Mente, intensidade e família: Turra diz como Felipão moldou o campeão
Auxiliar e braço direito de Luiz Felipe Scolari nesta volta ao Palmeiras, o ex-zagueiro deu detalhes sobre a metodologia de trabalho imposta pela comissão técnica antes do título
O trabalho que a comissão técnica de Luiz Felipe Scolari implementou no Palmeiras tem alicerces muito bem definidos: mente preparada, um time com físico para aguentar o jogo vertical e intenso pedido pelo chefe, e o bom ambiente no vestiário. Foi assim que o Verdão quebrou o recorde de invencibilidade nos pontos corridos (são 22 jogos sem perder) e conquistou o título brasileiro com uma rodada de antecedência, no último domingo.
Braço direito de Felipão, o auxiliar Paulo Turra contou ao LANCE! detalhes e bastidores destes quatro meses de trabalho na Academia de Futebol. Desde o método de treinos que incentiva individualidades, como a de Dudu, à união de características do elenco com a forma de jogar desejada pela comissão, que ainda tem Carlos Pracidelli como outro homem de confiança de Scolari.
Confira abaixo a entrevista exclusiva com o auxiliar Paulo Turra:
LANCE!: Fala-se muito da identidade do Palmeiras. De onde surgiu esta ideia e por que acharam que precisavam trabalhar isto no Palmeiras?
Paulo Turra: Quando a gente assumiu o Palmeiras, já conhecíamos os jogadores. Por ver jogo, sabíamos o modelo. Eu e o Carlão (Pracidelli, auxiliar) chegamos antes, o professor (Felipão) veio uma semana depois, mas sempre coordenando tudo. É bom ressaltar que tudo que eu passar para vocês tem uma mente, do professor, que passa para a gente e implantamos. Queríamos quando chegamos que o time do Palmeiras, dentro de campo (tivesse uma identidade), mas aí você a coloca também no vestiário, no ambiente que nos cerca aqui, no estádio antes do jogo. Queríamos ser reconhecidos por uma identidade. Hoje, em dezembro, como somos reconhecidos? É uma equipe que marca muito forte, que se entrega, que não tem titulares ou reservas, é um grupo. É organizada dentro e fora de campo, com regras, respeitando hierarquias, tanto os jogadores com os treinadores, quanto nós com nossos superiores. É o que queríamos, que o Palmeiras tivesse o reconhecimento. O adversário que enfrenta o Palmeiras sabe que o Palmeiras joga muito na vertical, marca muito, é líder em desarmes no Brasileiro, um time líder em assistências certas, para gol, que tem a bola longa, mas a bola longa resulta em muitos gols e oportunidades. É um grupo, não são apenas 11 jogadores. Este era nosso objetivo, e, para nossa satisfação, creio que conseguimos isso. Os jogadores absorveram rápido. Não só eles, mas também roupeiros, fisiologia, departamento médico, todo o grupo. Hoje, o Palmeiras tem uma identidade. Pela qualidade dos jogadores, por esta identidade, pelo futebol bem jogado dentro de campo, conseguimos o título.
Vocês já sabiam que o Palmeiras tinha esta identidade para ser trabalhada ou foi só quando chegaram viram que ainda precisava buscar?
Não vou emitir opinião sobre o passado. Para nós, o que interessa é a partir de 27 de julho, quando chegamos. Conhecíamos individualmente o time e o modelo de jogo, que mudamos totalmente. Não significa que antes estava errado e nós estamos certos, mas temos a nossa filosofia. O que implantamos aqui, desta identidade, é a nossa maneira de trabalhar, com a ideia do professor e as nossas. Na China, foi assim também, no sentido de respeito a hierarquias, de jogar muito na vertical, marcar muito forte, tirar espaços, o time atacar e defender em bloco. Temos melhor defesa, melhor ataque e isto não se faz no estalar de dedos. É no treino, no dia a dia, com treinos, reuniões, individuais ou coletivas. A identidade que passamos e tem no banner que apareceu no vídeo da TV Palmeiras, tem várias palavras: família, organização, persistências, fé. Tudo isso engloba nossa identidade. Tendo esta identidade, tu tem uma linha para seguir. Batemos muito nisso, tanto que os jogadores sempre repetiam antes dos jogos: "olha nossa identidade!". Quando falo identidade, vem na cabeça todos os detalhes que nos fizeram chegar até aqui. Isto não quer dizer que o que estava aqui estava errado, é nossa maneira de trabalhar, de ver um vestiário, um time. E deu certo. A questão é cultivar isso. Todo profissional precisa de um foco, um caminho a seguir e montamos isso. Os jogadores absorveram rapidamente. O ambiente no CT é espetacular.
