Luxa cita lembranças, mas foca em futuro de sucesso em volta ao Verdão

Vanderlei Luxemburgo foi apresentado pelo Palmeiras nesta sexta-feira e recebeu a camisa 5 das mãos do presidente Maurício Galiotte. Esta será a quinta passagem do técnico de 67 anos de idade pelo clube - 1993/1994, 1996, 2002, 2008/2009, além desta. Ele assinou por duas temporadas.

- É muito bom estar de volta ao Palmeiras, onde tive conquistas importantes. Essas conquistas foram importantes, mas mais ainda é o que vem pela frente. A nossa proposta é o que vamos fazer daqui para a frente, com novas conquistas para o Palmeiras, que é o principal. Passado é passado, presente é presente, e futuro é futuro. Vamos começar os trabalhos dia 6 em busca de novas conquistas - avisou.

- Quem tem capacidade não é desafiado para nada, e dentro da grandeza do Palmeiras, da história que eu conheço do clube, o Palmeiras está me ofertando a oportunidade de fazer um grande trabalho. Vou agarrar como sempre agarrei - afirmou Luxemburgo.

- É um momento que emociona, que traz muitas coisas na cabeça, mas de muita responsabilidade. Estamos preparados para um grande trabalho. Cada treinador tem uma forma de agir, eu tenho uma maneira em que dentro daquilo que eu vou fazer vai ser uma coisa que o Palmeiras não foge ao futebol. São ciclos. O Palmeiras está totalmente estruturado, mesmo sem ganhar títulos neste ano. O passado recente é de dois títulos brasileiros e uma Copa do Brasil. Estas coisas não podem ser esquecidas. Não ganhar este ano não significa que ano que vem não possa ganhar - acrescentou.

Luxemburgo é o terceiro que mais vezes treinou o Palmeiras (373 jogos), atrás de Oswaldo Brandão (585) e Luiz Felipe Scolari (485). Foram sete títulos, sendo quatro Paulistas, dois Brasileiros e um Rio-São Paulo. O último estadual conquistado pelo Verdão, em 2008, foi com Luxa à beira do gramado.

A escolha pelo ex-comandante do Vasco se deu após a negociação com Jorge Sampaoli dar errado. Ele cuidará da reformulação do elenco, com a promoção de atletas da base e reforços pontuais.

Confira abaixo a íntegra da entrevista coletiva de Vanderlei Luxemburgo:

VOLTA AO PALMEIRAS
É um prazer muito grande estar de volta a São Paulo e no Palmeiras, onde tem história e conquistas importantes. Mas foram importantes para estar na história do clube e no meu currículo, mas o que ficou, ficou. São coisas boas guardadas. Mas a proposta é o que vamos fazer daqui para frente, com novas conquistas. Esse é o objetivo principal. Passado é passado. O presente e o futuro é que começamos o trabalho no dia 6 já preparando equipe para importantes conquistas.

EMOCIONADO?
Chegar aqui hoje para dar entrevista, com tudo que me carrega no clube, ver minha filha e minhas netas também. Minhas filhas ficavam comigo em 1993 e minhas netas ficavam em 2008 no meu colo. Voltar é legal. Você vai ter uma coisa especial. Gostoso viver este momento de novo. Nossa expectativa não é de desafio, porque essa palavra propõe que você não consegue fazer. Quem tem capacidade não é desafiado para nada. Dentro do que  conheço no clube, o Palmeiras me possibilita fazer um grande trabalho, não um desafio. O Palmeiras me oferece oportunidade, que me oferta de novo, e vou agarrar como sempre, lembrando de 1993, quando era muito jovem, e fiz um grande trabalho, depois veio 2008. É um momento muito importante para a possibilidade de voltar ao Palmeiras, diferente, com estrutura fantástica, como poucos no Brasil e na Europa. É um momento nobre, em tanto tempo no futebol, vivi diferentes etapas, e não estar afastado do momento em que modernidade chegou, no Palmeiras, uma das melhores estruturas do Brasil e do mundo. É um momento que emociona, traz mutia coisa à cabeça, mas, também, muita responsabilidade para saber o que tem de fazer. Estamos preparados para fazer um grande trabalho.

