Vice e opositor, Genaro teme rumos no Palmeiras: ‘Não se diz sim a tudo’
Eleito na chapa de Maurício Galiotte, o vice não participa das decisões no clube, assim como Victor Fruges e José Carlos Tomaselli. Ele desconversa sobre concorrer à presidência
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Genaro Marino é o primeiro vice-presidente do Palmeiras, mas na prática é considerado o principal nome a concorrer à presidência contra Maurício Galiotte, embora diga que ainda não há uma decisão tomada. Afastado da gestão, o agora oposicionista falou ao LANCE! depois da assembleia dos sócios, que confirmou mudanças no estatuto do clube.
Ainda ligados a Paulo Nobre, também rompido com Galiotte, Genaro e outros dois vices (Victor Fruges e José Carlos Tomaselli) trabalharam para que não fosse aprovado o aumento do mandato presidencial nesta próxima eleição - acabaram derrotados. Conseguiram, ao menos, levar de volta ao Conselho Deliberativo a discussão quanto ao número de vitalícios no órgão. Por isso, prefere ver o copo "meio cheio".
Sua preocupação, aumentada depois da assembleia, está nos rumos do clube, que para ele não vive atualmente em uma democracia. Durante a conversa com o L!, disse não ser contra Leila Pereira, patrocinadora e conselheira da Crefisa, mas quer "dar as mãos da forma certa". Veja abaixo os temas conversados com o dirigente eleito.
- Qual a avaliação feita por vocês do resultado da assembleia de sócios?
Eu vejo o copo meio cheio. Não éramos contra o sim, porque participamos desde a gestão do Paulo Nobre de forma direta ou indireta das comissões de estudo de estatuto. Só que a forma como foi colocada na reunião do Conselho Deliberativo não condiz com o que as comissões do estatuto trabalhavam. O item 6 (mudança do mandato presidencial) e item 9 (número de conselheiros vitalícios) não estavam de acordo. E no item 9 tivemos uma votação expressiva; na 6 foram 753 votos, e 756 no 6a (emenda para que o aumento de mandato valesse já nesta eleição), que era nossa intenção de não ser a partir desta gestão, mas sim na próxima, independente do presidente. Defendemos a ética, que achamos que do lado do sim não teve. Mas parabenizo os sócios que foram votar e proporcionaram nos dois itens votações expressivas.
- O que não concordou com a campanha a favor do "sim"?
Colocaram de forma que quem não era a favor também não era a favor da modernidade. Mas o que queríamos era ética em primeiro lugar. Grupos como Fanfulla, Palestra, Verdes Escuros queriam também divulgar aos sócios explicações, como fez a turma do "sim", com festas, pizzas e tiveram acesso à lista dos sócios. Este grupo pediu e não foi atendido. Eu pedi diretamente e foi dito que não poderia (ter acesso à lista de sócios). Não tivemos a mesma força financeira, também, nem os diretores da atual gestão trabalhando, como foi pelo "sim". O trabalho foi muito mais boca a boca, no dia. Esta eleição teve muitas ilegalidades. O "sim" não mostrou que é sim para tudo, ninguém fala sim para tudo. O "não" ali era para se adequar, para voltar ao Conselho. Ninguém é contra modernidade, modernidade é boa. Mas não vimos modernidade na modernidade deles.
- Como você define sua posição neste assunto?
Não somos contra o "sim", nem contra a modernidade, somos responsáveis por toda a modernidade do clube atual. A reforma dos prédios na sede social, o SAP (software de administração integrada de diferentes departamentos no clube). Não vejo como moderno a falta de ética, não permitir grupos chegarem aos sócios, usar a máquina (do governo). Também somos a favor de três anos, isto começou a ser discutido conosco. Hoje a gestão tem mais de 150 conselheiros como diretores. É moderno colocar os conselheiros como diretores? Três anos a partir desta gestão é como mudar a regra durante o jogo. Incomoda o conflito de interesses que faz o Palmeiras correr riscos, um patrocinador forte financeiramente ser conselheiro e ter pressão em tudo. O presidente aceitou isso. Eu fui vice eleito dele, não concordamos com a proposta do seu Mustafá (Contursi), de que (Leila Pereira) era sócia desde 1996, foi registrada em 2015 e não daria tempo de ser votada. Fomos contra e ficamos à margem da gestão. Não somos ouvidos, não há uma democracia.
- Se não era contra a mudança, por que votou contra?