Em 2016, quando também foi campeão brasileiro, o Palmeiras só se preocupou com esta competição e se mobilizou por ela. Como vocês trabalharam a concentração do elenco tendo durante boa parte do tempo três torneios?
Quem vê minha rede social, sabe que sempre coloco sobre identidade. Quando temos algum bom resultado, que no caso foram 99% deles (risos), graças a Deus, sempre coloco "passo a passo". Com toda a experiência do professor Felipe e o Carlos, que só com os dois são 60 títulos. Dentro disso, conseguimos virar a chave. Fim de semana jogando o Brasileiro com um grupo e, já na segunda, virávamos a chave. Já na reza, o professor fala: "vencemos, parabéns, mas amanhã já é Copa do Brasil ou Libertadores". E facilitava ter um grupo no Brasileiro e outro nas copas. É menos difícil conseguir virar a chave com um grupo que não participou diretamente do desgaste, principalmente mental, do jogo de domingo, sabe? Na segunda, já conseguimos trabalhar esta equipe, mentalmente focada só na quarta. Não tinha o jogo de domingo pensando se está cansado, no gol que perdeu. Ajudou um monte isso. Mérito do professor que, quando assumiu, disse que o Palmeiras tinha grupo para montar duas equipes. Não tem titular ou reserva. Tem uma base em uma competição e outra em outra. Acreditamos muito no processo mental. Falamos muito em mentalizar as ações nos treinos, porque, no jogo, vai ser igual. Faz aqui bem e, no jogo, vai sair bem. Faz aqui desleixado e, no jogo, você não estará preparado. Falamos muito nisso. O fator preponderante foi ter um grupo forte, que deu condição de trabalhar.
Para ter um time vertical, intenso como você diz, precisava realmente de duas equipes tendo jogo de quarta e domingo, né?
Aí entra a questão da estrutura que o clube disponibiliza. Na semana em que eu e o Carlos chegamos, vocês viram nos treinos a maneira que cobramos deles, de encurtar espaço, jogar na vertical, fazer a jogada direta no Deyverson, que ia jogar (contra o Bahia na Copa do Brasil), com ele marcando na frente. Fisicamente, vimos que a equipe estava muito bem preparada. Da maneira que jogamos, se tu tiver uma equipe mais ou menos preparada, pode montar dois times, mas se não estiver preparada aqui (Turra aponta para as pernas), não vai. Exige muito encurtar toda hora, jogar vertical, fazer transição ataque e defesa rápida, precisa estar bem das pernas. A parte física foi primordial, e aí é departamento médico, fisiologia, parte física, os jogadores que se cuidam e estão atentos. Foi primordial para chegarmos, eles absorverem a filosofia e levarem para dentro de campo. Tanto nos treinos quanto nos jogos. Nosso treino nunca passou de 50 minutos, mas é 50 minutos a ritmo de jogo. O Thiago (Santi), da área da fisiologia, fica do lado do campo com o software dele. Já no vestiário definimos: hoje podemos fazer entre 4000 e 5000 metros, hoje podemos fazer de 3500 a 4500. A gente dialoga. Às vezes o Thiago, entra no campo, fala conosco e vamos controlando. Mas tiramos o máximo deles. A ideia que temos é de que o treino é o estudo para uma prova. O jogo é a prova. Cobramos para encurtar, ir vertical, um para um, faz a cobertura na vertical, agora na horizontal, na diagonal, bola longa, bola no fundo, meia infiltra, atacante nas costas... para tu fazer isso, tem de estar muito bem fisicamente. E nossa equipe esteve sempre muito bem, prova disso que não tivemos nenhuma lesão para o jogo (contra o Vasco). Isto ajudou. E ter isto dentro de campo, os jogadores aceitaram a ideia. Tu faz no treino, aliado à qualidade espetacular, porque é o melhor plantel do Brasil individualmente. Coletivamente, eles tendo esta ideia e a gente cobrando deles, chega ao jogo e, teoricamente, a situação fica menos difícil. No Brasileiro, e na Copa do Brasil e Libertadores também, em qual jogo que tomamos um sufoco assim, que o torcedor fica (com as mãos na cabeça)? Lembra de alguma situação assim? Sofremos muito pouco.