MANO PROPUNHA REDUÇÃO DE ELENCO
Não cito o que outros falaram porque cada treinador tem uma maneira. Tenho a minha. O Palmeiras não foge ao futebol. São ciclos, perde, ganha. É para reestruturar um Palmeiras totalmente estruturado fisicamente. Não ganhou neste ano, mas tem dois Brasileiros e uma Copa do Brasil em passado recente. Isso não pode ser esquecido. Não significa que não pode ganhar no ano que vem. Futebol é assim, e tenho experiência para isso.

COBRANÇA POR OFENSIVIDADE
O momento é de uma expectativa e cobrança em futebol ofensivo. Mas quando futebol brasileiro não foi ofensivo? Pega história. Tem DNA ofensivo. Estamos muito preocupados com esquema táticos, números, e esquecemos que o DNA do Brasil é empírico, mudar de posição, fazer diferente. Se perdermos isso, viramos robôs. Sempre ganhamos, somos pentacampeões do mundo e temos dez Mundiais de Clubes porque os europeus trabalham taticamente e fisicamente, mas fazíamos coisas que não imaginavam, apareciam Garrincha, Pelé. As pessoas estão ávidas em saber como o time vai jogar, esquema tático, se é proativo, reativo. Tudo sabemos como funciona. Mas não adianta pensar em equipe. Estou em um clube com DNA de Academia, de ter time técnico, mas que pode ser também extremamente defensivo, com a marcação começando no ataque, quando se perde a posse de bola. Falam de coisas que já fizemos, com linguajar diferente. Respeito tudo isso. Conheço muito bem a história do Palmeiras. Não adianta pensar nisso sem desenhar time com jogadores que tenho. Não é o time que querem, é o time com as peças que temos, com sistema tático que se ajuste para oferecer o melhor.

SÓCIO-TORCEDOR
Sócio Avanti é o carro-chefe. Eu o convido para ser o centroavante. Não podemos perdê-lo, é muito importante para ajudar a equipe, com investimentos e deixando o trabalho mais confortável. O Palmeiras tem estrutura, com Allianz Parque, uma novidade para o torcedor, e o torcedor quer time jogando. Minha proposta é que o palmeirense verá uma equipe dentro do DNA. Convido sócio-torcedor porque precisamos deles. Não se monta time vencedor com torcedor distante, nem com comissão técnica, jogadores, diretoria distantes. É com união de todos, e é fundamental que torcedor esteja junto. Sem dúvida, vai voltar e voltar forte.

MUDANÇA CONSTANTES DE TÉCNICOS NO BRASIL
A mudança de técnicos não é novidade no Brasil. Começa o Brasileiro e a imprensa faz conta de quantos vão caindo. É uma característica do Brasil. Estou pelo que conversamos com presidente, falo de mim. Estou dentro da proposta não só financeira, mas filosófica, com restruturação que conversamos. Futebol é muito cobrado por resultado, que sustenta ou não. É uma característica não só do Palmeiras, mas do futebol brasileiro, com mudança constante de técnico. Sempre tem um responsável por uma situação desconfortável no futebol, sempre pega alguém.

FARÁ RODÍZIO?
É bom ter elenco forte. Campeão brasileiro é só um em 20 clubes, com 12 grandes clubes. Neste ano, foi Flamengo. Nos últimos cinco anos, o Palmeiras ganhou dois., Elenco forte possibilita ganhar. Time ganha jogo, elenco ganha competição. Queremos elenco forte e com versatilidade. Com 24 jogadores, cada um jogando duas posições, aumenta o número. Essa versatilidade é importante. Estão muito preocupados em falar em rodízio, mas é característica de cada comissão técnica. Vamos discutir internamente, como vou encaixar com o pessoal que está aqui e o meu pessoal que chegou, para encaixar nosso trabalho. Essa discussão existe no momento exato da preferência da competição. Não posso falar que farei rodízio sempre, preciso saber qual posso fazer. É discussão de momento. Com certeza, em algum momento, jogando tantas competições, terei que fazer algo, mas será na hora, e vocês vão ficar sabendo.

