Como a base do Palmeiras se transformou em carro chefe da renovação do clube
Antes criticado por torcedores, o departamento de formação de atletas do clube hoje é referência dentro do Brasil<br>
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Desde 2015, quando firmou parceria com a Crefisa, empresa presidida por Leila Pereira, o Palmeiras assumiu uma posição agressiva no mercado. Com finanças em dia, valores impulsionados pela bilheteria e programa de sócio-torcedor, o clube passou a ser protagonista no cenário brasileiro novamente e não media esforços para anunciar contratações milionárias e badaladas.
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Entretanto, com gastos acima da média e muitas vezes sem os retornos técnico e financeiro desejados, a temporada 2020 marcou uma virada de página na história do Verdão. Desde janeiro de 2020, a utilização das categorias de base passou a ser algo indispensável e motor do elenco que levantou a Tríplice Coroa após 27 anos, repetindo os feitos de Evair, Edmundo, Cesar Sampaio e companhia.
Antes criticado pela falta de oportunidades aos jogadores no time principal, além de saídas precoces a baratas, o centro de formação das categorias de base do Palmeiras, hoje, é referência dentro do Brasil e peça-chave para que os jovens subam ao profissional prontos para atuar, e já preparados para as pressões e cobranças de um clube grande.
Além de todo o protagonismo, a temporada também instituiu recordes históricos. Ao todo, 31 atletas com passagens pelas canteiras da Academia foram convocados por Vanderlei Luxemburgo ou Abel Ferreira para preencherem o elenco nas partidas, maior número em um só ano. Além disso, um total de 13 jogadores realizaram suas estreias profissionais na temporada, maior marca registrada no Palmeiras desde que essa contagem é feita.
A crescente utilização e as boas marcas também se estendem para o início da temporada 2021. No Campeonato Paulista, o Verdão bateu o recorde de Crias relacionadas para um mesmo duelo. Foram 19 jogadores formados na base no confronto diante do São Bento. Já na lista de inscritos para a disputa da Recopa Sul-Americana, 31 dos 50 jogadores têm passagens no Centro de Formação, totalizando 62% da lista, recorde da história do clube.
No entanto, até mesmo antes da milionária patrocinadora estampar as camisas do clube, o Palmeiras nunca em sua centenária história havia dado a real importância às categorias de base. Utilizando jovens crias do clube apenas em momentos de crise, a falta de estrutura era o grande entrave para o sucesso.
Desde a década de 1960, quando as categorias de base substituíam e ocupavam o lugar da categoria dos aspirantes, as diretorias nunca investiram ou buscaram ajuda financeira na formação de atletas e, nos momentos de sucesso, optavam por gastarem em contratações – como na Era Parmalat – ou pela captação de bons atletas fora dos grandes centros, modo através do qual a Segunda Academia foi formada.
Já nos momentos de crise, como na década de 1980 e nos anos 2000, o clube lançava jovens, mas não tinha o planejamento e estrutura suficientes para que os resultados fossem obtidos. Recorde de utilização de base pré 2020, a temporada 2011 contou com 12 estreias de jovens no elenco profissional, mas terminou sem grandes resultados ou revelações.
Foi apenas em 2013, ano no qual o presidente em exercício, Paulo Nobre, mudou a filosofia do clube em relação às categorias de base. Desde então, a prioridade do Palmeiras foi a profissionalização, contratando gente para geri-las da mesma forma como acontece com o futebol profissional. Além disso, foi adotada a unificação das áreas física, técnica, tecnológica e o intercâmbio entre jovens e profissionais, visando a ambientação dos jogadores no elenco principal.
– O ponto essencial deste novo momento do Palmeiras é uma ligação entre a categoria de base e o futebol profissional. Quem via de fora, via uma distância muito grande entre ambos. Primeiro, pela questão logística. O elenco profissional treina aqui (na Academia de Futebol) e a base em Guarulhos. Às vezes, o profissional nem vê os atletas da base. Vamos alimentá-lo com atletas que tenham condições de integrá-lo – disse Erasmo Damiani, coordenador das categorias de base em 2013.
Em 2015, João Paulo Sampaio chegou ao Palmeiras para substituir Erasmo Damiani, que comandou a reformulação do departamento, e, graças ao seu bom desempenho, recebeu um convite da CBF para chefiar as categorias de base da Seleção Brasileira.
Com a chegada de Sampaio, o núcleo de captação de talentos foi totalmente reformulado, aumentando o número de olheiros de dois para sete, sendo cada um com sua determinada região definida, seja dentro ou até mesmo fora do Brasil. Com a rede de observação sólida, o clube passou a conseguir acompanhar o desempenho de milhares de crianças e jovens em torneios, escolinhas, projetos sociais e comunidades.
