Sintético do Allianz terá sua primeira final internacional: ‘Palmeiras deixará legado para o mundo’
Alessandro Oliveira, responsável pela implantação do gramado na arena do Verdão, falou ao LANCE! sobre a importância dessa transformação após dois anos de parceria
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Nesta quarta-feira, o Allianz Parque receberá sua primeira final internacional, que também será a estreia do gramado sintético em uma decisão fora do âmbito nacional. O confronto entre Palmeiras e Athletico-PR, pela Recopa Sul-Americana, é um dos motivos pelos quais o campo da arena palmeirense é considerado um "case" e um legado do futebol brasileiro para o mundo.
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Quem disse isso pode até ser suspeito, mas com certeza entende do que está falando. Trata-se de Alessandro Oliveira, CEO da Soccer Grass, empresa responsável pela implementação do gramado sintético no Allianz Parque. Em entrevista ao LANCE!, o executivo falou da importância do sucesso desse projeto não apenas para o clube, mas também para o futebol do planeta.
- Eu considero o gramado do Allianz uma referência mundial, e eu diria que o gramado do Allianz vai deixar um legado para o mundo, vai abrir a porta do sintético para o mundo. Sabe uma coisa que enche os meus ouvidos? Termina o jogo, eu escuto falar do VAR, da arbitragem, do atacante, do cara que não fez o gol, e eu não escuto falar nada da grama. Não tem coisa melhor para nós. Eu não tenho dúvidas que esse legado é para o mundo e o Brasil saiu na frente, porque não existe uma arena como essa, com essa quantidade de shows, com esse nível de estresse que a grama recebe, e depois ela está pronta para grandes jogos. E ninguém reclamando de gramado - declarou Alessandro.
Quando o Palmeiras decidiu partir para o gramado sintético, o clube não mediu esforços, nem investimentos, e solicitou tudo o que há de melhor dessa tecnologia para não deixar qualquer "fio solto" e atender a todos os tipos de uso, seja o jogo de futebol, seja a montagem de um show ou de um evento corporativo. Esse conjunto, gerou um "case" para esse tipo de projeto.
- Quando a gente fala de gramado, não é só a grama, é o sistema como um todo, além da absorção de impacto, do quique de bola, da rolagem de bola, chuteira, planicidade, a gente tem um diferencial que a base da grama é 100% permeável, não é uma grama que vem com furinho como as convencionais, o amortecimento dela é diferente, ela é toda vazada, durante esses dois anos, nós passamos por jogos com chuvas torrenciais, você não vê uma poça d'água parada no campo - disse antes de completar:
- Esse combo de soluções eu não tenho dúvidas que vai estar em outras arenas não só aqui no Brasil como no resto do mundo, vai ser um case para o mundo, o Palmeiras e o Brasil saíram na frente, deixam um legado para o mundo.
A manutenção do gramado é constante, e a empresa disponibiliza uma equipe exclusivamente dedicada ao Allianz Parque, o que gerou um conhecimento de cada tipo de problema ou solução nesses dois anos de implementação. Agora, com esse know-how de um projeto tão "redondo", a ideia é replicar essa qualidade atesta e comprovada para o Brasil ou até para o mundo.
- Em relação ao Allianz Parque, se tiver algum ajuste, eu diria que a gente sempre está pensando em melhorias, mas são ajustes finos, bem pequenos, porque o combo daquela arena multiuso, com aquela envergadura, e a entrega do jogo para a prática profissional ficou muito redondo. São ajustes finos, mas como tudo, não podemos achar que "encontramos um produto que não precisa de alteração", mas a gente está sempre tentando encontrar uma alternativa, fazendo estudos internos, a gente não para, mas hoje falar que teria alguma mudança, eu diria que não, não tem nada no radar que a gente diga "precisa ser feito". Os ajustes a gente vai fazendo nas manutenções, os cuidados do dia a dia, que tem que ter.