MODERNIDADE
Não sou contrário à modernidade. Depende o que é modernidade. Isso é baita moderno, e quem deu pontapé fui eu, em 2008, de fazer do ginásio tudo que está acontecendo. Não sou avesso à modernidade, quero saber o que ela presta de auxílio. Ele te abastece pra ter material e matéria melhor. Você se adapta ao melhor, estuda, analisando o que está acontecendo na minha área. O dinamismo e intensidade é mudança muito grande porque houve avanço, oferecendo condição melhor para jogador correr 11, 12 km em vez de 6, 7 km, como era no passado. Acompanhamos essa modernidade na parte tática, adaptando realidade física dos atletas a um esquema tático já definido lá atrás. Maior revolução tática foi em 1970, do Brasil, com três zagueiros sem ter três zagueiros, porque o Everaldo não subia, Clodoaldo e Gerson como dois volantes que não são marcadores, como se joga hoje, e fazia com Tostão o que o Messi faz, de falso atacante, para jogar e dialogar com Pelé, Rivellino, Gerson, pela qualidade que tem. Técnicos brasileiros acompanham evolução tática. Em 1970, Zagallo mostrou isso ao mundo. E mostramos que estamos preparados para ter a melhor preparação física do mundo em 1970. Ao longo do tempo, só fomos melhorando. Só estou aqui hoje, contratado, porque tenho longevidade, experiência e qualidade. Se eu não tivesse, não estaria aqui hoje nem trabalhando mais, porque a cobrança é muito forte. Graças a Deus, tenho saúde para trabalhar em campo experiência, porque não se fica ultrapassado, se fica mais experiente e sábio. Um advogado se torna muito melhor com experiência que adquire. Advogado de 67 anos, que é a minha idade, já sabe o resultado que vai acontecer. Só que, hoje, chega tudo para ele no laptop, antes era oralmente. Não sou avesso e estou preparadíssimo para encontrar essa modernidade que o Palmeiras oferece, com condição para um técnico realizar um grande trabalho.

PODE CHAMAR DE LUXA?
Sempre foi Luxa, não mudou. Primeiro, porque era longo e não cabia no jornal. E porque Luxemburgo pode virar Luxemburro. Luxa reduz e fica normal.

COBRANÇA
Não é diferente comigo. O Telê Santana talvez tenha sido o mais injustiçado. Perdeu duas Copas do Mundo e tanto tempo sem reconhecer a qualidade dele. Deram tanta pancada. Lembro do jornal Globo dando charge com ele na cara de burro. Depois, ele se consagrou no São Paulo, e sendo a mesma pessoa. É uma caraterística nossa, do Brasil. A todo momento, você é colocado à prova, tem que ganhar todo dia. Graças a Deus, estou aqui hoje, porque é sinal de que estou vivo e apto a trabalhar. Se não tivesse, já teriam me tirado há bastante tempo.

SAMPAOLI RECUSOU PALMEIRAS PORQUE QUER RIVALIZAR COM FLAMENGO
Quem falou foi o Sampaoli. É complicado falar sobre o que outro falou. Não tenho de concordar ou discordar, não vou entrar em polêmica nem entrar no mérito. Se você fizesse a pergunta sem confronto com o Sampaoli, eu responderia. Quero falar o que penso.

O PALMEIRAS TEM CONDIÇÕES DE RIVALIZAR COM O FLAMENGO?
Não vou rivalizar com Flamengo, mas com o futebol brasileiro. Não tenho de ganhar do Flamengo, mas do futebol brasileiro, de quem disputa comigo. Por que direcionar para o Flamengo se posse perder para o Ceará, por exemplo, e outras equipes de menor envergadura? Direciono para o Palmeiras ser a melhor equipe do Brasil e ganhar competições. O Flamengo estará incluído dentro da análise do futebol. Necessidade que temos para sermos o primeiro.

