Nobre diz qual o seu maior legado no Palmeiras: ‘Recuperar a autoestima’
No fim de seu último mandato, presidente faz balanço da gestão e explica por que escolheu Maurício Galiotte como sucessor. Ao L!, dirigente falou de finanças, torcida e o futuro
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Depois de quatro anos, Paulo Nobre deixou nesta semana a sala da presidência do Palmeiras. Campeão da Copa do Brasil em 2015 e do Brasileiro em 2016, o dirigente viu os resultados no futebol aparecerem no segundo mandato, após o sufoco de 2013 e 2014.
Ao LANCE!, o mandatário fez um balanço do período à frente no clube e disse como entrega o Verdão ao seu vice e agora sucessor, Maurício Galiotte, empossado na quinta-feira. Apesar das recentes conquistas, a abertura da nova Academia de Futebol e a readequação das finanças, Nobre não considera este seu principal legado. Veja qual é na entrevista:
Como estão sendo os seus últimos dias como presidente?
Desde o momento que se definiu que a eleição não teria uma chapa contra a do Maurício, iniciamos a transição. Então quer dizer, já considero quase que o mandato do Maurício está em mixagem com o meu, ele já está entrando com o segundo pé na presidência e eu com um pé fora. O que importa é que podemos planejar o futuro com um semestre de antecedência.
Você participou da escolha do substituto de Cuca e das últimas decisões no futebol?
A minha palavra ainda tem algum peso e eu procuro não usar este peso para que vire uma certa pressão à próxima diretoria. Eu procuro dar minha opinião apenas quando perguntando. Estou mais reativo no fim do que proativo.
Quais são seus últimos atos na presidência do clube?
Tem algumas obras no clube em processo final de entrega, aqui a Academia de Futebol, o Centro de Excelência que estamos entregando para o clube e está nos últimos dias também. Estou dedicado em deixar estas coisas entregues para serem usufruídas pelos sócios e pelo elenco já na pré-temporada de janeiro.
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'O título (da Copa do Brasil) em 2015, a final do Paulista que chegamos foram importantes, parecia ser uma demonstração ao mundo do futebol de “back to the game” (de volta ao jogo, em inglês)', disse Nobre
O que significou o título brasileiro para você?
Voltar a ser protagonista no futebol nacional teve um valor pessoal muito grande, porque era um sonho. Lembro muito da Terceira Academia, que foi a Parmalat, ficou uma década e teve momentos difíceis também, mas saldo muito positivo. Após a Parmalat sair, a gente em dez anos teve duas idas à Segunda Divisão. A autoestima do Palmeiras no lixo, no lixo, no lixo. Aquela coisa que eu falo: ser gozado segunda de manhã no trabalho, filho sofrendo bullying na escola por torcer pelo seu time. O título em 2015, a final que chegamos no Paulista foram importantes, parecia ser uma demonstração ao mundo do futebol de “back to the game” (de volta ao jogo, em inglês). O Palmeiras está de volta. Fomos campeões da Copa do Brasil e foi muito importante para coroar uma gestão. Por mais que você trabalhe sério, administrativa e financeiramente, se não tiver sucesso esportivo, esquece. Sua gestão foi uma porcaria para o mundo do futebol. E em 2016 a gente conseguiu ser protagonista o ano todo. Está certo, na Libertadores teve uma eliminação precoce, mas não abalou. "Ah, acabou o ano". De forma alguma, o Palmeiras continuou na sua toada, acho que tinha condições até de brigar pela Copa do Brasil também, foi uma infelicidade a desclassificação, mas o Grêmio tem totais méritos. Mas o Palmeiras foi protagonista e concluiu com o título brasileiro, que é tão importante. Hoje o Palmeiras tem hegemonia de títulos do Brasileiro, com nove, e de títulos nacionais, com 13. A autoestima do palmeirense fica lá em cima, o respeito que o mundo do futebol voltou a ter pelo Palmeiras, para mim é impagável. Não adianta querer ser presidente para alavancar vida pessoal ou sair de bonzinho. Você trabalha pelo clube e não para fazer populismo.
O que responde ao ser chamado de mecenas ou quando dizem que o clube precisa do seu dinheiro?
Nunca dei dinheiro ao Palmeiras. Eu dei condições de o Palmeiras equacionar as dívidas de curto e médio prazo. Com muitas dívidas assim você não consegue se planejar e fica correndo atrás do rabo o tempo todo. A partir de 2015, o Palmeiras não tinha mais receitas adiantadas e pudemos atrair patrocinadores. Começamos a ter receitas de sócios-torcedores e ficamos com dois patrocínios masters vindo do sócio-torcedor. Conseguimos receitas maravilhosas de bilheteria. É bom ter estes públicos gigantes, mas você precisa de um time competitivo. É um círculo virtuoso. Desde 2015, o Palmeiras já começou a pagar de volta o dinheiro aportado. Eu não coloco mais (dinheiro) e já recebo. O Palmeiras foi protagonista em 2016 e campeão brasileiro. Ficou muito claro que não precisa ser populista, não precisa fazer loucura, gastar mais do que arrecada para ter sucesso esportivo. Este é algo que me deixa muito satisfeito, porque quando se falava em produtividade em 2013 eu era uma chacota no meio do futebol. "Quem é esse moleque que chegou ontem e acha que vai inventar a roda?". Desculpa, não inventei isso. Isto existe no mercado onde rola muito dinheiro e funciona. Por que não funcionaria aqui? Só precisa de vontade política para fazer a coisa acontecer. Claro que um jogador com uma proposta nova quer entender. Quando ele vê que a coisa não é injusta, ela vinga. O Palmeiras anda pelas próprias pernas há dois anos, é campeão nacional há dois anos. Agora tudo vai se comprovar em 2017 e 2018, quando não estou mais e se Deus quiser vocês vão ver o Palmeiras continuando como protagonista.