- Tem que ter esse acompanhamento, saber o que está fazendo, a nossa manutenção é reportada para os laboratórios da Fifa, eles querem saber o que nós estamos fazendo, se gente está seguindo à risca o que eles pedem. Então a gente acabou adquirindo esse know-how de manutenção conforme o manual deles e criamos o nosso manual de lidar com uma arena multiuso, desmonta show, passa a máquina, descompacta... Uma coisa que a gente criou nesse processo é passar um imã na grama toda, porque quando tem show, tem muito parafuso, prego, e aquilo você só vai achar quando entrar na perna de um jogador. A gente foi criando uma série de processos, temos um time bem legal para fazer a gestão de jogos, em dias de evento, depois da desmontagem para um clássico em seguida, a gente já criou um protocolo muito interessante, agora é replicar essa é a ideia - contou o executivo.
Em sua primeira final internacional e com grama sintética, o Allianz Parque tem encantado até mesmo o criterioso pessoal da Conmebol, principalmente por não terem a dor de cabeça que enfrentam nos gramados da América do Sul.
- Primeira final internacional, e a primeira final que os dois jogos são em sintético. Nossos técnicos, toda vez que vem um jogo da Conmebol, Libertadores, os caras são bem criteriosos e já recebemos alguns elogios deles sobre o gramado. Isso é muito legal, porque eles falam que vão em vários lugares que o gramado é assustador, e que se tivesse algo parecido em muitos deles, seria espetacular - concluiu Alessandro.
Confira, a seguir, a entrevista completa com o CEO da Soccer Grass:
Avaliação dos dois anos de parceria e de implementação do sintético
Para nós está sendo muito bacana ver todos esses resultados, quando a gente desenvolveu o projeto aqui internamente, junto ao nosso departamento de engenharia, a gente vinha trabalhando nisso três anos antes de colocar em prática. E é aquilo, no laboratório tudo dava certo, mas ainda não tínhamos passado pelo laboratório real e o que é um laboratório real? É ter um drive-thru com 300 carros em cima, como ocorreu durante a pandemia, era bem diferente do que a gente imaginava, e foi o teste de fogo do sistema. Imagine entrando 300 carros, toda noite tinha show, tinha evento, sendo esses carros de todos os tamanhos, pesos, blindados e carregados. Eu lembro que eu fui lá e ficava olhando e pensando "será que esse carro está carregado?" (risos)
O pessoal está muito contente, nós também estamos muito contentes, acho que quando a gente começou lá atrás foi muito desafiador, e eu posso dizer com toda a segurança que o Allianz Parque é a arena que mais tem shows e jogos no mundo, além dos eventos particulares, corporativos, então é muito usado, não tem nada igual no mundo. É uma arena aberta, está exposta a sol, chuva, todo tipo de intempérie. Passamos pela terceira avaliação da Fifa, e não tivemos nenhum tipo de apontamento. Para nós é gol, é conseguir um Mundial.
Diminuir a rejeição ao sintético e "ajudar" o Verdão nos títulos
Havia uma rejeição muito grande ao sintético, e isso para mim era uma tensão muito grande, eu tinha uma preocupação enorme, porque por mais que eu faça um sistema maravilhoso, se o time perder por falta de competência, de quem seria a culpa? Da grama! Então é tudo muito tenso. No jogo de estreia, o Mirassol começou fazendo 1 a 0, eu falei "Meu Deus, só falta perder e falar que a grama não presta". Havia toda essa tensão, mas pegamos o Palmeiras numa boa fase, pessoal muito profissional, se dedicam muito, foi um alinhamento dos astros, ganharam títulos nesse gramado. Acho que ajudamos um pouquinho, só pelo fato de eles poderem jogar mais vezes em casa, deixar a bola correr, porque os caras são bons e o resto eles sabem o que fazem.
Custo mais baixo do que grama natural?
O gasto é muito menor em relação ao sistema da grama natural. Esse gramado do Allianz é um sistema de investimento alto em comparação com os mais tradicionais, mas por conta da qualidade que eles queriam lá, e por quererem o menor risco possível, e a conta dele se fecha em três ou quatro anos. Tem conta que não para mensurar, por exemplo, não teve lesão com esse gramado, diminuíram as lesões. Quanto custa isso? Dá para mensurar? Quanto custa um Dudu lesionado? Um Weverton lesionado? Então já pagou a conta, não dá para medir. Uma coisa que é fácil de fazer é manutenção, mais jogos, mais shows, mais eventos, eu coloco um jogo depois de cinco ou seis horas.
