Rafael Marques diz que recusou rivais e quer ‘mais 10 anos’ no Verdão
Maior artilheiro do Allianz Parque, atacante faz neste sábado seu primeiro jogo como titular após renovar e diz que ignorou ofertas melhores para ficar no Verdão
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A potente caixa de som de Rafael Marques certamente estará tocando quando o Palmeiras chegar ao Allianz Parque para o jogo contra o Linense, às 17h deste sábado, pela quarta rodada do Paulistão. O atacante será titular pela primeira vez no ano e poderá matar a saudade do palco em que se sente mais à vontade e onde o clube não joga desde a final da Copa do Brasil.
Com nove gols, um a mais que Cristaldo e dois à frente de Dudu, Rafael é o maior artilheiro da curta história da arena alviverde, além de ser o único a ter marcado gols pelo Verdão tanto no velho (fez um, contra o São Gabriel, em 2004) quanto no novo Palestra Itália.
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Para seguir fazendo história, ele deu de ombros para investidas de outros clubes, como Corinthians e Cruzeiro, e pressionou o Henan Jinye (CHN) a vendê-lo ao Palmeiras por valor abaixo da multa rescisória. Agora com contrato válido até o fim de 2017, o goleador disse nesta entrevista ao LANCE! que gostaria de ficar até mais dez anos no clube.
LANCE!: Você chegou a ter medo de ter de voltar para a China?
Rafael Marques: Não, eu não iria voltar. Graças a Deus, pelo trabalho que foi feito no ano passado, tinha outros times interessados. Mas é aquilo que falei, eu queria ficar desde o começo, desde a minha primeira coletiva aqui. Eu queria ajudar o Palmeiras a ser campeão, ir para a Libertadores e, com esses objetivos alcançados, provavelmente os meus também seriam. Lógico que fiquei chateado e apreensivo pela demora, se estendeu muito. As negociações começaram muito tarde. No meio do ano, não havia o interesse do Palmeiras. No fim do ano, sim, houve o interesse. Isso me deixou um pouco apreensivo, mas deu tudo certo. Minha permanência aqui era o que eu queria, mesmo tendo outras equipes interessadas. Até porque eu batalhei para a gente chegar na Libertadores e não seria nada legal ver de longe e não participar.
Em algum momento você achou que o Palmeiras não te queria?
No meio do ano foi falado que talvez não haveria o interesse. A gente sabe como é o futebol, nas negociações tudo é válido, até dar uma mentida para o clube de lá liberar um pouco mais fácil. Foi um ano bom, positivo para o Palmeiras e para mim. Acho que não haveria motivo para o Palmeiras não me querer. Óbvio que tinha uma multa alta, mas dentro de mim eu sabia que o Palmeiras ia fazer de tudo pela minha permanência. Não passou em momento nenhum não ficar.
Abriu mão de muita coisa?
Sim, até mesmo na parte financeira, na China e aqui dentro do Brasil também. A vontade de ficar contou muito, porque houve interesse de outros clubes, com salários melhores. Talvez eu não passaria pelo que passei no fim do ano, os clubes estavam dispostos a pagar a multa rescisória, concordariam com várias cláusulas. Mas é aquilo que falei, o meu objetivo era ficar. Deixei bem claro para os meus procuradores, para a diretoria e para os torcedores que era o que eu queria.
Algum rival te procurou?
Teve interesse de outros clubes daqui de São Paulo e do Brasil todo. O trabalho foi bom, não só meu, mas do grupo todo. Tenho certeza que os rivais se interessaram por outros jogadores também. Quando o trabalho é bem feito, não tem como. Mas prevaleceu a minha vontade.
Você sempre diz que teve péssima experiência na China. Chegou a falar com algum dos atletas que estão indo agora?
Eu encontrei esses dias o Jadson no shopping. Ele me perguntou e eu até falei que se os clubes de lá tiverem a mentalidade que alguns estão tendo, de levar uma comissão toda e estruturar o trabalho, vai ter o resultado. Óbvio que vai levar um pouco de tempo, vai ter que ter paciência, mas tenho certeza que ele, pela capacidade que tem, vai ajudar muito. Os chineses vão procurar se espelhar. Vai levar um tempo, é a minoria dos clubes da China que estão fazendo isso, levando dez ou mais profissionais para auxiliar nessa parte.
Está com saudade do Allianz?
Estou, ainda mais porque nossa última lembrança de lá é da Copa do Brasil. Não tem como falar no Allianz e não lembrar daquele jogo, a festa que a torcida fez. Tenho certeza que a torcida também está empolgada e com saudade. A gente está na expectativa de saber como está o campo também, porque nossa equipe tem muitos jogadores de qualidade e um campo bem cuidado, de qualidade, supostamente vai nos fazer render mais, trabalhar mais a bola. Estamos com muita saudade de sentir aquele calor da torcida. Espero que eles estejam lá nos apoiando, até porque no meio da semana começamos a pensar na Libertadores.
"Não tenho nada contra o Ricardo Oliveira, foi uma resposta que a gente deu. Como ele e os outros garotos lá fizeram brincadeira, óbvio que eles teriam que aceitar. Toda ação tem uma resposta, não tem como falar que é uma coisa pessoal"
Falando em Copa do Brasil, você se arrependeu de ter provocado o Ricardo Oliveira, com a máscara da careta dele?