Os cinco, dez minutos finais na Bombonera (contra o Boca Juniors, na semifinal da Libertadores)...
É, é. Foram cinco, dez minutos. É todo um conjunto e tudo o que estou falando é a identidade. Intensidade, intensidade, intensidade. E jogar na vertical como fazemos não é fácil. E não é um jogo, não. São mais de 30 assim, com poucas lesões. Conseguimos equilibrar. O treino é às 16h. O professor chega perto de meio-dia, eu e o Carlão chegamos 11h. A gente já faz, prepara o treino, vai no DM, faz a visita, ou eles vão até nós, geralmente, e preparamos. Nada é por acaso. Preparamos tudo, estamos cientes de tudo. Por exemplo: se o teste de CK (teste de desgaste muscular) do Willian está alto, decidimos como é melhor fazer junto com o departamento médico: é melhor ele treinar mesmo que 30% do treino ou ficar fora? E assim tocamos o barco.
Você diz que jogar na vertical não é fácil, mas discute-se que o estilo de jogo do Palmeiras é mais simples, sem ter tanto a bola, diferente de muitas equipes principalmente de fora do Brasil. Qual sua análise sobre o modelo de jogo?
Acho que o grande mérito do treinador, do líder, no caso o professor Felipe, é tu ter a capacidade de montar um modelo de jogo rapidamente de acordo com as características de seus jogadores. Quando o professor foi anunciado, ele passou para a gente: a característica dos nossos jogadores é para atuar assim. E, por incrível que pareça, é do jeito que a gente gosta. Pronto. O mérito do treinador é conseguir diagnosticar e ver rapidamente o perfil dos jogadores para aplicar modelo de jogo. Se tu tem uma equipe de fibras rápidas, como nós temos... hoje quantos jogadores de fibras lentas temos na equipe? São três ou quatro, mais pela idade do que propriamente pela característica. Isto facilita a ter um jogo vertical, que é bem intenso. Você joga a bola em cima do Deyverson, do Borja, nós encurtamos, daqui a pouco eles dão uma casquinha, o Dudu entra, o Willian entra, o Jean ou o Hyoran entram. Vertical. Se tu não consegue, recompõe. Vai marcar pressão em cima, é complicado. Mas sabíamos das características dos jogadores.
Quais características ajudam para jogar como vocês gostam?
Willian é rápido, Dudu é rápido, só para dar alguns exemplos, o Deyverson é muito rápido, Borja é rápido, Bruno Henrique é rápido, o Thiago Santos é rápido, todos os nossos laterais são rápidos, os nossos zagueiros na maioria são rápidos, levando em conta a posição deles. Tu tem uma equipe que sabe que vai dar retorno, tem esta característica. Mas, no treino, você precisa colocar isso na cabeça deles. Nossos treinos, ao contrário do que vemos por aí e pesquisamos, poucos demos em forma de dois ou três toques. A maioria é de livre toques. Como tu vai querer que uma equipe que joga tanto na vertical como a gente e intensa como a gente, vai limitar a dois, três toques? Tu está induzindo eles a cadenciarem o jogo. E eu acho que o jogador já tem de ter nele o cadenciar o jogo. "Ah, apertou na saída, começa por trás, balança o time para o outro lado". O jogador tem de ter. Incentivamos livres toques, como no jogo. No jogo, vai ter hora que você vai dar um toque, dois toques, três toques, mas tem hora que você vai carregar a bola. Se tu só fizer dois, três toques, vai condicionar a mente. Se no jogo tiver um contra um, o que o Dudu mais faz? Vai para cima. Como tu vai querer que ele exerça isto em campo no jogo, se no treino você o condiciona a dois, três toques. No jogo, ele vai receber, dominar e tocar de lado. Para jogar na vertical, precisa condicionar a mente deles a fazer as ações no jogo. O Diogo Barbosa carrega muito bem a bola, e como tu vai querer que ele faça isso se tu condiciona? Isto é o mesmo com o Willian, com o Scarpa. O Mayke, no último jogo em casa (contra o América-MG), teve uma hora em que passou o Dudu até. E não temos essa frescura de "ah, cuidado para não se machucar" no treino. De vez em quando, a gente até fala: "calma, gente, que está um pouco acelerado o processo", mas se não é muito o retrato do jogo... Temos jogadores de excelência aqui. Dentro desse perfil que a gente pensou e tínhamos certeza que conseguiríamos, e tu consegue fazer eles exercerem isso... tu dá caminhos, orienta ações, mas, no campo, é a qualidade deles e vai embora.
