‘Paciência tem limite’: Como Luxemburgo foi de blindado a pressionado no Palmeiras
Em questão de meses, técnico foi do céu ao inferno no clube e vive situação de pressão externa e interna após derrota para o rival São Paulo no Allianz Parque<br>
A derrota por 2 a 0 para o São Paulo na noite do último sábado (10) caiu como uma bomba no Palmeiras, que jamais havia perdido para o rival tricolor no Allianz Parque. Foi o segundo revés consecutivo da equipe que estava invicta no Brasileirão há menos de uma semana.
Apesar de o Verdão ter apenas duas derrotas nos últimos 22 jogos, a paciência com o técnico Vanderlei Luxemburgo praticamente se esgotou na torcida alviverde, que dominou as redes sociais com a hashtag #ForaLuxemburgo nos últimos dias. Entre os motivos para a insatisfação, o principal deles é o desempenho abaixo do esperado dentro de campo.
Jogando mal, o Palmeiras sequer conseguiu derrotar, em casa, os ‘mistões’ de Flamengo, Goiás e Internacional. Atualmente, o time ocupa a sétima colocação no Campeonato Brasileiro, atrás de concorrentes com orçamentos significativamente inferiores, como Santos e Fluminense.
No entanto, apesar de a má fase já se esboçar há algum tempo, a gota d’água foi a derrota para o São Paulo. O Choque-Rei na nova arena alviverde tinha um retrospecto amplamente favorável aos donos da casa: oito vitórias, um empate, 24 gols marcados e apenas quatro sofridos. Contudo, no sábado, além de ter perdido para o rival, o Verdão não balançou as redes, demonstrando, mais uma vez, falta de capacidade ofensiva.
O baque foi tão grande que a principal torcida organizada do clube, a Mancha Alvi Verde, resolveu se manifestar, pela primeira vez no ano pedindo a demissão de Luxa:
– PACIÊNCIA TEM LIMITE E A NOSSA CHEGOU AO FIM. Assim como foi feito com o Roger, Felipão e outros… Demos tempo ao tempo e futebol ao futebol. LUXA, obrigado pelo Paulistão e a história de um passado vitorioso. Já era! Não torcemos contra o Palmeiras para ter razão como alguns, mas amamos ao Palmeiras como poucos e nada e ninguém está acima da Sociedade Esportiva Palmeiras. Sem padrão de jogo, esquema tático e confiança. Substituições de volante para volante. Insistência em alguns jogadores sem capacidade. Perdeu o vestiário. FORA, LUXEMBURGO! - Pronunciamento oficial da torcida organizada ‘Mancha Alvi Verde’ no Instagram.
Outro importante nome a pedir publicamente a demissão de Vanderlei Luxemburgo foi Paulo Serdan, ex-presidente da torcida Mancha Alvi Verde e líder da Escola de Samba Mancha Verde:
– Acreditei sim, pois não torço contra. Mas infelizmente nosso time não tem padrão, cada jogo uma formação, nossa saída de bola é horrível, não temos jogadas de linha de fundo, etc. Essa é a parte que cabe ao Luxemburgo.. Obrigado pelo título em cima deles (Corinthians), mas já deu.. Pega seu boné e abraço.. já era. Não dá pra tolerar mais e acho que boa parte de nossa Torcida foi bem tolerante (…) Bom, resumindo, já era Vanderlei, vazaaaa - afirmou, em seu Instagram.
Conforme detalhado pelo NOSSO PALESTRA em agosto, a relação da dupla era de muita proximidade. Dez dias após o começo da temporada de 2020, Luxa convidou Serdan e outros membros da Mancha Alvi Verde para uma reunião com líderes do elenco do Palmeiras com o objetivo de buscar paz no ano futebolístico que estava prestes a começar.
Em outro episódio, após a primeira partida da final do Paulistão 2020, o técnico gravou um recado para o ‘Paulinho’, agradecendo pelo foguetório durante a saída da delegação alviverde para Itaquera, onde seria disputado o jogo de ida da decisão. A página oficial da Mancha Alvi Verde no Instagram publicou o recado do ‘Pofexô’:
Com forte articulação nesse quesito, o treinador havia conseguido se manter fora da linha de tiro nos protestos da Mancha até então, que já tiveram jogadores como Diogo Barbosa, Bruno Henrique e Gustavo Scarpa como alvos. Agora, cerca de dois meses depois do título paulista, o jogo virou e é Luxemburgo quem está sendo pressionado.
Elenco
Como noticiou o NOSSO PALESTRA/LANCE! há cerca de duas semanas, parte do elenco não está satisfeita com a instabilidade das escalações do treinador, que varia bastante nas escolhas de jogadores e formações, além de não poupar nas substituições.
Alguns jogadores insatisfeitos e/ou alvos de pressão da torcida já foram negociados pelo clube, ou estiveram ligados a negociações que não se concluíram.
Com a falta de dinheiro causada pela pandemia, o clube não conseguiu repôr as saídas, o que gerou outro episódio polêmico envolvendo Luxemburgo. Após a derrota para o Botafogo, que quebrou uma sequência de invencibilidade de 20 jogos do Palmeiras na temporada, o comandante alviverde cobrou publicamente a diretoria por reforços, alegando que o elenco estava curto para disputar três competições.
Depois da derrota para o São Paulo, o técnico voltou ao assunto e foi além, afirmando que teria que repensar, especialmente em partidas eliminatórias, o estilo de jogo dito ofensivo da equipe:
– Talvez temos que tornar a equipe menos vulnerável e jogar de uma maneira diferente, já que estamos com um número reduzido. Temos que analisar com calma qual a melhor opção: se é aquela que a gente tava tomando pancada, jogando feio, mas conseguindo o resultado, ou essa que a gente está tentando adotar para a equipe ficar mais ofensiva, mas vulnerável. (…) Claro que quero que jogue bonito como as equipes que sempre coloquei no Palmeiras e em outros clubes que trabalhei. Mas temos que olhar o elenco com calma, as possibilidades, como está a condição dentro dos jogos. Como vamos jogar partidas eliminatórias, tenho que pensar nisso com muita calma.
Pouco antes da coletiva de Luxa após o fim da partida contra o rival tricolor, o capitão Felipe Melo foi questionado sobre a falta de repertório ofensivo do Palmeiras e disparou:
– Sobre a questão ofensiva, é o treinador que tem que responder. Sou apenas um comandado e minha opinião é irrelevante.
Nos bastidores
Internamente, a pressão por parte de conselheiros também aumentou substancialmente após o revés deste fim de semana. A avaliação interna do trabalho de Luxemburgo, que antes o classificava como ‘dentro das expectativas’ devido ao título paulista, uso da base e momento atípico causado pela pandemia, agora prega mais cautela.
O clube está ciente do momento de pressão e teve postura discreta nas redes sociais neste último domingo (11). Não houve qualquer menção ao time de futebol masculino e foram ao ar apenas duas publicações repercutindo a partida da equipe feminina contra o Flamengo, pelo Brasileirão A1.
A incessante cobrança da torcida nos ambientes virtuais, agora também somada da inédita manifestação oficial da Mancha Alvi Verde, em conjunto com pressões internas e insatisfações no elenco colocam a diretoria alviverde em uma das situações mais delicadas do ano. Os próximos capítulos serão fundamentais para uma momentânea obtenção de paz, ou para a corda estourar de vez.