Por que escolheu o Maurício para ser o seu sucessor no clube?
Foi meu primeiro vice-presidente, meu braço direito nos últimos quatro anos. É uma pessoa muito engajada, que eu sinto que está no momento dele, que tem muito bom trânsito político em todos os subgrupos dentro do nosso grande grupo, que tem o respeito até das pessoas que não gostam da nossa gestão. É sério, um profissional bem resolvido e com nossa cúpula foi extremamente leal ao Palmeiras. Que o palmeirense fique tranquilo, ele é responsável e entende que o coração do Palmeiras é futebol e que tem de ser competitivo.
Você se vê em algum cargo de diretoria na nova gestão?
Não preciso de cargo nenhum para ajudar. Deixo Maurício 100% à vontade para fazer a diretoria dele da maneira que achar melhor. Só dei uma certeza a ele: conte comigo para o que precisa, se precisar.
'Eu pergunto a pessoas revoltadas, o que elas preferem: o ingresso bem baratinho e você poder ir para todos os jogos com sua família inteira e ver o time brigando para cair ou ir a um jogo uma vez por mês, uma vez a cada dois meses e ver o time protagonista do futebol nacional?', questiona
O que você fará agora que não pôde fazer como presidente?
Nem sei se era questão de poder ou não fazer, mas eu não me sentia à vontade de fazer nada para não dar motivo para algum imbecil falar besteira. Tenho um camarote particular no Allianz Parque e não fui em nenhum show. Por quê? Porque não queria ver ninguém dizendo: “aí, ó, está desfocado, nem aí. Por que está cantando, dançando se o Palmeiras eventualmente está precisando disso ou daquilo?”. Abri mão de tudo. Volto a ter minha vida de volta. Agora se você me perguntar se fui infeliz por abrir mão disso, de forma alguma. Quis muito ser presidente do clube a vida inteira e tentei estar à altura. Só agradeço por ter tido a oportunidade.
Por que a mudança tão radical nos resultados do futebol?
Eu imaginava que o Palmeiras tinha condições de dar a virada e ganhar tudo que conquistou. Mas em 2014 eu também achava que o ano seria completamente diferente, nunca imaginei que ia passar por aquele sufoco. Esperava brigar por uma vaga na Libertadores. Mas tinha uma certeza: a gente estava plantando uma semente do bem. Todo trabalho que tivemos colheria frutos no futuro próximo. Fico feliz de já ter sido em 2015 e 2016. Mas é fruto de todo o trabalho feito em 2013 e 2014.
O que diz aos que chamam você de higienista, que elitizou o público de jogos do Palmeiras?
Tem o Papa Francisco para eles irem lá reclamar. Eu, como presidente, tentei fazer o melhor para a instituição, não presidi para 15, 20 mil pessoas que se sentem prejudicadas. Eu presidi para 16 milhões de pessoas que querem o Palmeiras campeão. Eu pergunto a pessoas tão revoltadas, o que elas preferem: o ingresso bem baratinho e você poder ir para todos os jogos com sua família inteira e ver o time brigando para cair ou ir a um jogo uma vez por mês, uma vez a cada dois meses e ver o time competitivo, protagonista do futebol nacional? Temos de pensar um pouco mais no Palmeiras e menos no nosso umbigo.
'Vamos chegar a 200 mil sócios adimplentes (no Avanti) em janeiro e dar um poder de fogo para o Maurício (Galiotte), pede Nobre
Qual o seu maior legado?
A reconquista da autoestima do Palmeiras. O Palmeiras só saiu deste buraco não pelo Paulo Nobre como presidente, quero deixar bem claro. Só saiu porque o Palmeiras é gigante. Ninguém faria mágica se não tivesse esta massa crítica que acompanha e é tão apaixonada. Eu posso, talvez, ter encurtado um pouco este período. Mas qualquer outro presidente que entrasse no meu lugar e tivesse a mesma boa vontade que meu grupo teve tiraria o Palmeiras do buraco. Não sou mágico. Se consegui alguma coisa é porque presidi um clube gigante, com uma torcida extremamente engajada e é ela que faz sentido.
O que será o futuro do Palmeiras?
Que o palmeirense fique muito otimista, que participe o tanto que participou da minha gestão na próxima gestão. E queria pedir um presente à torcida do Palmeiras. Fim de ano a gente sempre fala, qual o grande presente do time para a torcida, o presente de Natal, qual jogador vai vir... senhores, o grande presente que os senhores tiveram nos últimos dois natais foi ser campeão da Copa do Brasil e do Brasileiro. Cara, melhor presente que este não pode existir. Peço algo diferente, que o palmeirense dê um presente ao Palmeiras e à nova gestão que está se iniciando. Peço que todo palmeirense que está lendo a matéria vire sócio Avanti. Você pode achar que é tão pouco, uma pessoa. Não, não é. É igual um voto numa eleição nacional. Cada contribuição somada com outras faz o Palmeiras mais forte. Todos são fanáticos, de todos os times, mas engajado como o palmeirense não tem. Vamos mostrar ao Brasil e ao mundo, vamos chegar a 200 mil sócios adimplentes em janeiro e dar um poder de fogo para o Maurício poder dar alegria a vocês. Ser sócio Avanti é mais do que gastar dinheiro, é investir na sua própria felicidade. 200 mil sócios em janeiro é o que peço para a torcida, para o Palmeiras e para a próxima gestão.
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