Hoje no Atlético-MG, Alexandre Mattos participou de uma transmissão ao vivo no canal do novo clube e, ao falar de estratégia de um dirigente para ser campeão, lembrou do título da Copa do Brasil de 2015. O então diretor de futebol do Palmeiras diz que foi fundamental na ideia de colocar as finais mais para o final de temporada e, também, ao reunir os jogadores, sem avisar o técnico Marcelo Oliveira, para tomar cerveja em concentração.
O primeiro passo citado por Mattos envolveu Paulo Nobre, que era o presidente do Verdão na época. Para conquistar seu primeiro título no clube (ainda seria campeão brasileiro em 2016 e 2018 até ser demitido em dezembro de 2019), Mattos, que tinha começado seu trabalho em janeiro de 2015, aproveitou uma reunião para convencer o Santos a adiar as finais.
- Tivemos uma reunião na Federação Paulista e surgiu uma ideia vital para nós: modificar o segundo jogo da final. Falei para o Paulo Nobre vender ao presidente do Santos a ideia de ser o último jogo do ano, para ser o encerramento do futebol no Brasil. O presidente do Santos topou. Foi fundamental, porque precisávamos recuperar alguns jogadores - falou Mattos.
- O momento do Santos era espetacular, voando, e o Palmeiras ainda oscilava, pela quantidade de jogadores contratados. Era a oportunidade que a gente tinha. No futebol, muda muito rápido: o time que está na alta, uma ou duas semanas depois, pode não estar igual. E era a possibilidade de tentar encarar o Santos, além de camisa, jogo em casa, primeira final na arena nova, e esse envolvimento todo que o torcedor fez e foi fundamental – prosseguiu.
Em 25 de novembro de 2015, o Palmeiras perdeu a ida da final da Copa do Brasil, por 1 a 0, na Vila Belmiro, em jogo no qual Gabigol perdeu pênalti e o atacante Nilson conseguiu falhar com o gol vazio à frente. A decisão, no Allianz Parque, ocorreu uma semana depois, com vitória alviverde por 2 a 1, seguida de triunfo nos pênaltis. E Mattos enaltece o que fez na concentração.
- O Santos perdeu muito gol, perdeu pênalti, bola na trave, e foi só 1 a 0. Levantamos a mão para o céu. Faltando uma semana, fomos para Atibaia. No domingo, para desconcentrar, levamos as famílias dos jogadores para almoçar. Nesse mesmo dia, queria ter uma coisa diferente e contratei o Sergio Mallandro para uma palestra. Os críticos pegaram pesado, mas ele não ia definir time e estratégia, mas ia tirar um pouco da tensão de todos. E foi uma palestra muito engraçada, interagiu com as famílias - relembrou o dirigente.
– Quando acabou a palestra, o hotel tinha uma área comum, e senti que precisava fazer uma coisa descontraída com os jogadores. Trouxeram petiscos, cervejinha e tudo. Não era muito indicado, a três dias do jogo, mas era preciso criar intimidade, porque a possibilidade aumenta quando um se doa pelo outro - afirmou, dizendo até que enganou os jogadores para atrai-los.
- Entrei no grupo dos jogadores e falei "Reunião com o Mattos aqui embaixo. Assunto: prêmio". Aí cresceu o olho, mas não falei nada de prêmio. Eles desceram e começamos a criar intimidade. Eu dava uma cutucada, que estavam falando que o Santos já era campeão. Com a cervejinha rolando, quando saiu a situação do normal, eles se uniram e fizemos um vídeo com todos abraçados, falando que iríamos ganhar – afirmou.
- O Marcelo Oliveira chegou para o jantar, às 20h, e o segurança veio falar para mim que ele estava sozinho. Falei que estava resolvendo o bicho com os jogadores e estava tudo certo - gargalhou Mattos, assegurando que, com a intimidade que criou, o time foi capaz de ser campeão da Copa do Brasil.
– O Santos podia jogar 80 jogos contra nós, ganharíamos todos. Emocionalmente, foi criado um ambiente interno extremamente forte, não tinha como não ganhar. Fomos muito melhores no jogo, merecíamos ter ganhado, não precisava ir para os pênaltis, mas, nos pênaltis, conseguimos aquela vitória memorável, até por ser o primeiro título do Palmeiras dentro da sua nova casa - apontou.