Não foi uma provocação. Na verdade, foi só uma resposta pelo que ele estava fazendo desde o Paulista do ano passado e fez até a final. Depois disso, as pessoas vinham e falavam: “Ô, Rafa, tira uma foto com a careta”. Eu dizia que não, porque aquilo foi de momento. Óbvio que a gente estava engasgado com as situações. Eu não tenho nada contra o Ricardo, tenho certeza que o Ricardo também não tem nada contra nós e contra o Palmeiras. Já vi entrevistas dele falando sobre mim também. Não tenho nada contra ele, foi uma resposta que a gente deu. Como ele e os outros garotos lá fizeram brincadeira, óbvio que eles teriam que aceitar. Toda ação tem uma resposta, não tem como falar que é uma coisa pessoal. Talvez eu tenha pegado um pouco pesado de falar do caráter dele, mas foi uma coisa que eu senti durante o ano. Eu sempre gostei do estilo do Ricardo Oliveira e aquelas atitudes que ele estava tendo foram surpreendentes. Por isso eu falei do caráter, mas não como pessoa. Falei do caráter dentro de campo. Fez coisas que eu não gostei, diferentes do que eu pensava. Semana que vem vamos nos encontrar com o Santos, são coisas que acontecem e ficam ali dentro de campo, acabou.
Você disse após a final que ele é “mau caráter”. Acha que se expressou mal?
Ele teve atitudes que eu nunca tinha visto durante a carreira dele toda. Eu sempre acompanhei ele, porque é um jogador de grande qualidade, indiscutível. O caráter que falei era o que eu estava vendo nele, mas não fora de campo, até porque ele demonstra ser um cara família, bom companheiro. As pessoas podem ter vinculado isso errado.
Voltando a falar do Allianz, qual foi seu melhor jogo lá?
Teve grandes jogos, mas é impossível não lembrar do jogo contra o São Paulo, em que eu fiz dois gols (vitória por 3 a 0 no Paulistão). Ficou marcado. Espero que eu possa ter momentos como aquele esse ano, até melhor. A gente não pode viver do passado. Eu estou trabalhando forte, procurando dar meu melhor, para quando tiver uma oportunidade voltar a jogar no nível que eu estava no ano passado, voltar a estar entre os 11.
E o pior momento?
Pior? Ali dentro? Eu não lembro de um pior momento. A hora do pênalti que perdi foi uma coisa chata, mas não tem como falar que foi o pior porque a gente foi campeão. Ali na hora eu falei: “Caraca, de novo contra o Santos”. Eu perdi na final do Paulista também. Mas são coisas que acontecem, se tiver que bater de novo, em uma final, contra o Santos, pode ter certeza que vou lá, vou bater e com certeza vou fazer. Temos que estar preparados porque somos seres humanos e todo mundo está sujeito a errar.
Achou que seria o vilão?
Não. Não que o Santos não merecesse, mas tinha que ser nosso. Era a sensação que eu estava sentindo. Talvez tenha acontecido para valorizar ainda mais o Prass, a gente brinca com isso. Ele, o ano todo, foi um cara que brilhou muito. Não teria como ser diferente.
No mesmo dia, você pediu que não te tirassem de outra Libertadores. Foi essa a sua sensação quando saiu do Botafogo em 2014?
Pô, a gente luta, batalha o ano todo, faz um projeto... Essa foi a sensação que eu tive no Botafogo. Além da Libertadores, meu projeto era fazer meu nome no Brasil depois de sete anos fora. E, na verdade, tiraram isso de mim. O Botafogo me vendeu para a China. Óbvio que era só eu ter falado não, mas houve diversos fatores. A gente conhecia muito bem o que passava ali dentro, o quanto o presidente e o vice-presidente não me queriam no elenco. Não teria como eu falar não e ficar em um lugar em que essas pessoas não me queriam, diferente do grupo, das pessoas do dia a dia. Esses gostavam muito de mim, queriam que eu ficasse, muitos falavam para não ir, para disputar a Libertadores. Esse era o meu objetivo, mas não tenho como ficar em um lugar em que as pessoas não me querem bem. A sensação foi de que tiraram de mim, mas consegui ter a cabeça boa para permanecer um ano lá e voltar em alto nível, jogando do jeito que joguei no Botafogo. Na hora que falei para não me tirarem a Libertadores foi porque aconteceu no Botafogo e eu não queria de novo.
Eles falaram para você ir?
Não chegaram a falar “Rafa, vai que a gente não te quer”, mas a gente é experiente. O vice-presidente chegou a falar para mim que foi na cidade do time chinês, que o clube era bacana, estruturado, para pensar na parte financeira. Ali mesmo eu já percebi que a vontade deles não era que eu permanecesse. Óbvio que seria mais fácil para eles me venderem do que falar que não queriam minha permanência. Depois de 18 anos o Botafogo voltou para a Libertadores e eles se desfazerem dos principais jogadores, da comissão? Eles não queriam isso nas costas deles, então seria mais fácil vender para não ter problema com a torcida.
Não acha que a questão financeira do clube pesou?
Também, também, isso eu não posso negar. Mas, pô, tem que parar para pensar. Esperaram 18 anos para chegar na Libertadores e em um momento como esse vão pensar só na parte financeira? Será que isso foi positivo? Caíram na primeira fase, o time caiu para a Série B depois. Com o Botafogo eu não mágoa nenhuma, gosto muito do clube, tenho carinho muito grande, mas a mágoa é com as pessoas que comandavam lá, o presidente e o vice-presidente.
No ano passado, você falou ao L! que gostaria de se aposentar no clube. Agora de contrato renovado, mantém o desejo?
Não penso em parar tão cedo, até porque eu me cuido muito. Eu renovei por dois anos, estou contente. Óbvio que se pudesse renovar por mais cinco, seis anos seria ideal, mas às vezes isso não é legal, de repente tem uma acomodação. Se puder aposentar aqui, melhor ainda. Eu me identifiquei muito, criei uma raiz na primeira passagem, é um clube muito estruturado, para mim o melhor do Brasil em todos os quesitos hoje. Se puder permanecer aqui mais dez anos meu objetivo é esse e sempre será.
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