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Luiz Gomes: ‘A obrigação de vencer do Palmeiras termina hoje’

'Pragmaticamente, a obrigação de vencer do Palestra termina no duelo com os mexicanos'

Palmeiras treino qatar
imagem cameraPalmeiras enfrenta o Tigres neste domingo pelo Mundial de Clubes (Foto: Cesar Greco/Palmeiras)
Dia 06/02/2021
21:32
Atualizado em 07/02/2021
07:00

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Fazendo uma análise descontextualizada das estatísticas em torno dos campeões mundiais de clubes reconhecidos pela Fifa, desde 1960, os resultados não parecem assim tão díspares: são 33 conquistas de times europeus e 26 de sul-americanos. Mas, quando se desce mais a fundo nos números, uma realidade cruel salta aos olhos: nos últimos 10 anos, a supremacia europeia se acentuou de forma avassaladora – apenas o Corinthians, em 2012, conseguiu quebrar o domínio dos clubes do lado de lá do Oceano Atlântico.

Não é apenas a diferença de títulos que impressiona, mas a forma como boa parte deles foi conquistada, com um domínio total dos europeus dentro do campo, expresso por goleadas como os 4 a 0 do Barcelona sobre o Santos de Neymar em 2011 ou os 3 a 0 do Barcelona sobre o River em 2015. Nas temporadas de 2018, 2016, 2013 e 2010, os sul-americanos sequer chegaram à final, eliminados por clubes da África e da Ásia, na fórmula atual de disputa.

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É a constatação de que o abismo que separa o futebol de cá do de lá não para de aumentar. Um cenário que começou a se desenhar ainda nos anos 90 quando entrou em vigor a chamada lei Bosman. Naquela época, o mundo estava em transformação, o globalismo dava os primeiros passos e a Europa se reintegrava após o esfacelamento da URSS e da Cortina de Ferro. Mesmo assim, o futebol ainda resistia em abrir-se à nova realidade. Até que, em 1995, um mediano meio-campista belga chamado Jean-Marc Bosman decidiu desafiar os caciques da Uefa dando início a uma longa e dolorosa batalha judicial em defesa de seu direito de jogar onde quisesse.

Bosman, que entrou para a história muito mais pela luta nos tribunais do que pelo talento com a bola, recorreu à Justiça para que, ao final dos contratos, jogadores estivessem liberados para assinar com outros clubes, o que foi na prática o fim da lei do passe. Mais do que isso, sua vitória na Justiça permitiu que, a exemplo do que já ocorria com profissionais de outras áreas, atletas nascidos nos países da União Europeia pudessem atuar livremente em qualquer país do bloco.

A partir daí os limites estabelecidos pela Uefa e as ligas nacionais para a contratação de estrangeiros deixaram de englobar os jogadores comunitários. E os grandes clubes europeus passaram a preencher suas cotas buscando a baciadas os grandes nomes do futebol sul-americano, asiático e africano, tornando irreversível esse fluxo e consolidando sua superioridade.

Hoje, um bicampeonato consecutivo como o do São Paulo em 1992 e 1993, times como os argentinos Vélez Sarsfield, Estudientes, Racing ou até o Independiente, o Olimpia do Paraguai e mesmo os uruguaios Peñarol e Nacional, em permanente crise financeira e instabilidade política interna, chegarem ao topo do mundo é muitíssimo próxima de zero.

Há questões estruturais indiscutíveis para o desnível - as diferenças econômicas entre os países da zona do Euro e os do Mercosul, é apenas a mais óbvia delas. Mas o modelo amador de gestão que vigora no futebol brasileiro, argentino e do resto do continente, as administrações no mínimo temerárias das confederações e principalmente dos clubes nos últimos tempos, são certamente outros elementos de contribuição para agravar essa realidade.

O Palmeiras, assim como aconteceu com o Flamengo no ano passado e o Grêmio em 2018, começa neste domingo a travar a difícil batalha de Davi contra Golias. Ter a cabeça no Tigres é o primeiro passo. Não foram poucos, como o Atlético-MG de Ronaldinho Gaúcho ou o Internacional, que ficaram pelo caminho, abatidos pela soberba e pela própria armadilha de focar apenas nos gigantes europeus.

Pragmaticamente, a obrigação de vencer do Palestra termina no duelo com os mexicanos. Daí para frente o que vier é lucro. Repetir contra o Bayern – se for mesmo o Bayern, é claro - um jogo de igual para igual, como o Flamengo de Jorge Jesus fez contra o Liverpool, já será um resultado digno do reconhecimento do torcedor. E para fazer história.

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