Essa questão de lesão, perder o cara por seis meses no departamento médico. Não tem como fazer essa conta. Isso precisa ser pensado. Se você gasta milhões e milhões com jogadores, por que não gastar um pouco desses milhões e ter um equipamento adequado para essas pedras preciosas usarem.
Investimento pago em pouco tempo e produto de longa duração
Você paga esse investimento em três ou quatro anos e você tem o gramado para a vida inteira. Aquele produto que tem no Allianz Parque tem um problema sério, que joga muito contra: ele não acaba. Vai ter dez anos, 15 anos, você não vai aguentar mais olhar, "esse tom de verde não me agrada mais".
Avaliação dos jogadores em relação ao gramado
Você conversa com jogador e ele fala "aqui eu não preciso olhar para o chão para correr, tem lugar que se eu não olhar para o chão eu torço o pé". São campos minados. No gramado natural, por mais que você faça a manutenção toda certa, ainda é uma grama natural, não tem como jogar com chuteira de cravo, você tem dez caras de cada lado chutando, correndo, vai fazer buraco, não tem jeito, o tempo inteiro tem que olhar para baixo, olha quanto tempo é perdido. "No Allianz a bola é mais rápida", não é isso, o jogo é que fica mais rápido, porque o cara não precisa ficar olhando para o chão, não precisa pensar 10x para onde vai, não precisa traçar rota
Gramado sintético essencial para uma arena multiuso
Se você for comparar, há inúmeras vantagens, a gente aqui também trabalha com grama natural, acabei de fazer o Presidente Vargas, em Fortaleza. Mas eu costumo dizer que a grama sintética não vem para competir com a natural. Se você for ter uma arena com dois ou três jogos por semana, já não dá para ter natural, aí quando você pensa em ter uma arena multiuso, não dá para sonhar em ter uma grama natural, você não vai ter o futebol profissional, não adianta.
O que ainda trava a implementação do sintético em outros gramados?
Outros clubes procuraram a empresa para projetos de sintético, mas o que ainda trava, em linhas gerais, é o valor do investimento, porque a gente procura soluções que entreguem a mesma performance, por exemplo, você pega um caso que não vai fazer tantos shows, tantos eventos, não vai ser um padrão Allianz Parque, vai fazer um showzinho ou outro, a gente tem uma solução muito legal que é a que a gente fez em Santo André. Quer algo que entregue o mesmo padrão de performance do Allianz? Está ali. Hoje eu tenho um produto que eu consigo reprisar mais, a nível de custo para alguns clubes aí.
Então o custo ainda é um impeditivo. A gente conseguiu alavancar isso em Santo André, já tivemos alguns jogos, inclusive o Corinthians jogou lá, o pessoal tem gostado, isso para nós tem sido positivo e mostrado que temos alternativas que a gente consegue reduzir coisa de 40% ou até 50% desse custo se você não for ter uma arena multiuso, como o Allianz Parque, nós temos alternativas, então isso vai viabilizar bastante coisa no mercado.
Rejeição diminui e clubes procuram projetos parecidos para seus gramados
Sobre rejeição, se você for fazer hoje uma enquete com os jogadores, sempre vai ter um "veja bem". Eu acho que hoje a aceitação é muito maior do que antes, a gente tem clubes de primeira linha pedindo, a gente está orçando. Por muito pouco a gente quase fez um estádio esse ano para um grande clube, muito provável que role para o final do ano. Temos outros clubes com a gente andando com projetos. Estava pegando na parte de preço, agora a gente achou uma solução, essa questão dos dirigentes quererem conversar com um ou com outro, pegar opinião...
Tem que pegar como empresa, como resultado, oferecer segurança para seu atleta, que vai diminuir lesão, que vai dar condição de jogo, que vai ter bola rolando igual do começo ao fim do jogo. Não tem benefício melhor para o atleta. A gente tem a empresa aqui e eu preciso entregar o equipamento adequado para os meus funcionários usarem.
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