O argumento para aprovar é de que o presidente precisa de temo para administrar o clube sem preocupação política. Mas mudou o tempo só da diretoria executiva, não mudou o tempo de mandato do presidente do CD, do COF. Ou seja, vai ter de perder tempo com política nestes casos, porque é preciso colocar alguém para ajudar a governar. Queríamos discutir e fazer uma alteração só, sem colcha de retalhos.
- Na véspera da votação, apareceu uma imagem do circuito de segurança em que você encontra Mustafá Contursi. O que ocorreu ali?
Pegaram imagens do circuito interno, mostrando um cumprimento ao ex-presidente no café do clube. Sinal de que estão atentos, mas atentos ao Mustafá, que é criador deles, quem colocou (Leila) no clube e apoiou o Maurício. Respeitamos o seu Mustafá, só não compactuamos com sua forma de administrar. Eu converso com todos, com o seu (Luiz Gonzaga) Belluzzo (ex-presidente), com o Seraphim (Del Grande, presidente do CD). Eu sempre fui do clube, sou conselheiro desde a década de 90, fui diretor social junto do Paulo Nobre. Desde a época do Mustafá (que deixou o cargo em 2005) eu convivi com todos os presidentes, vários técnicos de futebol. Eu posso ajudar, e depois de tanto tempo fica à margem porque não concordou da forma não legal que a coisa (entrada de Leila Pereira no Conselho) foi feita? (Nota da redação: Mustafá hoje está rompido com Leila e Maurício, e é provável que apoie uma candidatura de oposição, como pode ser de Genaro, especialmente para aprovação da chapa no filtro do Conselho Deliberativo).
- Com a eleição se aproximando, o que acontecerá politicamente?
Eu não quero tumultuar o Palmeiras, mas não posso deixar de cuidar como gestor eleito, responsável e cobrado por um grupo que não é maioria, mas é representativo. A árvore foi plantada e agora é hora de cuidar do fruto, que vem sendo desperdiçado. E este desperdício faz a gestão de uma forma ou outra encobrir isso, como foi a mudança do contrato (da Crefisa) ilegal no fim do ano. Alguns nem sabem o que passou. Agora querem tirar do COF (Conselho de Orientação e Fiscalização) sua própria função, de analisar e orientar os contratos. O COF, que é técnico, analisa contas, dizem que está errado e é político. E estão levando para o CD, que é político. São mais de 100 conselheiros diretores. Lá tem capacidade de aprovar (as contas), mas está certo? O contrato alterado tinha de ter sido discutido antes, não depois. Qualquer desculpa agora será arranjo. A causa básica foi o erro. É difícil ser eleito, fazer parte de uma gestão e ter que ir às vezes contra o poder. (Nota da redação II: O COF recusou as contas do clube nos três primeiros meses de 2018, por conta dos aditivos nos contratos da Crefisa. A diretoria argumenta que a decisão é política, motivada por Mustafá Contursi, ainda influente no órgão. Por isso, Maurício Galiotte vai convocar uma reunião no Conselho Deliberativo para tratar o assunto. Leila Pereira, por sua vez, afirma que as alterações não vão prejudicar o clube).
- Você, Fruges e Tomaselli chegaram a soltar uma nota de repúdio a Leila Pereira, que respondeu dizendo que o desejo de vocês é ver a Crefisa fora do Palmeiras. Como é a relação com a parceira?
(Quando houve a votação para a entrada de Leila no Conselho) À medida que ele (Maurício) tinha leitura de que tinha que fazer (colocá-la no CD), eu disse "não", porque o ex-presidente Paulo Nobre havia feito um parecer jurídico e deu que ela não poderia ser votada. Ali foi uma opção do Maurício, não culpo a patrocinadora. Se ela gosta e ajuda o Palmeiras, é bem-vinda, é até uma bênção, sabendo que em 2013 e 2014 passamos anos de penúria. Mas não é por isso que acho que temos que desperdiçar. Transformou-se um contrato da noite para o dia em débito retroativo. Não posso aceitar isso como gestor do clube. Não somos contra ninguém, só queremos que se faça o certo.
- Na oposição repetem muito que você será o candidato contra Maurício no pleito do fim do ano. Isto já está certo?
Não, agosto historicamente é um mês de definições políticas no clube, mas agora não importa se é ano eleitoral ou não. A coisa não pode crescer de forma errada. A preocupação hoje é essa. Os grupos estão buscando (nomes), tem uma série de movimentos, mas não fizemos nada para não tumultuar o futebol.
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