TEM GANA DE MOSTRAR SEU VALOR A CRÍTICOS
Não estou com gana de mostrar para ninguém. A gana é de mostrar para o Galiotte, que me contratou e torcedor que sei fazer o que sempre fiz: ganhar. Você não consegue ganhar toda hora. Mas não precisa dar satisfação para ninguém. Trabalho no Vasco foi muito bom, fui contratado para não deixar o time cair. Aqui, tem investimentos, mas não é diferente de outros clubes com expectativa de conquistas e que também fazem contratações boas e ruins. O Palmeiras não é diferente de nhum outro clube com expetativa de conquista. Fazem cobrança dentro da grandeza e da realidade do Palmeiras. Não estou preocupado com o que cobram de comigo. Se não ganhar o Paulista, vão falar que está tudo errado. É assim que funciona. As perguntas vão ficar mais azedas lá na frente.

CATEGORIAS DE BASE
Primeiro, por mérito. Minha história é de botar moleque para jogar. A categoria de base é muito importante dentro do clube, até no negócio futebol. Estarei atento e conheço, sempre procuro assistir o time sub-20. Tem bons jogadores no Palmeiras e, obviamente, abriremos a janela para mostrarem o talento que têm. seguir ou não seguir não pertence a mim, mas ao jogador de futebol.

VAI RECUPERAR LUCAS LIMA E DEYVERSON?
Não tenho de falar disso.

FELIPE MELO SERÁ ZAGUEIRO?
Primeira coisa é que vou conversar com ele. Se não conversar com ele, estou roubado. Vou conversar com o Felipe e ver como se sente. Se não se sentir desconfortável, não tem como fazer. Primeiro, preciso conversar com o Felipe.

TÉCNICOS ESTRANGEIROS SÃO MELHORES?
É uma discussão eterna. Jesus ganhou, mas, se pegar os últimos anos, qual estrangeiro ganhou no Brasil? É mérito todo dele hoje, mas não significa que, no ano que vem, vai ganhar. Ele tem cabelo branco, e eu não tenho nem pinto meu cabelo, hein? (risos) Nos anos passados, Mano ganhou, e é mais experiente, Felipão também, Carille e Tiago (Nunes) também ganharam. Vai ganhar alguém, e damos parabéns ao trabalho que fez, excelente. Jesus e Sampaoli fizeram excelentes trabalhos e parabéns, vida que segue. Não precisa de comparação, se trouxe novidade, se sabe ou não fazer. Quantos times bons tivemos no Brasil, marcando época? Não é novidade. No Palmeiras, teve três Academias, incluindo 1993, 1994 e 1996, e tantos outros clubes fizeram sucesso. Agora é Jesus com Flamengo. Mas o Brasil tem fartura de grandes equipes, ganhando Mundial. Só reforçando: somos dez vezes campeões mundiais de clubes e pentacampeões mundiais com treinadores brasileiros. Temos há muitos anos grandes equipes. Graças a Deus, vieram Sampaoli e Jesus aqui para discutirmos se tem novidade, mas sem se tornar pejorativo para técnico brasileiro. Deixamos de ser bons? Não prestamos?! Mas a vinda deles é muito legal.

BUSCA REFORÇOS?
Outra que fico devendo. Não posso responder isso. O mercado está ativo para caramba, se eu falar nome de um jogador, ele sai de R$ 1 milhão para R$ 10 milhões. Tudo que será feito, será noticiado. Ninguém vai esconder nada. É coisa interna acontecendo e vamos mostrar o que for feito para elogiarem ou criticarem.

ESQUEMA TÁTICO
Se eu tenho time de futebol no 4-2-3-1, se eu mudar, sem mudar jogador, fica 4-1-4-1. Posso fazer 4-3-3 também sem mudar nenhum jogador. Faço do jeito que quiser. Se colocar um volante e dois meias, com três atacantes. Mudo sem mudar jogadores, adianto um cara de um lado, outro do outro. Estão discutindo isso como se fosse o mais importante, mas o que é a essência: ganhamos porque driblamos. Ganhamos mais do que os outros porque fazemos coisas diferentes. Se tirar isso, perdemos. Quando se dá pontapé inicial, muda a coisa toda, acabou 4-2-3-1 e essas cosias. O Dudu mudava da direita para esquerda toda hora, e depois por dentro. Quero que essas coisas não se percam, são a essência do Brasil, sem se preocupar com número. Precisa ser girando, com rotação muito grande.