Os jogadores citam o Deyverson como exemplo dessa identidade. Quando esperavam uma bronca nele, viam a comissão técnica abraçá-lo. Como foi o tratamento com ele?
Eu não gostaria de falar individualmente sobre um jogador, porque o nosso grupo foi muito importante. O Deyverson teve o chip solto dele, como falou, o Felipe Melo também teve no começo, mas seria injusto da minha parte só focar no Deyverson. O grupo nosso foi muito forte, todos absorveram muito bem o que pedimos e orientamos a eles. Aí entram as individualidades. O que posso te garantir é que o Deyverson é um guri do bem, não tem maldade. Ele é assim, mas do bem. Nas características dele, os jogadores gostam dele como gostam de todos. Veja as comemorações dos nossos gols, a palhaçada que eles fazem, dando tapa. O Deyverson, no nosso último jogo em casa (4 a 0 contra o América-MG), derrubou o Dudu por trás na comemoração. Eles se gostam, têm carinho um pelo outro.
Quando trouxeram o Felipão, a expectativa era de que viesse uma voz forte no vestiário. Mas os jogadores o consideram um paizão, você mesmo dá muito apoio, e o próprio Felipão falou que conquistou o título por ser uma família. Como foi esse tratamento de dar mais afago ao grupo?
Aí entra um conjunto de coisas, e o profissional Luiz Felipe Scolari, que vem respaldado por trás com um currículo de 34 títulos e uma história totalmente vencedora. Quem sabe, o professor Felipe esteja entre os quatro, cinco maiores treinadores do mundo em termos de currículo. E essa é a nossa maneira de trabalhar. Não acreditamos em "ah, não tenho de sorrir nem conversar ou dialogar". Daqui a pouco, eu, Carlão ou o professor Felipe pega um debaixo de braço para conversar. Depois, pegamos na frente de todos e falamos "e aí, como que é?". Isso vai muito do feeling. Quando vejo o professor Felipe, vejo nele o cara. E podem falar o que quiserem, mas nunca falaram que o Felipe é mau caráter, sem-vergonha, pilantra, traíra. Isso, nunca falaram. Podem falar do 7 a 1, criticar como treinador, mas nunca falaram isso. Aí você vê a pessoa do professor Felipe entrando no vestiário, respaldado pelos 34 títulos e por toda história vencedora que ele tem, é lógico que olho e penso: "esse é o cara". Aí vem o cara e te abraça, pede para todos os funcionários participarem da hora da reza. Aí você chega para o cara e pede para ficar fora do treino por ter algum problema e ele permite, se o treino pode ser na terça à tarde ou quarta de manhã e ele diz que pode ser. Às vezes, ele diz não. Mas é o feeling mesmo. De uma coisa, tenha certeza: o professor não acredita em ditadura, gritando "vai fazer e acabou". Tratamos todos bem, como queremos que todos nos tratem bem. E aí entra o respeito à hierarquia. Tenho de saber que sou o auxiliar, o professor é o treinador, o Mattos é o executivo, o presidente é o presidente. Isso entra nessas coisas de gerenciamento.
Você pode dizer como isto funcionou no dia a dia?
Por exemplo: no ônibus ou em qualquer lugar, no almoço, nas refeições, nunca saio antes do professor. Nunca. Tanto eu como o Carlão. Não levantamos antes dele para nos servir. O jogador não é bobo nem nada, vê isso aí e pensa que, se nós respeitamos o professor, eles também vão nos respeitar, automaticamente. E aí vem toda uma questão, que o professor bate na tecla: não tem certo, não tem errado. Os jovens não estão totalmente certos, os mais experientes não estão totalmente certos, e vice-versa. Existe um conjunto de coisas, uma série de fatores, e um aprende com o outro.
Depois da expulsão do Felipe Melo com três minutos de jogo, contra o Cerro Porteño, passaram a reforçar o grito de "vamos terminar com 11" nos vestiários. Como esse episódio ajudou na criação da identidade?
