, no GP da Europa, Schumacher venceu, com Hill em segundo. Era um respiro em meio a tanto caos, enfim. No Japão, porém, o troco veio, em uma corrida separada em duas partes, com uma tormenta que se abalava sobre Suzuka, Damon brilhou em uma das grandes atuações da carreira, justamente quando Michael dava declarações diminuindo o potencial do rival.
A F1, então, partiu para a final da temporada 1994 nas ruas de Adelaide, com Schumacher 1 ponto na frente de Hill. E a decisão acontecia em meio a um festival de denúncias entre as equipes, especialmente Williams e Benetton: uma teria câmbio automático, a outra, direção assistida, a outra, controle de tração, enfim, tudo que era proibido naquela temporada. Ninguém foi punido.
No fim de semana da decisão, Schumacher chegou a dar uma tremenda pancada, mas ainda se garantiu em segundo no grid, atrás do surpreendente Mansell, companheiro de Hill, que saiu em terceiro, 0s6 mais lento que os pilotos da primeira fila daquela corrida.
Na corrida, Mansell simplesmente saiu da frente e deixou os dois brigarem, enquanto Michael sofreu com uma Benetton que não parava quieta no traçado. Na volta 35, ainda na liderança, mas sempre seguido de muito perto por Hill, Schumacher perdeu o carro de vez e deu no muro, voltando cambaleante para a pista. Damon mergulhou, mas o alemão fechou a porta e os dois se acertaram. Schumacher saiu voando e foi ao muro, enquanto Hill, que parecia ter levado vantagem do incidente, teve dano terminal na suspensão e recolheu na sequência. Mansell venceu.
Michael, assim, sagrou-se campeão com 1 pontinho de vantagem e se retratou com o rival na coletiva do título, elogiando a pilotagem de Damon. O que hoje é tratado como um dos acidentes mais polêmicos da história da F1, na época não deu tanto pano para manga assim. Quer dizer, a imprensa britânica sempre jurou que Michael bateu de propósito, mas Hill e Williams aceitaram o resultado em um primeiro momento, tanto que nem com recurso entraram. Anos mais tarde, porém, Damon já deu a entender algumas vezes que Schumacher pode, sim, ter feito tudo de caso pensado. Foi o primeiro ano de uma rivalidade bastante subestimada da categoria.
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