Modalidade abalada pelos problemas administrativos de sua confederação nos últimos anos, o basquete busca respirar mais forte a cada dia. O esforço é ainda maior no naipe feminino. Mas o atual vice-campeão da Liga de Basquete Feminino (LBF), Uninassau (PE), se apega ao otimismo.
Nas últimas três edições do torneio nacional, a equipe bateu duas vezes na trave (2014/2015, com o nome América, e 2016/2017) e conseguiu um bronze (2015/2016). A próxima temporada está prevista para começar em janeiro, e a base do elenco que tentará a taça inédita aproveita a disputa os Jogos Universitários Brasileiros (JUBs), em Goiânia, como preparação para o principal objetivo.
- Temos uma estrutura de treinamento e academia que nem a Seleção Brasileira tem. O (Rubén) Magnano (ex-treinador do Brasil no masculino) foi nos visitar no ano passado e me disse que ficou encantado com o que viu. Nossa preparação física é de altíssimo nível - disse o técnico Roberto Dornelas, ao LANCE!.
Com a crise, o Uninassau enfrentou corte de verbas e dificuldade para obter patrocínio. As despesas para pagar salários e manter o grupo hoje são de R$ 70 mil por mês, mas os valores já estiveram na casa de R$ 160 mil. As passagens aéreas são bancadas pela universidade. Outras parcerias ajudam, como o Sesc, que oferece academia, e o governo de Pernambuco.
Se já é difícil obter apoio para esportes em alta, o quadro se agrava quando se trata de uma modalidade que, por anos, foi sucateada. A promessa da nova diretoria da Confederação Brasileira de Basquete (CBB) é de mudar o quadro, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido.
Diferentemente do naipe masculino, as mulheres não contam com uma Liga de Desenvolvimento, o que afasta grande número de atletas do alto nível. É nos pequenos detalhes que a comissão técnica e jogadoras tentam mostrar a cara.
- Estamos motivadas. Se o campeonato nacional não tiver visibilidade, não teremos reconhecimento. O número de equipes este ano vai aumentar, e será positivo para o basquete - afirmou a ala-armadora Carol, de 23 anos.
Atleta com experiência olímpica lidera
O Uninassau tem como destaque a ala-armadora Tássia Carcavalli, que disputou a Olimpíada de Londres (ING), em 2012, quando a Seleção Brasileira terminou em nono lugar. Ao lado da pivô Gil Justino, ela é a voz da experiência em quadra.
Tássia, de 25 anos e estudante de Educação Física, viveu de perto algumas das fases mais críticas da Seleção. Em agosto, amargou um feito histórico. A equipe verde a amarela perdeu a disputa do bronze na Copa América, em Buenos Aires (ARG), e ficou dora do Mundial pela primeira vez desde 1959. Mas tenta usar a experiência a favor do elenco.
- As meninas me perguntam muito, e eu tento passar minha experiência e algumas dicas do que já passei na carreira. Acredito que isto irá acrescentar. É um time muito novo, o que é bom. Elas têm gás e vontade. Estou muito feliz de poder ajudá-las - disse Tássia, ao L!.
Outro destaque não está no JUBs, mas deve se integrar ao elenco na próxima semana: a armadora cubana Ineides Casanova, líder em assistências na edição passada da LBF, que ainda resolve problemas com o visto para retornar ao Brasil.
Time atropela na estreia
O Uninassau (PE) estreou com um passeio nos JUBs, na terça-feira. A equipe do técnico Roberto Dornelas, que é a atual campeã, passou por cima da Maurício de Nassau (AL), por 103 a 30, em uma partida que serviu para o comandante.
- Determinamos alguns objetivos defensivos durante o jogo, que não é a pontuação. Na primeira partida, não focamos em chegar aos 100 pontos, mas em trabalhar situações de jogo - afirmou Dornelas.
A equipe é cotada para chegar novamente ao topo do pódio, ao lado da Unip (SP), que ontem passou pela FMN (RN), por 73 a 17.
BATE-BOLA
Tássia Carcavalli, ala-armadora, ao LANCE!
Qual a sua perspectiva em relação à Seleção Brasileira após os maus resultados este ano?
O basquete brasileiro não está em uma situação bacana há alguns anos, mas temos de acreditar em uma melhora. Falta investimento na base. Se começar a resolver o problema lá embaixo, melhora em cima. Espero estar nas próximas convocações.
A LBF teve apenas seis times na última edição. Agora, pode ter dez. É um alívio?
Rezo para que tenha dez times, pois com seis tínhamos de jogar duas vezes seguidas. Poderia ter mais times, mais estados. Era cansativo, porque disputávamos dois jogos contra a mesma equipe e parávamos. Desgastava as atletas, e chegamos no final da temporada com algumas lesões. Queremos um campeonato normal.
A que se deve o desempenho ruim da Seleção este ano na Copa América, que ficou fora do Mundial pela primeira vez desde 1959?
A culpa é um pouco da diretoria anterior. Nosso basquete está muito desvalorizado, e isso desanima. É claro que nós, atletas, temos nossa parcela também, pois somos nós que entramos em quadra. Não foi como queríamos, mas não tem o que fazer. É lutar para conseguir voltar.
COM A PALAVRA
Roberto Dornelas, técnico do Uninassau
'Falta de apoio é entrave para novos times'
Nós vivemos de patrocínio, e com a crise as empresas se retraíram. No Brasil, em vez de incentivarmos as empresas virem, o estado dificulta. Vemos notícia de corte de verba para o esporte, e acabamos de fazer uma Olimpíada. Isso desestimula. No basquete, já é difícil. No feminino, mais ainda. O custo para nós é muito alto. Passagem aérea é um absurdo. Faltam parcerias com hotéis e empresas aéreas, por exemplo. É isso o que inviabiliza a chegada de nossas equipes, por interesse em participar existe.
A quantidade de jogadoras é muito menor. Você tem 200 atletas de nível alto no masculino. No feminino, são 20. A desproporção é grande. No NBB, os finalistas foram inesperados, com trabalhos muito bem feitos. No feminino, o pessoal me pergunta da final antes mesmo de o campeonato começar.