Ajudou. Até então, acho que foi no quarto ou no quinto jogo (da nova comissão), um dos primeiros. Foi uma situação assim: o Felipe entrou forte, mas foi expulso também porque era o Felipe Melo e tinha um passado. Não foi especificamente por causa do Felipe (que passou a repetir o "vamos terminar com 11"). Foi mais um lembrete. Em determinados jogos, falamos o "vamos terminar com 11". Mas, muitas vezes, depois que tomamos gol de bola parada, eu ou o Carlos falávamos "não marca a bola, marca o jogador". Contra o Vitória, na Bahia, treinamos muita bola parada em cima do Deyverson, porque sabíamos que o Vitória tinha um pouco de dificuldade nisso aí. No vídeo da TV Palmeiras daquele jogo, apareci falando "ataca a bola ofensiva, é bola sem força", e fizeram a edição com o lance do Dudu cobrando a falta com a bola lenta, e o Deyverson atacou. Algumas situações que aconteciam nos jogos anteriores ou nos treinamentos, no pré-jogo, antes do aquecimento, falamos bastante, ressaltamos uma situação. O "terminar com 11" foi mais uma.
Na comemoração do título, o Felipão estava bastante emocionado ao falar dos tropeços que a vida dá para você se levantar. Pela sua admiração e por trabalhar há alguns anos com ele, como vê essa volta por cima dele?
É mais uma coisa que ressalta a minha admiração por ele e a gratidão. Eu me sinto tranquilo em falar isso. Nas minhas redes sociais, inclusive em 2014, vejam que sempre o defendi, não é porque trabalho com ele agora. Ele é mais vencedor ainda. Só ressalta não apenas a minha admiração, mas de todo o grupo. Hoje, ele está no Palmeiras, mas recebemos mensagens dos chineses, com a tradução em inglês, do roupeiro que estava conosco, do pessoal da assessoria de imprensa e do gerente do Guangzhou, dizendo que estão na torcida por nós, mandando um abraço para o Felipão. Fazem isso porque ele é um vencedor. Temos uma linha: quem faz o bem, não tem erro. Ele falou neste último jogo: "às vezes, damos uma tropeçada, mas Deus coloca isso justamente para levantarmos mais fortes". Quem faz o bem, não quer dizer que não terá obstáculos. Terão obstáculos. Mas, por você ser do bem e fazer o bem, automaticamente você vai ultrapassá-los. Dará um passo atrás, fará uma curva, mas vai ultrapassar. Não vai cair definitivamente e ficar lá morto. Vai cair, levantar e seguir ainda mais forte. O professor é extremamente do bem. É que ele não quer falar o que faz de coisas para fora porque não é o perfil dele, fora tudo que faz aqui dentro. Temos essa ideia: Deus não dorme. Quem é do bem, não tem jeito, mais cedo ou mais tarde tem a sua aura que vai carregar.
Como foi a montagem do quadro com "identidade" em destaque que ficava nos vestiários?
Tentamos, primeiro, ter o grupo total na foto central. Infelizmente, nem eu tinha me tocado, não estão os dois analistas de desempenho porque houve uma falha de comunicação. Tem umas 50 pessoas ali, a foto está meio apagada e não fiquei olhando detalhes. Fiquei sabendo disso no domingo, mas falei para eles: vocês não estão ali, mas estão no coração. O Gustavo (Nicoline) e o Rafael (Costa) são espetaculares, profissionais ao extremo e de competência espetacular, nos ajudaram um monte. Tomo a liberdade de falar que a comissão técnica, com o professor, eu e o Carlão, mais o Andrey (Lopes, auxiliar do clube), o Omar (Feitosa, preparador físico) fazem a nossa comissão técnica, estão junto conosco como você não tem ideia. Mas montamos o grupo todo na foto central. O Edu (Eduardo Silva, que trabalha no marketing) ficou responsável por montar e fez vários layouts. Fomos dando ideia, não foi de uma hora para outra. Ele levou uns três grandes, falamos que estava errado e ele começou a fazer pequeno para mostrar. Fomos montando com imagens positivas, de comemoração, do grupo todo abraçado, vibrando, encurtando, fazendo uma série de situações. Dentro disso, ele foi buscando imagens, mostrando para nós até que chegou a esse que ficou legal. Muitas fotos com o professor, porque precisamos ter uma referência, que, naturalmente, é o professor. Não tem foto minha nem do Carlão. É o professor com os jogadores. Na central, estão todos, nas laterais, onde tem família, persistência, fé, intensidade e todas essas palavras, são o professor e os jogadores.