Atualmente com mais de 200 atletas em suas categorias inferiores, muitos destes chegaram ao Verdão por meio da captação e se tornaram peça chave no elenco profissional. Patrick de Paula, autor do gol que deu o título Paulista em 2020, foi observado na Taça das Favelas, no Rio de Janeiro. Já Danilo, titular na final da Libertadores, havia sido descartado pelo Bahia e se destacou pelo Cajazeiras, do mesmo estado, antes de brilhar no Verdão.
Além do Brasil, o Palmeiras iniciou em 2019 o projeto de Caras Nuevas, buscando promessas de outros países. Nos últimos dois anos, mais de 15 estrangeiros aturam pela equipe, sendo seis nacionalidades diferentes, incluindo Panamá e Angola.
– O título nas categorias de base é consequência do bom trabalho, mas não podemos abrir mão da formação. O que marca são as revelações, e não os títulos conquistados na base. Poucos se lembram dos últimos clubes campeões dos torneios de base, mas quase todos os torcedores sabem de cor os atletas que foram formados no clube. É importante para os jogadores gostarem e se acostumarem a serem campões, mas nosso foco é na formação – disse Sampaio, em sua apresentação.
Definindo bem as etapas de reformulação até chegar à Glória Eterna utilizando a base, o clube sempre viu a necessidade de investir não apenas nas categorias maiores, mas também desde o infanto-juvenil. Aplicando dinheiro nas categorias sub-11 e sub-13, desde 2019 a equipe possui jogadores no sub-20 que foram formados inteiramente dentro do clube. São os casos de Gustavo Garcia, Renan e Fabinho, peças que estão sendo utilizadas no profissional em 2021 e conhecem o ambiente do clube desde crianças.
Coroando o projeto, em 2018, a categoria sub-20 sagrou-se campeã do Campeonato Brasileiro e Copa RS, importantes torneios de base a nível nacional. Se antes o clube aplicava dinheiro em categorias menores, desde então, aquele investimento aplicado no passado já começava a dar frutos na última categoria antes do profissional, fechando um ciclo de cinco anos.
O bom trabalho não passou despercebido pela Seleção Brasileira, fazendo com que o Palmeiras fosse recordista de convocações de base nas temporadas de 2017 e 2018. Time base do Brasil no Sul-Americano Sub-20, em 2018, eram seis convocados do Verdão, além de Gabriel Jesus ser o titular na Seleção Principal na Copa do Mundo do mesmo ano.
Já consolidado no cenário da base brasileira na temporada de 2019, no último ano completo antes da pandemia, o Palmeiras estabeleceu um novo recorde. Ao todo, foram 35 títulos entre as categorias sub-11 ao sub-20, superando as 23 conquistas – antigo recorde – de 2018.
Já consolidado no cenário da base brasileira na temporada de 2019, no último ano completo antes da pandemia, o Palmeiras estabeleceu um novo recorde. Ao todo, foram 35 títulos entre as categorias sub-11 ao sub-20, superando as 23 conquistas – antigo recorde – de 2018.
Apesar do recorde batido, a filosofia da direção da base do Palmeiras não tem os títulos como prioridade. O clube diz que nunca entra com obrigação de ser campeão:
– Nunca vamos para um torneio pensando em ganhar a qualquer custo, fugindo de nossas características. A cada ano, nossos resultados aumentam devido à qualidade e a competitividade dos meninos que temos aqui – afirmou João Paulo Sampaio, coordenador geral das categorias de base, em 2019.
Para isso, existe uma linha de trabalho entre os treinadores do clube. Com dez treinadores, além de comissões técnicas e parte administrativa no Centro de Formação, todas as categorias seguem o mesmo padrão: times ofensivos, com transição rápida, amplitude e também profundidade com os pontas. Tendo como base a polivalência, todos os atletas atuam em mais do que uma posição e têm liberdade dentro de campo, não sendo incomum ver volantes chegando à área e troca de posições entre dois jogadores.
A versatilidade deixa os jogadores mais completos e aumenta as alternativas do treinador sem precisar de reforços. Gabriel Menino, volante de origem, foi convocado por Tite na lateral direita, após bons jogos pela posição na equipe profissional do Palmeiras. Assim como Menino, Patrick de Paula e Danilo também foram incentivados a executar diferentes funções. Os dois chegaram como meias ofensivos e tornaram-se volantes. Patrick ainda chegou a atuar como zagueiro em 2019, sendo vice campeão do Brasileirão Sub-20 na posição.
Dando inúmeras opções para Abel Ferreira, as Crias da Academia e o treinador devem dar continuidade ao processo ao longo da temporada 2021, aproveitando a estrutura oferecida pelo Palmeiras em seu Centro de Excelência, além da qualidade técnica e polivalência que os jogadores jovens possuem e podem entregar dentro de campo.
Já visando a primeira glória da temporada, a equipe entra em campo diante do Defensa y Justicia na próxima quarta-feira (07), pelo jogo de ida da Recopa Sul-Americana. Em caso de títulos da Recopa e também da Supercopa do Brasil – a ser disputada contra o Flamengo no domingo (11) – os jovens podem alcançar a expressiva marca de cinco taças em um período de oito meses.
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