Quando vocês começaram a colocar esse quadro nos vestiários?
A identidade é desde o primeiro dia, mas esse quadro surgiu depois do jogo contra o Inter (0 a 0, em 26 de agosto, em Porto Alegre), quando eles se reuniram no vestiário e bateram a foto. O primeiro banner foi com essa foto, mas prontamente pedimos para estar todos, porque é uma família. Não tinham alguns jogadores nem o pessoal de apoio. Tínhamos a ideia de ter todos. Porque, no futebol, não existem só os 11 que jogam.
Você e o Felipão parecem ter um gosto por futebol muito parecido. Qual time vocês gostam de ver jogar hoje?
O Palmeiras. Assisto muito aos jogos do Palmeiras. Quando vejo no SporTV ou na Fox a nossa reprise, pronto, sento e vejo (risos). No nosso estilo de jogo, eu gostaria que o ícone fosse o professor Luiz Felipe. Temos alguns clubes que jogam parecido conosco e conversamos muito, assistimos muito a esses tipos de equipe. Mas acho que o maior ícone é o professor Felipe, nesse estilo de jogo. E não é porque estou com ele. Sempre mandei treinos que eu fazia para ele, por e-mail, conversava muito com ele, mesmo sem trabalhar com ele. Eu pedia opiniões e uma série de coisas. E não é só de hoje. Agora é um modelo atualizado do professor Luiz Felipe Scolari de 1995, no Grêmio, com Jardel, Paulo Nunes extremamente rápido, o Dinho de primeiro volante. É o modelo 2018. Mas não muda muito a característica. Naquela época, corriam 7, 8 km, hoje corremos 9, 10, 11 km. A intensidade mudou, é lógico, mas é um modelo atualizado do professor Luiz Felipe Scolari. O professor tem 34 títulos, é pentacampeão mundial, ganhou Libertadores, é o segundo Brasileiro que ganha, foi campeão por onde foi. É o modelo dele. E, sinceramente, gosto muito de assistir aos nossos jogos, independentemente do nosso resultado, se jogamos bem ou não, porque aprendemos observando.
Prefere não dizer nem quais equipes do exterior acompanha?
Tem times (que gostamos de ver), mas, por se tratar deste momento, temos é que valorizar. É outra coisa que tenho em mente, essa mania de que tudo que vem de fora é melhor do que nós temos. A imprensa de lá não é melhor do que a nossa, tem as suas características, e a nossa é a nossa. Vocês são bons, e eles também, mas vocês também são bons. Por que temos de ressaltar só o que vem de fora? Temos de aprender, é um processo de evolução, não se pode achar que sabe tudo, senão está morto, é procurar melhorar. Mas temos coisas muito boas e precisamos ter orgulho do que temos. Tenho orgulho de ter no professor Luiz Felipe Scolari a referência do modelo de jogo que ele tem.
Dizem que mais difícil do que chegar ao topo é se manter. O que vocês pensam para manter essa identidade para o ano que vem?
Somos movidos por desafios. Sem um ponto de referência, apontando onde temos de chegar... Não conversamos ainda sobre o ano que vem, porque não nos sentimos no direito de conversar sobre o ano que vem sem acabar bem este ano. A partir de agora, o professor chega (de Porto Alegre, nesta quarta-feira), já temos uma reunião marcada a respeito do ano que vem e entra essa série de coisas. Mas não nos assusta. É mais um desafio. O mais importante de tudo: o grupo que temos aqui é muito bom. Vamos procurar equilibrá-lo um pouco mais, mas é vida que segue. Não temos receio nenhum nem nada. São desafios. Procurar melhorar o que temos, chegando a uma semifinal de Copa do Brasil e a uma semifinal de Libertadores após 17 anos sem o clube participar e com o título que conquistamos da maneira que conquistamos, sendo o melhor ataque, a melhor defesa, a equipe que mais desarma, pior visitante (risos), melhor mandante, líder de assistências para finalizações e com invencibilidade que queremos que chegue a 23 jogos no domingo... Temos esse foco. Já fomos campeões, e o foco é manter esse invencibilidade. Teoricamente, é menos difícil seguir esse caminho para o próximo ano. Sabemos que teremos dificuldades, mas elas foram feitas para serem resolvidas e ultrapassadas.